terça-feira, 30 de junho de 2015

Recentemente, em visita ao sitio do meu tio no município de São Bentinho-PB, pude verificar ali a existência de algumas pegadas fossilizadas na rocha muito sugestivas e assemelhadas a pegadas de animais pré-históricos. Vejam as fotos e tirem suas conclusões:


Tecnologia permite ver o que há na frente de caminhões

O canal da Samsung da Argentina divulgou um vídeo em que mostra uma nova tecnologia de segurança viária para as estradas. Chamada de Safety Truck, o recurso promete tornar mais segura as ultrapassagens sobre caminhões em vias de mão única, permitindo que o motorista do carro de trás veja o que há na frente do caminhão. 

A tecnologia consiste em instalar uma câmera na frente do caminhão e transmitir a imagem a quatro monitores acoplados na traseira da carreta, para que o carro de trás possa identificar o momento ideal para realizar a ultrapassagem.
Até o momento, o Safety Truck foi apenas um projeto experimental e não está mais em fase de testes. A Samsung diz que irá avaliar a aplicabilidade do recurso no mercado futuramente.

Humor: O bêbado na chuva

O bêbado entra em casa cambaleando, erra a porta e vai direto pro banheiro. Sua mulher acorda com o barulho, joga o bebum debaixo do chuveiro e começa a xingá-lo de tudo quanto é nome.
Ensopado, ele diz:
- Tudo bem... (hic) EU sou tudo isso que você tá falando mas, pelo amor de Deus, me deixa entrar que tá chovendo pra caramba aqui fora!

Piadas:http://www.piadas.com.br/

Rir para não chorar

Fazer as pessoas rirem nos dias atuais não é tarefa fácil. Nunca foi, mas já houve tempo em que rir era coisa mais simples, mais corriqueira. Ao contrário, fazer chorar, anda facílimo. A vida anda triste. No futebol, alegria do povo, como se dizia antigamente, esta essa lástima. Da política nem se fale. O custo de vida, a inflação, o preço do tomate, da cebola, nos faz verter lágrimas. Apesar disso, ou por isso mesmo, é que quando acho graça de alguma coisa, alguma anedota, gosto de passa-la a diante num gesto generoso de bondade. Mesmo que a piada seja politicamente incorreta. Para ter graça tem que ser incorreta. Querem um exemplo? Li outro dia que "as espingardas de dois canos são ótimas para abater duplas caipiras..." Sorri. Detesto esse gênero de música. Dirão que é humor  negro. E eu direi que chamar o humor de negro, pode ser considerado uma expressão racista. Onde vamos parar?


Eduardo P. Lunardelli

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Amor de longo alcance

Durante sete anos , separados pelo destino, amaram-se a distância. Sem que um soubesse o paradeiro do outro, procuravam-se através dos continentes, cruzavam pontes e oceanos, vasculhavam vielas, indagavam. Bússola de longa busca, levavam a lembrança de um rosto sempre mutante, em que o desejo, incessantemente, redesenhava os traços apagados pelo tempo.

Já quase nada havia em comum entre aqueles rostos e a realidade, quando enfim, num praça se encontraram. Juntos, podiam agora viver a vida com que sempre haviam sonhado. Porém cedo descobriram que a força do seu passado amor era 
insuperável. 

Depois de tantos anos de afastamento, não podiam viver senão separados, apaixonadamente desejando-se. E, entre risos e lágrimas, despediram-se, indo morar em cidades distantes.


Marina Colasanti 

O Sobrado da Rua Nova

                 
A infância é, segundo os psicólogos, o período da vida de maior importância para a construção de um adulto saudável e feliz. Nessa fase da existência ocorrem fatos que nos acompanham pela vida inteira.

                 Era o ano de 1975. Mal completara sete anos de idade. Meus pais precisavam pintar a casa da Rua Coronel José Fernandes na pacata Pombal, Sertão da Paraíba, quando um tio meu não consanguíneo ofereceu-nos o seu sobrado de número 26 na  Rua Nova (assim chamada pelos habitantes da cidade, apesar do seu nome oficial ser Rua Coronel João Carneiro), região central da cidade, localizado próximo de um belo conjunto arquitetônico formado pelas praças do Centenário e Getúlio Vargas (esta, na sua extremidade proximal, representada pela Coluna da Hora), ainda não interligadas como nos dias atuais; a Igreja de Nossa Senhora do Rosário (construção em estilo barroco e datada de 1721); o Pombal Ideal Clube; a Cadeia Velha; o inesquecível Grupo Escolar João da Mata; o Banco do Brasil e as edificações antigas ou reformadas de casas residenciais e prédios comerciais: uma região repleta de harmonia, magia e onde o coração da cidade pulsa e respira ares de eternidade.

