Na seca, salários de prefeitos e vereadores crescem até 272%
Algumas cidades nordestinas convivem com
flagelos paradoxais. Enquanto a população pobre enfrenta os efeitos da
seca, prefeitos e vereadores celebram o aumento de liquidez de suas contas
bancárias. Gestores e legisladores municipais que assumirão em 1º de janeiro
terão reajustes salariais de até 272%. Abaixo, alguns exemplos relatados
pela repórter Silvia Amorim:
- Carira: a cidade fica em
Sergipe. Eleito em outubro, o prefeito Diogo Machado (PSD) receberá
salário mensal de R$ 24 mil. Vitaminada em 71%, a remuneração ficou maior do que
a de prefeitos de cidades como Salvador (R$ 18 mil) e Florianópolis (R$ 19 mil).
Algo que contrasta com o cenário ao redor. Afora a estiagem que castiga a
população de Carira, a prefeitura encontra-se sob intervenção da Justiça para
assegurar o pagamento dos salários dos servidores. Como se fosse pouco, os
vereadores também se autoconcederam um aumento de 100% —de R$ 3 mil para R$ 6
mil. O Ministério Público tenta anular os reajustes. Alega que a prefeitura,
quebrada, viola a Lei de Responsabilidade Fiscal.
- Alagoa Grande: Assentado no
sertão da Paraíba, o município sera gerido pelo prefeito eleito Bôda
(PR). Receberá vencimentos reajustados em 80%: R$ 18 mil por mês. Ali, os
vereadores elevaram também seus próprios vencimentos. Com um tônico de
62%, os contracheques passaram de R$ 3.700 para R$ 6.000. Quanto aos
moradores, recolhem no chafariz da cidade a pouca água disponível. Carregam os
vasilhames no lombo de jegues e em carrinhos de mão. Na zona rural, o
abastecimento é feito por carros-pipa enviados pelo governo estadual.
- Pombal: também localizada na
Paraíba, a cidade assistirá em janeiro à segunda posse da prefeita
Polyana Feitosa (PT). Reeleita, ela receberá um salário 67% mais gordo: R$ 20
mil mensais. Em novembro, a prefeitura de Pombal pediu Socorro ao governo do
Estado para pagar carros-pipa que levam água a comunidades rurais ao custo de R$
5 mil por mês.
- Arneiroz: Fica no Ceará. Reeleito, o
prefeito Monteiro Filho (PMDB) receberá depois da re-posse de janeiro
contracheques com 272% de aumento. Receberá 11.900. Sob a alegação de falta de
caixa, a prefeitura suspendeu uma bolsa-auxílio que pagava a estudantes. Coisa
de R$ 250.
Rogério Rodrigues a Silva, presidente da
Abracam (Associação Brasileira das Câmaras Municipais), defende
os reajustes. “O vereador é um político diferenciado em termos de obrigação
se comparado a outros parlamentares. Ele está na base. Além de legislar, ele faz
prestação de serviços à população, principalmente nas cidades pequenas”,
diz.
Vereador há 30 anos na cidade mineira de
Coromandel, Rogério acrescenta: “Por experiência própria, eu digo que, quanto
menor a cidade, mais difícil ser vereador. A cobrança é grande. As aflições da
população são as nossas aflições.”
Leia a reportagem na íntegra clicando aqui
Fonte: Jornal O Globo
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