Dito
de forma direta, o que quero dizer hoje é: ninguém está nem aí para corrupção
em política. Nenhum estrato social. Nem rico, nem pobre, nem culto, nem
artista, nem inteligentinho. Pega bem dizer que se está, mas é pura afetação de
salão. Coisa de burguês. A prova é que com ou sem Petrobras, no final, será
servida uma grande pizza.
Escândalos
se acumulam (e não me refiro apenas aos bolivarianos atualmente no poder), mas
ninguém está nem aí. Justificativas sustentam toda e qualquer defesa de
políticos ou partidos corruptos ou suspeitos de corrupção. A democracia tem uma
dimensão circense e as eleições são seu clímax.
Sim,
são afirmações céticas. O senso comum pensa que ser cético é duvidar da
existência de Deus. Isso é ceticismo de criança. Qualquer um duvida da
existência de Deus. Quem se leva muito a sério por isso é que é meio bobo.
E
a razão pra ninguém estar nem aí para corrupção é que nossa relação com a
política não é racional, como dizem que é. Somos mais facilmente racionais
quando compramos pão francês do que quando pensamos em política.
"Consciência política" é tão fetiche quanto "carma".
Não
existe essa tal de consciência política, mas sim simpatias, empatias,
interesses, taras, fanatismo que travestimos de "consciência
política".
A
única racionalidade possível na política é a de Maquiavel, que continua sendo o
filósofo da política mais sério até hoje: a razão da política é a conquista e
manutenção do poder a qualquer custo.
Desde
o século 18 e a falsa afirmação de que a política redimirá o mundo (pecado do
suíço Rousseau), abriu-se um novo "mercado" das mentiras políticas:
aquele que diz que a política pode ser "ética".
A
democracia tem uma vocação para a retórica, já dizia Platão. Mas, reconheçamos,
não há regime melhor. Nela, o circo das "escolhas éticas" se acumulam
ao sabor do marketing e das justificativas do que preferimos.
Não
votamos racionalmente. Votamos porque (na melhor das hipóteses) algum candidato
ou partido concorda, mais ou menos, com a "pequena" teoria de mundo
que temos.
Alguns
de nós tem mais tempo e condição de trabalhar suas "pequenas"
teorias. Outros vão a seco e votam em quem eles acham que vai aumentar o poder
de compra deles (dane-se a corrupção) ou quem mais se encaixa na visão de
"um mundo melhor" (maior fetiche da política dos últimos 250 anos)
deles (dane-se a corrupção).
Se
acreditamos que a economia seja uma ciência do comportamento humano que deve
levar em conta coisas como "quem tem o que todo mundo quer ganha
mais" tendemos a crer que devemos levar em conta as "leis de
mercado". Quem crê que devemos "buscar formas mais humanas de
produção e igualdade" não crê nas "leis de mercado", mas sim que
elas foram inventadas pelos que gostam de explorar os mais fracos.
Mas,
como a democracia é um regime baseado numa economia do ressentimento, quem crê
em "leis de mercado" é malvado e quem afirma que elas podem ser
negadas se quisermos fazer o mundo melhor é visto como gente legal.
Se
acho um candidato "fodão", arrumo razões pra votar nele. Se acho que
o Brasil precisa de um modo de vida "x", arrumo alguém que pareça
concordar comigo. Se acho o candidato alguém comprometido com a "justiça
social", ele pode até roubar. Se busco santos, direi: o Brasil precisa de um
choque de sinceridade na política.
A
crença de que exista racionalidade na política é tão necessária para a maioria
das pessoas hoje quanto Deus é necessário para uma porrada de gente. Os
não-religiosos creem que olham o mundo de modo mais racional porque não
acreditam num ser invisível entre tantos outros. Mas, acreditar que exista uma
coisa chamada "consciência política" é também um ato de fé.
Suecos
votam para garantir seu tempo livre. Americanos para defender seu quintal.
Argentinos por masoquismo. Franceses para garantir a aposentadoria. Ingleses já
não sabem se são pós-cristãos ou neomuçulmanos.
E
brasileiros votam porque querem mais Estado nas suas vidas. Mais Bolsa Família
e mais bolsa empresário. Em mil anos rirão de nossa fé na democracia.'
Luiz Felipe Pondé
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