                  De cada lado do sobrado existia um outro de igual imponência. Do lado direito, no térreo da edificação funcionava o carinhosamente chamado Bar Morcego ─ homenagem dos clientes ao dormitório existente no andar superior e habitado, como o nome sugere, por enorme quantidade de  morcegos. O bar era um sucesso, por assim dizer, atraindo parte dos jovens pombalenses que acorria ao local principalmente nos fins de semana. Além de bebidas, tinha também sinuca e tira-gostos. Para diversão dos freqüentadores ocasionais e os pinguços assíduos, as conversas giravam em torno do trinômio: mulher, futebol e bebida. Talvez política e outros assuntos mais. Do lado esquerdo, a casa de dois pavimentos do senhor Joaquim Assis abrigava no térreo uma oficina de conserto de motores. O andar de cima, local de residência do proprietário, era tido por alguns como mal-assombrado. Por ele morar sozinho e o aspecto relativamente sombrio da edificação antiga acabaram despertando a já muito aguçada curiosidade dos habitantes que, vez por outra, cogitavam a possibilidade do local ser habitado por alguma alma penada.

                  Apreciava em especial dois momentos do dia: o início da manhã, quando acordava e já me dirigia à varanda do prédio para contemplar a claridade ainda incipiente e ouvir os passarinhos (pardais, andorinhas e até bem-te-vis. Estes em alta na época já que a televisão veiculava uma propaganda, em desenho animado, de margarina do mesmo nome) que comemoravam comigo o despertar do novo dia; e o fim de tarde, vendo o movimento de pessoas em torno da Coluna da Hora, sempre querendo subir lá no topo para enxergar melhor a cidade do alto, e por toda a extensão da Getúlio Vargas que se estendia em direção à Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Lembro-me com nitidez de uma dessas tardes em que os feras pombalenses, muitos residentes em cidades maiores, comemoravam com muita alegria, entusiasmo e descontração  a aprovação no vestibular daquele ano.

                  Estudava no período da manhã. Cursava o segundo ano primário, hoje ensino fundamental menor, no então denominado Grupo Escolar João da Mata. Como gostava de dormir até mais tarde e a escola ficava a poucos metros da minha residência provisória, afeiçoei-me mais ainda àquele sobrado. Gostava da merenda escolar, de olhar o jogo de futebol na “quadra” dentro da escola, de cantar o “Hino Nacional” ─ não me lembro ao certo quantas vezes por semana cantávamos nos corredores da escola, só sei que sabia de cor e salteado, sempre em fila e com a postura de respeito aos símbolos nacionais ─, do jogo de bilas (bolinhas de gude), na frente da escola e debaixo de um enorme pé de castanhola, e das aulas das professoras que se dedicavam com afinco e disciplina para ensinar o melhor que conheciam para todos nós.

                   Logo que cheguei ao sobrado encontrei gibis, já com algumas páginas rasgadas, de Pateta e Michey deixados num canto da sala pelos meus primos que lá tinham estado durante as últimas férias escolares. Ficara encantado há pouco tempo com  a história, num livro do segundo ano primário, lida em sala de aula pela professora Raquel, de um menino chamado Zeca (por não saber ler acabou amassando e jogando no lixo um convite, formulado pelo seu melhor amigo, para um piquenique no fim de semana. Deixou de ir ao passeio e ainda ficou muito chateado com o amiguinho, que não teve culpa no cartório). Como ainda era um leitor iniciante, as revistas em quadrinhos abandonadas e a história contada na sala de aula impulsionaram o meu interesse em leitura levando-me a ser um freqüentador assíduo da única banca de revistas da cidade ─ localizada no calçamento ao pé da Praça do Centenário e em frente ao Banco do Brasil.

                   Conseguia tempo para assistir no televisor da marca Telefunken ─ uma verdadeira “caixa de madeira”, como disse um certo amigo, cheia de válvulas,  de prováveis catorze polegadas, de segunda mão e trazida de Brasília por um tio materno: mas como fazia sucesso! ─ aos seriados  Daniel Boone e Viagem ao Fundo do Mar exibidos nos fins de tarde pela memorável Rede Tupi de Televisão. Sem falar de algumas novelas marcantes como A Barba Azul, Ídolo de Pano e O Machão.

