quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Coveiros fazem greve em cemitérios de Salvador e suspendem enterros


Por falta de pagamento, os coveiros que trabalham nos dez cemitérios municipais de Salvador e ilhas que pertencem à capital baiana entraram em greve, suspendendo, desde segunda-feira (31), a abertura de covas para a realização de enterros. A categoria alega que há mais de dois meses não recebe salários.

Na tarde desta terça-feira (1º), a Prefeitura de Salvador informou que conseguiu negociar com 30% dos coveiros. Assim, o número de sepultamentos deve aumentar nas próximas horas, embora os atrasos continuem.

Os agentes funerários estão orientando as famílias a deixarem os corpos no Instituto Médico Legal.

"Desde ontem, quando o movimento começou, só consegui fazer um enterro e, mesmo assim, com a ajuda de um parente do morto. Tenho mais dois enterros para fazer, mas os coveiros estão sentados, de braços cruzado", afirmou o agente funerário Alberto Lima Neto.

"Ontem, tive que embalsamar novamente o corpo de um rapaz que tinha morrido de câncer, que já começava a cheirar mal", disse o agente funerário. Nesta terça, ele disse que iria em busca de outro local para tentar o sepultamento.

João Costa, de outra funerária, no bairro Periperi, conseguiu realizar dois sepultamentos após muita negociação.

"Foi uma longa negociação com o administrador do cemitério, que pediu a outra pessoa da prefeitura a liberação de dois funcionários para fazer o serviço. Mas, enquanto a greve não terminar, estamos orientando as famílias a não retirar os corpos do Instituto Médico Legal, ou procurarem um cemitério maior, onde terão que pagar muito mais caro", explicou.

Costa diz que enquanto aguardava para realizar os sepultamentos na segunda-feira, assistiu a uma cena "lamentável". "A família chegou apenas com o motorista da funerária e iria voltar com o corpo porque não tinha coveiro. Conversamos com os rapazes e os convencemos a abrir mais uma cova", conta.

Nos cemitérios públicos de Salvador o serviço é terceirizado: a empresa Alternativa é responsável pela contratação e pelo pagamento dos coveiros.

O município cobra R$ 14,26 para realizar um enterro. Nos cemitérios particulares, o custo médio de um sepultamento é de R$ 7 mil. "Sempre sobra para os mais pobres. A gente ainda está abalada pela morte de um parente e ainda tem que ajudar a jogar terra e colocar o caixão na cova", afirmou Larissa Mendes, que acompanhou o enterro de um parente no cemitério de Itapuã.

A prefeitura reconhece que ainda não pagou a fatura de agosto (valor bruto de R$ 53 mil) porque a empresa terceirizada não apresentou alguns documentos exigidos em contrato. Cada coveiro em Salvador recebe R$ 501 por mês.

A Sesp (Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Prevenção à Violência) informou que exigiu da Alternativa que pelo menos 30% dos coveiros trabalhem normalmente, conforme estabelece a legislação.

"Estamos sendo coagidos pela empresa, mas não vamos ceder. Os poucos enterros que foram realizados aconteceram porque a prefeitura deslocou alguns funcionários para os cemitérios", disse o coveiro José Santana. "Com a greve, pelo menos 20 enterros deixaram de ser realizados", acrescentou.

No cemitério do bairro Plataforma, um único coveiro, que pediu anonimato, tem assegurado a abertura de covas. A categoria não tem vínculo com sindicatos ou associações e, temendo retaliações, o coveiro continua a trabalhar. Na segunda-feira, ele trabalhou em dois sepultamentos quando, geralmente, contabiliza oito enterros por dia.

"Eu tenho família para sustentar", justifica o funcionário, acrescentando que, além de Plataforma, onde está lotado, tem sido levado a outros cemitérios para ajudar nos enterros pendentes.

Procurada, a Alternativa não quis se pronunciar sobre a greve dos coveiros. Funcionários da empresa informaram que os responsáveis estavam participando de uma reunião em Brasília.


Fonte:
Heliana Frazão
Especial para o UOL Notícias
Em Salvador

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