Vejam o lado ruim e o lado bom de ter uma coluna num jornal.
As pessoas publicam numa rede social (tipo Facebook) posts falando de
literatura, música, cinema, etc. Publicam na rede e são lidos por milhares,
dezenas de milhares, seja lá quanto cada um tenha. (Não se sabe: são números
tão pouco confiáveis quanto os dos famosos livros numerados, dos famosos CDs
numerados; nunca se saberá quantos foram feitos.) Já um sujeito que tem coluna
no jornal se dirige de outro modo a esses seus leitores de ponto-de-ônibus.
Digressão: existe um Arquétipo do Inconsciente Jornalístico
segundo o qual todo artigo de jornal é lido num ponto-de-ônibus, sob sol escaldante
ou chuva torrencial, e tem que ser lido até o fim para pagar a tinta e o papel
que o tornaram legível. Um livro é lido numa sala à meia-luz, com música suave
ao fundo, um vinho, um momento-gurmê qualquer. O artigo de jornal tem que
brigar com a fila do banco, a espera do busão, a contagem regressiva no
dentista. Tem que se sobrepor a tudo isto.
Então, vamos, em primeira mão. (Depois do jornal vai para o
blog, depois vai para as redes sociais.)
1) “Autores que nunca li”: Leon Tolstoi, William Faulkner,
André Malraux, Homero, Virgílio, Ovídio, Dante... A lista é heterogênea, mas
lembro de muitas ocasiões em que pairava uma sensação de “ou lê Fulano ou não
merece conversar com a gente”.
2) “Não sinto vontade de ler”: Eu tenho umas
birras literárias do tipo “jamais lerei Fulano”, mas são birras, podem ser
juridicamente pisoteadas de acordo com minhas venetas. Posso ler qualquer autor; prioridades são outra coisa.
3) “Não conheço ninguém que tenha lido, mas eu amo”: eu
poderia falar no poeta-cientista Miroslav Holub, mas quem mo trouxe foi mestre
Régis Frota. Digamos então R. A. Lafferty, que nem o pessoal da FC conhece
direito.
4) “Último que li”: Good Omens (Terry Pratchett e Neil Gaiman). A
saga do Anticristo como se fosse escrita por Douglas Adams e filmada pelo Monty
Python.
5) “Leria tudo de novo”. Espero ainda reler por inteiro cada
história que já li de Guimarães Rosa.
6) “Autores que tocaram meu coração”:
gente que me emociona até hoje, mas nunca entrou no cânone literário: A. J.
Cronin (Anos de Ternura, A Cidadela), Giovanni Guareschi (as histórias do
Padre Don Camilo e do comunista Peppone), Anne Frank, Conan Doyle, Maurice
Leblanc.
7) “Todo mundo gosta, menos eu”: é o mesmo caso da
pergunta 2. Em princípio, ninguém é indigno de mim como leitor. Não por falta
de autoestima; é que um leitor também não deve se valorizar demais. Leitor tem
que ser capaz de se misturar com qualquer gentona ou gentinha.
8) “Uma indicação”: Raymond Queneau.
8) “Uma indicação”: Raymond Queneau.
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
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