                  Minhas tias, por volta das cinco da tarde, costumavam arrumar a minha irmã, ainda muito pequena, com bastante esmero (vestidinho, calcinha bunda rica, meias, sapatos e um laço no cabelo) e, sob o pretexto de levarem-na  para passear na praça em frente ao sobrado, logo mostravam o seu real interesse: flertar com os rapazes que também transitavam desfrutando o mesmo cenário, os olhares das  moças e o crepúsculo vespertino.

                  Aos sábados, na calçada da Praça do Centenário, a pequena feira de artesanato repleta de utensílios domésticos e brinquedos de criança (como cavalinho, boi, entre outros) feitos de barro e cerâmica e, estacionado ao lado do Cruzeiro, o caminhão da Cobal (Companhia Brasileira de Alimentação) que trazia alimentos de melhor qualidade e inexistentes nas bodegas e  armazéns da cidade, diretamente para a classe social mais abastada. Também se fazia ouvir o anúncio ─ “O palácio das grandes exibições cinematográficas apresenta para hoje...”, veiculado num Opala de cor bege ou no Lord Amplificador com sua “difusora” (projetor de som ou corneta) no Mercado Público ─ do filme do dia a ser exibido no Cine Lux. Foi nesse período que comecei a freqüentar as matinês onde eram projetadas as películas cinematográficas de Tarzan, faroestes de Trinity, Django, Sartana e os longas-metragens melosos de Teixeirinha.

                  A idade da razão, em torno dos sete anos de vida, dava àqueles momentos um maior desfrute do instante vivido. A estadia na residência temporária foi para mim uma experiência de puro deleite, já que mal conhecia outros locais da Terra de Maringá e, sendo assim, poderia ampliar os limites de um horizonte tão estreito e circunscrito à região da nossa moradia.

                  Embora gostasse muito de minha residência, não tive vontade, por  certo tempo, de voltar pra casa “beu”. Provavelmente, foi desse contato ínfimo com o sobrado que nasceu e permaneceu até hoje em mim o gosto por casa de primeiro andar. Desconfio que o meu olhar nunca saiu completamente de dentro daquela edificação de dois pavimentos, na Rua Nova, e do agora longínquo e marcante ano (1975) de minha infância.



                                                                       Adauto F. de Almeida Neto

                                                             [Pombal (PB), 28/08/2007-07/04/2008.]

"Pracas"





Um carro autônomo deveria decidir quem vive e quem morre em um acidente?

Volvo é uma das empresas que trabalha para transformar os carros autônomos em realidade ( Foto Henrik Ottosson/Volvo
Veículo deve sacrificar a vida de ocupantes para não bater em ônibus cheio de crianças? Há mais questões que respostas
As fabricantes de veículos de Detroit, Tóquio e Stuttgart praticamente já sabem como construir veículos autônomos. Até os caras da Google parecem ter resolvido o enigma. Agora vem a parte difícil: resolver se essas máquinas devem ter o poder de decidir quem vive e quem morre em um acidente.
O setor promete um futuro brilhante no qual os veículos autônomos se movem em harmonia, como cardumes de peixes. Isso não poderá ocorrer, contudo, antes de as fabricantes de veículos responderem ao tipo de questão filosófica explorado na ficção científica desde que Isaac Asimov escreveu sua série sobre robôs, no século passado.
Por exemplo, um veículo autônomo deveria sacrificar seu ocupante e desviar em direção a um penhasco para evitar matar um ônibus cheio de crianças?
Leia mais acessando O Globo
Keith Naughton, da Bloomberg News, O Globo

domingo, 28 de junho de 2015

Centenário da Diocese de Cajazeiras-PB


Concelebração Eucarística pelo Encerramento das Comemorações do Centenário da Diocese de Cajazeiras. Preside a celebração Dom Fernando Saburido, da Arquidiocese de Olinda e Recife. 
Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim.

Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente. E adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir… Um beliscãozinho que for, me dê. Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo. Este é o meu alimento!
               Clarice Lispector 






Caetano e o 'mal' uso da crase

Na terça-feira, Caetano Veloso postou nas redes sociais um vídeo no qual corrige uma frase escrita pelo pessoal que trabalha com ele.

