No Brasil, como ensina o professor Pedro Malan, até o passado é incerto. Há três meses, 75% dos brasileiros se diziam insatisfeitos com o país e exigiam mudanças urgentes, mas hoje, quando todos os indicadores econômicos, que já eram ruins, pioraram ainda mais, o desejo de mudança se transformou na liderança folgada dos situacionistas Dilma (PT), Alckmin (PSDB) e Pezão (PMDB). Vai entender. Será que eles mentiram aos pesquisadores? Ou eram felizes e não sabiam? Ou gostavam de sofrer? Ou o medo do desconhecido é maior que a esperança no futuro?
Mas como mudar, se nenhum governante municipal, estadual ou federal jamais reconhece seus erros, atribuindo-os sempre a outros, a conspirações políticas ou a circunstâncias adversas? Sem reconhecê-los, como corrigi-los?
Quem está na chuva é para se queimar, dizia o folclórico presidente corintiano Vicente Matheus, mas na fogueira eleitoral, além de sonhos e reputações, a razão é a primeira a arder. Mentiras, golpes baixos e jogo sujo são o motor das campanhas, um vale-tudo sem limites na luta pelo poder que deve envergonhar a todos que não acreditam, como Lula, que vergonha é perder eleição.
Uma das piores consequências da selvageria das campanhas para conquistar, radicalizar e fidelizar os eleitores é criar condições para que cada um expresse os seus piores sentimentos, os mais covardes e abjetos, contra os adversários eleitorais, fazendo da política mais um estimulo ao ódio, à inveja e ao ressentimento entre indivíduos do que um espaço de discussão democrática. Não há razão que sobreviva quando os marqueteiros usam seus ilimitados recursos para inflamar as emoções mais primitivas dos eleitores.
E depois os eleitos que se virem e os eleitores que se danem, os gênios da comunicação e da estratégia vão para casa mais ricos e partem para novas campanhas em que a razão será a principal adversária a ser derrotada.
Mas é com a razão que os eleitos vão governar, que a oposição vai criticar e fiscalizar, ou com o que restar dela, depois de quase exterminada pelas emoções baratas que custarão caríssimo ao país, e a cada um.
Nelson Mota (O Globo)
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