O
homem que fazia sinal para meu táxi na calçada carregava uma garrafa e
um violão. Já estava anoitecendo, mas resolvi fazer uma última corrida, o
violão foi o fator decisivo para que eu parasse. Afinal, alguém que
gosta de música merece crédito.
O
sujeito pediu que eu o levasse até a Azenha. Contou que estava
começando um namoro, que resolvera fazer uma surpresa para sua amada:
comprou uma champanha, duas taças, pegou seu violão, ensaiou a música
preferida dela… Faria uma serenata!
Uau, um romântico!
Ao
longo da corrida, o passageiro me contou que sua namorada tinha
terminado seu casamento, mas que o ex-marido não aceitava bem a
separação, continuava a importuná-la. O homem tentava, em vão, voltar
para casa. Visando animar sua querida, meu cliente resolveu fazer-lhe a
surpresa musical.
O
problema é que meu passageiro, apesar de cantar bem, era um músico
iniciante, tinha pouca prática com o violão. Quando falei que tocava
razoavelmente bem o instrumento, o cara implorou-me para ajudá-lo. Quer
saber? Vamos nessa.
Estacionei
o táxi e fomos para o portão da moça - eu de viola em punho e meu
apaixonado cliente com a champanha e as taças. Tasquei os primeiros
acordes da canção e meu parceiro começou a cantar. Logo uma luz se
acendeu na casa - parecia estar funcionando. Meu passageiro empolgou-se e
colocou sentimento na voz.
Felizmente
eu tinha deixado o táxi aberto. Foi só o tempo de jogar o violão pra
cima, me enfiar no volante, dar a partida e arrancar fedendo. O
passageiro, aos berros, mandando eu acelerar!
Por
pouco o marido da mulher não nos alcançou. Ao que parece, ele tinha
conseguido reconquistar a esposa. O homenzarrão saiu pela porta da
frente, só de cuecas, com um cutelo enorme na mão, prometendo partir meu
passageiro ao meio. Por sorte, atrapalhou-se com a chave do portão.
Tempo suficiente para batermos em retirada.
Quando minha mulher perguntou onde tinha conseguido as taças e a champanha, expliquei que era uma gorjeta que fiz por merecer.
Mauro Castro
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