O trecho era este: "Homenagem à Bituca". Bituca é o apelido do grande Milton Nascimento. No vídeo, Caetano não se limita a dizer que o "a" não deve receber o acento grave (ou acento indicador de crase). O Mestre dá a explicação completa (e perfeita) da questão.

Aproveito o "barulho" que o caso gerou para trocar duas palavras sobre o tema com o caro leitor. Comecemos pela palavra "crase", que não vem ao mundo como o nome do acento. De origem grega, "crase" significa "fusão, mistura". Ao pé da letra, pode-se dizer que Coca-Cola com rum ou leite com groselha são casos de crase, já que são fusões.

Em gramática, crase vem a ser a fusão de duas vogais iguais, o que ocorre, por exemplo, na evolução de muitas palavras do latim para o português. Quer um exemplo? O verbo "ler". Sim, o verbo "ler". Na evolução do latim para o português, saímos de "legere" e chegamos a "ler", mas antes passamos por "leer" (que, por sinal, foi a forma que se fixou no espanhol, outra língua neolatina). Na evolução de "leer" para "ler", as duas vogais se fundiram numa só, o que caracteriza a crase.

Como se vê, pode-se dizer que ocorreu crase na evolução de "legere" para "ler". Esse caso de crase não é marcado com o acento grave.

Hoje em dia, quando se fala de crase, pensa-se basicamente na fusão da preposição "a" com um segundo "a", que quase sempre é artigo definido feminino (atenção: "quase sempre" não equivale a "sempre"). Quando se escreve algo como "Você já foi à Bahia?", por exemplo, emprega-se o acento grave para indicar a crase que de fato ocorre: a preposição "a", regida pelo verbo "ir" (ir A algum lugar), funde-se com o artigo feminino "a", exigido por "Bahia" ("Gosto muito dA Bahia"; "Ele mora nA Bahia").

No caso da construção corrigida por Caetano ("Homenagem à Bituca"), é óbvio que o acento indicador de crase é mais do que inadequado, já que no trecho só existe um "a", a preposição "a", regida pelo substantivo "homenagem"; por ser substantivo masculino, "Bituca" obviamente rejeita o artigo feminino.

Os erros no emprego do acento grave são muitos e frequentes. Quer uma bela lista? Lá vai: "traje à rigor", "Viajou à convite de...", "carro à álcool/gás", "Vender à prazo", "à 100 metros", "Vem à público", "ir à pé", "sal à gosto", "Vale à pena ir lá", "Parabéns à você", "Atendimento à clientes" etc., etc., etc.

Alguns gênios sugerem pura e simplesmente a eliminação do acento grave. Lamento informar que a língua portuguesa escrita não sobrevive sem esse acento. Uma coisa é "Passei à tarde na casa dela"; outra é "Passei a tarde na casa dela". Quer mais? Veja este trecho de "Eu sei que Vou te Amar" : "...sofrer a eterna desventura de viver a/à espera de viver ao lado teu por toda...". Como você escreveria o "a" de "a espera"? Com acento? Sem ele?

As duas possibilidades são corretas, caro leitor. Com o acento ("...a eterna desventura de viver à espera de viver ao lado teu..."), o sentido é de "viver assim, desse modo, desse jeito". Sem o acento ("...a eterna desventura de viver a espera de viver ao lado teu..."), o sentido é de "viver/vivenciar algo", "viver/vivenciar essa espera, essa expectativa".

Em tempo: como nada é tão ruim que não possa piorar, alguém postou no YouTube o depoimento de Caetano com este título: "Caetano Veloso grava vídeo repreendendo sua própria equipe de internet por mal uso da crase". "Mal uso"? Não seria "mau uso"? Elaiá! É isso.


Pasquale Cipro Neto


Ah, os relógios

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia em for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais um necrológios...


Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.


Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.


E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...


Mário Quintana

Humor


O dinheiro e a bebida 

Quanto paga pela dose de whisky ?
Homem:
- Cerca de R$10,00.
Mulher:
- Há quanto tempo você bebe?
Homem:
- 20 anos
Mulher:
- Uma dose de whisky  custa R$10,00 e você bebe 3 por dia = R$900,00 por mês = R$10.800,00 por ano, certo?
Homem:
- Correto.
Mulher:
- Se em um ano você gasta R$10.800,00, sem contar a inflação em 20 anos você gastou R$216.000,00, certo?
Homem:
- Sim, correto!
Mulher:
- Você sabia que com esse dinheiro aplicado e corrigido com juros compostos durante 20 anos você poderia comprar uma Ferrari?
Homem:
- Você bebe?
Mulher:
- Não!!!
Homem:
- Então, cadê a bendita da sua Ferrari?????
Piadas:http://www.piadas.com.br/

sábado, 27 de junho de 2015

Ode

Eu nunca fui dos que a um sexo o outro
No amor ou na amizade preferiram.
Por igual a beleza apeteço 
Seja onde for, beleza.

