sábado, 18 de outubro de 2014

A primeira arma da guerra é a mentira

Esta não é uma guerra de posições, como diria Gramsci. Esta é uma guerra de extermínio. E a primeira arma da guerra é sempre a mentira.
 
A propaganda é a alma do negócio. Mais do que isso, como mostrou o Dan Draper de Mad Man, a propaganda pode ser um negócio sem alma.
 
No tempo da inocência, ela se limitava a estimular desejos de consumo ou a comparar qualidades de refrigerantes, sabonetes ou cereais matinais. A mais furiosa das críticas à propaganda era que ela estimulava o consumismo desenfreado ao criar necessidades inexistentes. Milhões de almas puras sucumbiram à sedução do consumismo, e ainda que isso tenha feito girar a roda da economia, no imaginário moral a propaganda ficou estacionada no purgatório dos vícios da sociedade.
 
Entre as formas de mistificação presentes na sociedade moderna, a propaganda comercial talvez esteja entre as mais inocentes. Até o mais ingênuo dos seres, quando submetido a ela, sabe que alguém está tentando manipulá-lo para achar que um sabão em pó lava mais branco que o outro. E que preferir Omo a Rinso é uma escolha que representa ganhos econômicos para alguém.
 
Depois que descobriram o marketing político e ele se fundiu à ideologia - ainda que usada apenas como excipiente para a mais sórdida fisiologia - como mostra o andamento da atual campanha eleitoral no País, a receita desandou em veneno. Aqui é mais grave, porque trata-se de mistificar fatos que conduzem a escolhas políticas que determinam o futuro de um país. Não se trata apenas de escolher entre dois tipos de sabão em pó, mas entre formas de conduzir, tratar e administrar a coisa pública.
 
Ensinava Jean François Revel, ensaísta, filósofo e jornalista francês: “O que é ideologia? É uma tríplice dispensa; dispensa intelectual, dispensa prática e dispensa moral. A primeira consiste em reter apenas os feitos favoráveis às teses que se defende, inclusive em inventá-los totalmente, e em negar os outros, omiti-los, esquecê-los, impedir que sejam conhecidos. A dispensa prática suprime o critério de eficácia, tira todo o valor de refutação aos fracassos. Uma das funções da ideologia é, ademais, fabricar explicações que justificam e desculpam esses fracassos.
 
Esse era o bom debate intelectual que o filósofo francês travava nos anos70/80, quando no campo de batalha das ideias da Europa o socialismo real agonizante ainda era mantido vivo por respiração artificial pelos partidos gestados no pós guerra, que resistiam a todas as provas empíricas de seu fracasso no mundo real. Até que os fatos se impuseram às lendas.
 
A campanha eleitoral em andamento no Brasil, mostra que a máquina de moer conceitos da propaganda aplicada à política não tem sequer a pretensão de confrontar fatos reais e defender a superioridade de uma política sobre a outra. Os adversários nao existem para ser confrontados, mas para ser aniquilados.
 
Esta não é uma guerra de posições, como diria Gramsci. Esta é uma guerra de extermínio. E a primeira arma da guerra é sempre a mentira.
 
 
Sandro Vaia
Jornalista, foi editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, da Agência Estado e do jornal “O Estado de S.Paulo”. Escreveu “A Ilha Roubada”, (Barcarolla) sobre a cubana Yoani Sanchez e "Armênio Guedes, Sereno Guerreiro da Liberdade

Nenhum comentário: