Faixa de abertura e principal destaque do disco que lançou em 1971,
esta balada devastadora funcionou como um rito de passagem na carreira
de Roberto Carlos (1941). Aos 30 anos, ele começava a deixar para trás o
ídolo da Jovem Guarda para se transformar no maior cantor romântico
brasileiro. Sucesso popular imediato e até hoje uma das mais amadas pelo
seu público, a canção também ganhou aplausos unânimes da crítica, que
na época ainda costumava desmerecer e subavaliar a obra de Roberto e
Erasmo.
Mais um fruto da parceria com Erasmo Carlos (1941), a
letra da música, em forma de list song, lembra os pequenos mas tão
importantes detalhes que marcam as lembranças felizes de um amor
passado, mas ainda vivo: “a velha calça desbotada”, “os erros do meu
português ruim”, “o ronco barulhento do meu carro”... e a advertência
irônica “não vá dizer meu nome à pessoa errada”.
Como conta
o biógrafo proscrito Paulo César de Araújo no livro proibido Roberto
Carlos em detalhes, apesar de ter consciência de que acabara de criar um
clássico, movido por seu lendário perfeccionismo, Roberto implicou com a
palavra “ronco”, por sua sonoridade bruta e possíveis outros sentidos
pouco poéticos. E, até entrar no estúdio, testou a letra com diversos
amigos, mas, como ninguém estranhou, o ronco ficou na história da música
brasileira.
Roberto começou a compor “Detalhes” sozinho,
numa noite em março de 1971, em São Paulo, onde vivia na época. No dia
seguinte, ao ouvir o rascunho que gravara, percebeu que estava diante de
algo maior. Animado e ansioso, sem querer perder tempo e o momento da
inspiração, ligou para Erasmo no Rio, que pegou o primeiro voo e naquela
mesma tarde terminaram a canção.
A inspiração e a intuição
de Roberto não falharam. “Detalhes” nasceu clássica e conquistou
instantaneamente todos que a ouviram e, meses depois, abriu o seu álbum
do ano. Um de seus melhores discos, seu poderoso repertório incluía uma
composição que Caetano fez para ele (“Como dois e dois”) e outras
pérolas com Erasmo, como “Amada amante”, “Todos estão surdos” e “Debaixo
dos caracóis dos seus cabelos”, dedicada a Caetano, então exilado em
Londres, mas “Detalhes” foi a que bateu mais forte.
A
gravação de Roberto foi valorizada por um sofisticado arranjo do maestro
americano Jimmy Wisner, e a levada rítmica e a estrutura harmônica de
“Detalhes” lançaram um modelo de canção que depois foi infinitamente
imitado e explorado no Brasil.
(101 canções que tocaram o Brasil, Nelson Motta, Rio de Janeiro: Estação Brasil, 1. ed., 2016, p. 109.)
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