Pousa a ave, olhando apenas a quem pousa
Pondo querer pousar antes do ramo;
Corre o rio onde encontra o seu retiro
E não onde é preciso.

Assim das diferenças me separo
E onde amo, porque o amo ou não amo,
Nem a inocência inata quando se ama 
Julgo postergada nisto.

Não no objecto, no modo está o amor
Logo que a ame, a qualquer cousa amo.
meu amor nela não reside, mas 
Em meu amor.

Os deuses que nos deram este rumo
Também deram a flor pra que a colhêssemos 
com melhor amor talvez colhamos 
O que pra usar buscamos.



Fernando Pessoa

Frase

Nenhum juiz tem o direito de bater no peito e dizer que não liga para a opinião pública, porque todo poder emana do povo e em seu nome é exercido

LUIZ FUX, MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Hora do lanche: Torta de cenoura com chocolate


A linda transexual crucificada

O Brasil está acordando para algo que fingia não saber. O país, continuando na mesma batida, terá uns 50% de população evangélica em poucos anos. Muita gente está em pânico porque o país não cabe em seus manuais inteligentinhos, distribuídos em restaurantes étnicos.
Mas o assunto é sério. Vamos por partes. Entendo a ira dos "irmãos". Sentem que o "Cristo com seios" da Parada Gay é um desrespeito à figura santa -um pouco como os muçulmanos se sentem com as charges do profeta Maomé-, ainda que eu esteja seguro de que a bela transexual que fez a performance não quis com isso desrespeitar Cristo, pelo contrário, fez uma releitura teológica da função salvífica de Jesus.
Mas a pergunta que não quer calar é: cadê os inteligentinhos que escreveram artigos na época do "case 'Charlie Hebdo'", dizendo que deveríamos respeitar as religiões e as culturas alheias? Cadê a moçadinha café com leite que disse que a função da mídia é favorecer a integração cultural e evitar conflitos? Cadê os bonitinhos que disseram que os cartunistas não respeitaram o sacrossanto "outro"?
Cadê eles os que não saíram em defesa dos "irmãos" dizendo que não se deve brincar com a fé dos outros? Evangélicos não merecem o mesmo "respeito com o outro" que os muçulmanos? O fato é que essa gente inteligentinha é inconsistente mesmo, a menos que esteja falando de comida peruana. No fundo, são um poço de preconceito contra o cristianismo.
Entendo a ira dos evangélicos porque Jesus não era mulher, muito menos transexual. E eles pensam que "Cristo com seios" é contra sua concepção moral. Além da birra que eles tem com os gays.
Mas, lamento dizer, não concordo. A bela transexual não quis ferir o cristianismo. Sua teologia é consistente com uma tradição recente do cristianismo conhecida como Teologia da Libertação (TL). Cadê a moçadinha da "TL" que não defende essa lindinha?
Vamos esclarecer uma coisa. O judeu Jesus (mais tarde chamado Jesus Cristo) descende do profetismo hebraico. Esta corrente do Velho Testamento (a Bíblia Hebraica ou "Tanach", como falam os Judeus) se constitui em dura crítica social e política ao poder constituído. Esta crítica se sustenta na ética do Deus israelita, pautada pela busca de justiça contra os idólatras do poder dos reis, dos ricos e dos falsos deuses (os ídolos, daí, a idolatria).
Neste sentido, o significado da "libertação" é se colocar ao lado de todos que sofrem com o peso do poder do mundo a serviço da injustiça. A transexual apenas situou sua condição como sendo vítima do ódio do mundo a ela e aos iguais a ela. Fez teologia performática, e, com isso, deu um banho em muita gente com PhD que discute o sexo dos anjos por aí.
O debate, portanto, deve se dar no âmbito do significado do cristianismo e não apenas no âmbito dos "costumes". Se formos fazer uma discussão teológica, seremos obrigados, creio eu, a aceitar que existe sim na tradição cristã, assim como no profetismo hebraico, uma vocação iconoclasta de ferir o status quo e o coro dos contentes.
Entendo que os evangélicos e cristãos em geral se ofendam. Acho que a reação de orar no Congresso Nacional não cabe num estado laico. Mas gostaria de saber a opinião dos inteligentinhos, que sempre se mostram tão sensíveis aos terroristas islâmicos. Cadê a sensibilidade para com o justo mal-estar dos cristãos diante de uma teologia iconoclasta como a da transexual crucificada?
Esse blá-blá-bá de conservador x progressista cabe mais em discussão de centro acadêmico do que em conversa de gente grande. Essa oposição está bem desgastada e, muitas vezes, não dá conta da complexidade de nosso mundo selvagem.
Eu, pessoalmente, além de entender a proposta teológica dela, e achar que ela cabe num debate teológico consistente, achei a imagem de um erotismo selvagem. Sade ficaria de boca aberta. Nietzsche ficaria com tesão. A beleza da crucificada, associada à agonia do seu rosto, põe em diálogo três dimensões vulcânicas do ser humano: o sexo, o medo e a dor. Não vi só Cristo ali. Vi uma deusa em agonia. Essa linda vale uma missa. 
Luiz Felipe Pondé
Eu gosto do sabor intenso das coisas desmedidas. Tudo que é bom, que eu viva em exagero! Mas não é que eu queira morrer de um jeito fulgás. O que eu quero é viver em êxtase!
Augusto Branco

