(…) E depois, lentamente, as uvas irrompem, iluminam-se e ganham forma de mulheres redondas. São mulheres tintas e mulheres brancas aos cachos enfeitando a planura. Para as uvas ficarem mais doces, um silêncio de açúcar percorre a vinha toda. E da secura dos torrões e do azul do céu aparecem bichos e pássaros à procura de um qualquer bago maduro.
(…) O vinho tem palavras frutadas dentro dele. São adjetivos superlativos de superioridade, são verbos de tentação, substantivos brancos, exclamações tintas. O vinho é um diálogo entre um homem e a sua raiz.
Quem nunca pisou uma vinha e nunca entrou numa adega está incompleto. Falta-lhe ir a montante da seiva, perceber a complexidade, deixar entranhar o perfume, absorver o percurso todo.
Uma garrafa de vinho tem corpo de mulher. Observar a forma, passar os dedos pelo vidro, recitar o rótulo, sacar a rolha, encher o copo, são os preliminares de um absoluto contentamento gustativo (…)”
Vitor Encarnação
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