Hoje em dia, o tempo espremido e o excesso de informações e
compromissos trouxeram uma grande dificuldade: a falta de profundidade.
Temos que estar a margem de muitas coisas e isto acaba nos impedindo de
nos aprofundar verdadeiramente em todas elas, ou até mesmo, em quaisquer
uma delas.
Para isso deveríamos abrir mão muitas coisas, mas isso é uma tarefa
muito difícil, pois a sociedade atual acaba nos pressionando a “navegar”
por entre esse excesso de informações. Mas existe um aspecto social
crucial que necessita de profundidade: o outro ser humano.
Cada ser humano é uma entidade única e singular e só concebemos isso a
partir de uma relação mais profunda com os seus propósitos, seu modo de
pensar, sua história de vida e suas maneiras de se relacionar com o
mundo, ou seja, permitir que sua alma nos toque.
Essa dificuldade em adentrarmos o outro nos faz entrar no campo da generalização e rotulação do comportamento alheio:
Quem é o João? Ele é um médico, ateu, machista, vegano e de esquerda.
Quem é a Maria? Ela é uma designer, feminista, lésbica e de direita.
Então desenhamos o perfil dessas pessoas e criamos suas imagens a
partir de nossas próprias considerações dos adjetivos, fazendo que eu
tenha uma simpatia ou antipatia premeditada.
E isso vai além, todas as qualidades e defeitos do rótulo vão
agregadas ao perfil, mesmo que o indivíduo não as possua. Por exemplo: O
João quer se relacionar com uma mulher que dê prioridade aos filhos. Se
em minha análise isso seja uma escolha machista, ele já é classificado
como machista e leva junto todas as minhas considerações em cima do
rótulo.
A Maria está insatisfeita com o governo atual, logo a classifico como
de direita, então ela pode ser tanto coxinha, elite branca,
simpatizante do PSDB, burra e etc, quanto pode ser apenas contra a
corrupção. Depende da minha concepção do que é ser de direita.
Todos os adjetivos do indivíduo, não vem deles, e sim de uma gama de
concepções externas. E vamos além, julgamos uns aos outros em cima
desses rótulos e de nossas pré-concepções generalizadas em cima deles.
Em muitos casos inicia-se uma inquisição em cima dos indivíduos
baseada em aspectos generalizados. Essa inquisição parte de todos os
lados, como se não houvesse possibilidade de sensatez, coerência e
respeito à partir do momento que identifico um aspecto específico que
destoa de minhas ideologias.
Como eu contribuo com isso? Generalizando… julgando o outro por
contextos generalizados. Se não conseguimos atingir o cerne do
pensamento alheio, todo julgamento será baseado em pré-concepções
superficiais de comportamento e pensamentos padronizados.
Isto realmente é algo muito perigoso, pois socialmente já passamos
processos terríveis em cima deste tipo de contexto, como a Escravidão em
relação aos negros, a Inquisição em relação a crenças e o Nazismo em
relação aos judeus.
Hoje ela se mostra em ideologias. O que vc pensa, pode lhe inserir
aqui ou ali em um grupo na linha de fogo, o que fará vc esconder,
ocultar o que vc realmente pensa para evitar ser julgado
premeditadamente. E a máscara social estará em uso, pois somos incapazes
de respeitar ideologias diferentes ou opostas.
Se nos abrirmos ao outro, perceberemos que existe uma profunda
singularidade em cada um, somos muito mais do que rótulos e
generalizações, mesmo que, muitas vezes, tenhamos escolhas e opiniões
similares, alguns comportamentos padronizados e etc…
Respeito leva à liberdade, mas exigir do outro uma conduta e forma de
pensar baseados em uma moralidade específica é inquisição e
aprisionamento.
Leonardo Maia
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