quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O exemplo da Irlanda

Em função de seu compromisso permanente com a educação de qualidade, [a Irlanda] ocupa o 15º lugar no PISA (Programa Internacional de Avaliação). O Brasil, o 55º
 
Na Irlanda, a batata foi determinante para a história do país até meados do século XIX e ainda tem a mesma relevância do feijão aqui no Brasil. Em 1845, sobreveio a infestação da cultura da batata e o resultado foi destruidor: mais de um milhão de irlandeses migrou para os Estados Unidos (em março, Nova York se colore todos os anos de verde para homenagear Saint Patrick, o Padroeiro da Irlanda), outro milhão morreu de fome, ou vítima de epidemias.

A população da época, próxima aos 8 milhões, jamais foi alcançada. Depois de sua independência, em 1921, a Irlanda continuou ainda a conviver com baixos índices de desenvolvimento econômico e social, até a metade do século passado.

A partir dos anos 60, iniciou um exemplar período de crescimento, calcado na forte articulação entre as agências de ciência e tecnologia e de desenvolvimento industrial e oferta de uma educação de qualidade.

Novos produtos, como os fármacos e medicamentos e as novas tecnologias da informação e da comunicação, ocuparam os lugares mais importantes.

A potato chip foi criada em 1853 por George Crum, cozinheiro norte-americano e, inicialmente foi conhecida como a Saratoga Chip. Somente em 1920, Laura Scudder inventou o recipiente vedado que permitiu a comercialização das batatas e, a partir daí elas começaram a ser chamadas de “potato chips”.

Como os caprichos da língua inglesa permitem, pode-se afirmar que a Irlanda, com o avanço da sociedade do conhecimento, passou das batatas aos chips dos computadores. (“From potatoes to chips”).

Enfrentou uma forte retração em 2008, mas conseguiu superar a crise e voltou a crescer a partir de 2011. Segundo dados da Comissão Européia, sua taxa de crescimento alcançará 1,9% em 2014 e 2,9% em 2015. Apresenta hoje o quinto melhor IDH do mundo, e ocupa um respeitável 15º lugar no mapa da competitividade (nós estamos no 55º).

A indústria irlandesa participa agora com 30% no PIB. O setor de serviços, notadamente os com conteúdo tecnológico, com 68% e a agricultura, outrora determinante para a sustentabilidade do país, com apenas 2%.

Em função de seu compromisso permanente com a educação de qualidade, o país ocupa o 15º lugar no PISA (Programa Internacional de Avaliação), no qual o Brasil está num modestíssimo 54º lugar. Os salários dos professores, mesmo os das classes iniciais, são mais elevados que os da União Européia e muito mais altos que os aplicados por nós. Todos são graduados no ensino superior.

Suas instituições universitárias recebem atualmente mais de 2000 estudantes brasileiros, com bolsas do programa Ciência sem Fronteiras. Na época da “grande fome”, um jornalista do Times escreveu: que “Ainda haverá uma Irlanda, mas uma Irlanda colossal e uma Irlanda situada no Novo Mundo. O que fizemos foi expulsar o povo celta para Oeste: como ele já não estará mais prisioneiro, vai se espalhar entre Nova York e São Francisco”.

De fato, o bravo povo celta foi determinante para o progresso dos Estados Unidos, mas aqueles que permaneceram na Irlanda modelaram uma grande nação, um exemplo para todos nós.


 Paulo Alcântara Gomes

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