Parecia uma corrida como tantas outras, normais, só mais uma mulher bem vestida em um táxi rumo à Zona Sul. A coisa começou a ganhar contornos peculiares quando percebi que minha passageira não estava se maquiando no banco traseiro, na verdade, ela secava suas lágrimas. Um choro silencioso precisa ser respeitado. Deixei quieto.
Chegando em frente à sua casa, em Ipanema, a mulher pediu que eu estacionasse o carro em frente a entrada da garagem. Ela fez questão que fosse bem em frente. Pediu que eu descesse e a acompanhasse até a porta, ela alcançaria algumas coisas para eu levar até um outro endereço. Tudo muito estranho, mas prometeu que eu seria bem remunerado… em tempos de crise.
Ela entrou, deixou a porta aberta, e eu fiquei na soleira esperando, batendo o pezinho, tentando imaginar o que estava rolando, afinal. Não demorou a surgirem as explicações.
Um carro buzinou na rua, alguém querendo entrar na garagem. De dentro da casa, a mulher gritou para eu não tirar o táxi de onde estava, que já me entregaria a encomenda. Na rua o carro buzinando, o motorista irritado, a mulher mandando eu deixar o táxi lá. Comecei a perceber a roubada.
O motorista desceu e veio tirar satisfações. Era o marido da mulher. Eu dei de ombros, estava seguindo ordens. Estava a ponto de apanhar quando a esposa apareceu arrastando umas malas. As coisas do marido. Ela o tinha flagrado com a amante, pegou o táxi e veio juntar as trouxas do homem, não o queria mais em casa.
-- O senhor não precisa mais levar as coisas, meu marido mesmo leva tudo embora. Eis aqui o pagamento pela corrida. Muitíssimo obrigado. Eu assumo daqui -- Disse a mulher, resoluta, as frases firmes como uma rocha.
Os dois ficaram discutindo a relação na porta da casa - perda de tempo, a meu ver, o homem parecia não ter a menor chance com aquela esposa traída. Enquanto isso, eu saía pela tangente com uma bela gorjeta no bolso e um renovado respeito à fidelidade conjugal.
Mauro Castro
Taxista e escritor
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