quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A Internet do bem e a Internet do mal

Sob pena de acabar com a liberdade de expressão que a Internet atualmente oferece, é muito difícil estabelecer regras que cerceiem totalmente o uso feito de modo errado.

Nas últimas semanas, a imprensa mundial vem discutindo dois exemplos muito diferentes do uso da Internet para alcançar mudanças políticas. Em um caso, a Internet é veículo de denúncia da intolerância; no outro, é plataforma de apologia da violência.

Uma Menina

O primeiro exemplo é o da jovem paquistanesa Malala Yousafzai, que acaba de ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Em 2009, quando tinha apenas 11 anos, Malala começou seu ativismo online. Ela escrevia um blog anônimo, um diário eletrônico que relatava o cotidiano da vida de uma menina que queria continuar estudando em áreas sob o controle do Talibã. Escrito em linguagem infantil – e por isso mesmo emocionante –, o diário de Malala relatou como o simples ato de ir à escola tornou-se primeiro subversivo e depois proibitivo.

Em 2012, o atentado contra a sua vida, por militantes do Talibã que a acusavam de promover o secularismo, alçou-a a símbolo global de resistência à intolerância e ao fundamentalismo. Vivendo agora na Inglaterra, criou o Fundo Malala para apoiar a educação de meninas.

Um Grupo Terrorista

O exemplo oposto é o do Estado Islâmico e suas estratégias para driblar as restrições de plataformas como Facebook e Twitter, que apagam contas e conteúdos relacionados a atividades terroristas. Essas estratégias vão desde ameaçar de morte os empregados do Twitter, até pegar carona nos assuntos mais populares na Internet (e que não têm nada a ver com o Estado Islâmico) para gerar visibilidade.
No caso de Malala, a Internet é usada como instrumento para empoderar atores cujas vozes são cerceadas em contextos autoritários. No caso do Estado Islâmico, o mecanismo é o mesmo, mas o resultado é a apologia da violência e da intolerância.

Sob pena de acabar com a liberdade de expressão que a Internet atualmente oferece, é muito difícil estabelecer regras que cerceiem totalmente o uso feito por grupos como o Estado Islâmico. Mas os próprios usuários podem ajudar a vencer a guerra de ideias que tomou conta da Internet. É o que fez um grupo de muçulmanos que lançou recentemente a campanha #Notinourname (#nãoemnossonome), para diferenciar-se do Estado Islâmico e criticar as suas práticas.

A Internet em si não é boa e nem ruim, e portanto não existe a Internet do bem e a do mal. É um espaço que permite a confrontação de ideias e que possibilita o encontro daqueles que pensam de maneira parecida, mesmo que nunca tenham se visto e jamais se encontrem. Essas novas redes serão o que nós quisermos que elas sejam.


Marisa Von Bülow

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