O grande craque Zico nasceu Arthur Antunes
Coimbra. Franzino, logo virou "Arthurzinho" e, em seguida,
"Arthurzico", talvez por influência do pai, português (em alguns casos,
as terminações "-zico" e "-zito" são mais comuns em
Portugal do que no Brasil). De "Arthurzico" para "Zico" foi
um passo, um passico.
Que valor têm aí os diminutivos? Afetivo,
obviamente, o que ocorre nesses e em muitos outros casos. No desconcertante
poema "Para Sempre", Drummond emprega o diminutivo com forte valor
afetivo nesta passagem: "E ele, velho embora, será pequenino feito grão de
milho". Já em "Cidadezinha Qualquer", título de outro dos seus
antológicos poemas, Drummond certamente não empregou o diminutivo com valor
afetivo em "cidadezinha".
Quem diz "paizinho" ou
"mãezinha" decerto não pensa no "tamanho" do pai ou da mãe.
Já quem diz "prefeitinho" não parece disposto a grandes elogios ao
intendente...
Embora a escola nem sempre trabalhe os diversos
valores do diminutivo (o que mais se faz é entupir a garotada de listas e
listas de diminutivos), é mais do que sabido que muitas vezes essa flexão não
indica propriamente o tamanho.
Vinicius de Moraes tinha o doce hábito de chamar
os amigos pelo diminutivo: Tom Jobim era Tonzinho, Carlos Lyra era Carlinhos. E
Toquinho, que já era Toquinho, muitas vezes virava "Toco" na voz do
nosso mais do que querido "Poetinha"...
Já citado, o caso de "prefeitinho" é
evidentemente depreciativo, o que não é "privilégio" das terminações
"-inho" e "-zinho". Em "namorico" e
"padreco", por exemplo, o diminutivo também é depreciativo, mas o tom
de cada um dos exemplos tem a sua particularidade: nos dois casos, o diminutivo
indica a noção de algo sem muita importância, mas, salvo engano, em
"padreco" esse matiz parece um tanto mais forte.
Há também os diminutivos dos quais se perdeu a
noção dessa flexão. Quem é que hoje em dia diz "fascículo" pensando
ou sabendo que isso é o diminutivo erudito de "feixe"? Talvez essa
noção se reavivasse se soubéssemos que "feixe" vem de
"fascis", do latim, o mesmo elemento que dá origem a
"fascismo", nome de uma amaldiçoada ideologia nascida na Itália e
ainda incensada e praticada por muita gente mundo afora, a começar pelo Brasil.
O fascismo foi assim batizado porque o oficial
(chamado "lictor", palavra oxítona) que seguia ou precedia os
magistrados romanos empunhava um feixe de varas. Esse feixe simbolizava a força
do Estado, que, como se sabe, é absoluto em TODOS os regimes totalitários.
Pois é, caro leitor. O diminutivo tem inúmeras e
variadas cores, muitos matizes, aspectos, etc., etc., etc. Às vezes, com um só
diminutivo consegue-se atingir não só um cidadão, mas todos os cidadãos de
determinada classe. Quando se diz, por exemplo, "um juizeco de primeira
instância", não se deprecia só o juiz em questão; deprecia-se toda a
classe, ou seja, todos os juízes de primeira instância. Isso seria diferente,
por exemplo, de dizer "um senadorzeco", que não necessariamente faria
referência (pejorativa) a todos os senadores da República...
Coisas da língua, caro leitor. E, também, coisas
de um paiseco... Epa! Eu disse "paiseco"? Foi sem querer querendo,
como iria o impagável Chaves. Não é paiseco, não. Como se diz há muuuuito
tempo, ninguém segura este país. É isso.
Pasquale Cipro Neto
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/colunaseblogs/pasqualeciproneto/2016/10/1826678-muitas-vezes-diminutivo-nao-indica-propriamente-tamanho-eou-extensao.shtml.
Acesso em: 02 novembro 2016.)
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