quinta-feira, 19 de junho de 2014

XLIV — A sopa e as nuvens

Minha louquinha bem-amada me dava de almoçar, e pela janela aberta da sala de jantar eu contemplava as moventes arquiteturas que Deus faz com os vapores, as maravilhosas construções do impalpável. E eu pensava, em meio à minha contemplação: "Todas essas fantasmagorias são quase tão belas como os olhos da minha bem-amada, a monstruosa louquinha de olhos verdes."

E de repente levei um violento soco nas costas, e ouvi uma voz rouca e encantadora, uma voz histérica e como que enrouquecida de aguardente, a voz de minha querida bem-amada que dizia: "Você vai ou não vai tomar logo a sua sopa, seu safado de um mercador de nuvens."
 

Charles Baudelaire in Pequenos Poemas em Prosa.

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