Eu me lembro

Eu me lembro da fonte luminosa da praça Clementino Procópio, de como ao anoitecer famílias inteiras ficavam em volta daquele tanque redondo vendo a coreografia das cores e dos jatos dágua.

Eu me lembro da bala Gasosa, que era redonda, enrolada num papel com uma “asa” apenas para segurar (havia os bombons com duas “asas” de papel enroladinho), tinha um gosto doce e ácido, e em vez de se dissolver diminuindo de tamanho uniformemente se desmanchava por dentro, erodindo e se esburacando como uma pedra-pomes.

Eu me lembro da girafa com três metros de altura que havia na calçada da loja A Girafa, e lembro que quando li o poema surrealista homônimo de Luís Buñuel tive a impressão de que ele a conhecia também.

Eu me lembro da lojinha das Edições de Ouro que abriu perto do Cine Capitólio, um quadradinho com paredes escuras cobertas de livros de bolso, onde eu passava às vezes uma hora, fichando mentalmente livro por livro antes de criar coragem para comprar um, que depois assinalava com as letras “E. O.” na borda inferior.

Eu me lembro da primeira vez em que viajei de carro de boi, com menos de dez anos, num sol de meio-dia, rumo ao sítio Tatu, dos parentes de minha mãe.

Eu me lembro do gosto das castanhas confeitadas que eram vendidas na porta do cinema, antes das matinais de 10 horas dos cinemas aos domingos.

Eu me lembro que eu colecionava uma revistinha chamadas Diversões Juvenis e as telhas do meu quarto eram quadradas, com veios de barro paralelos, então de noite apagavam-se as luzes e um reflexo distante me permitia olhar o teto e imaginar que era uma imensa estante com milhares de lombadas de uma coleção da minha revista preferida, todos diferentes.

Eu me lembro da gente passar noites inteiras jogando Ludo, a batalha daquelas quatro pecinhas coloridas (com quatro times, o verde, o azul, o vermelho e o amarelo) tentando dar a volta ao tabuleiro, sendo abatidas e recomeçando interminavelmente do ponto de partida.

Eu me lembro de quando eu ia para o colégio com um sapato que tinha sido do meu pai, e tinha que botar um pedaço de papelão por dentro porque a sola estava furada.

Eu me lembro da primeira vez em que tive um quarto só para mim, e pude arrumar no pé da parede, em cima de uma tábua, uma fila de livros que eram só meus.

Eu me lembro de como a gente cortava a faixa lateral de uma lata de goiabada, rebatia as bordas com martelo, botava um cabo de madeira, e pronto, era uma espada.

Eu me lembro de quando eu ia ver jogos do Treze nas cadeiras cativas e enfiava num buraquinho do cobogó um papel amassado, e no domingo seguinte a primeira coisa que eu fazia quando chegava era ir ver se o papel continuava lá.

Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Rua do Comércio (Pombal-PB) - O antes e o depois

Arquivo: Verneck Abrantes 

Crônica ou artigo de opinião?

Crônica
A crônica é uma forma textual no estilo de narração que tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano. Por este motivo, é uma leitura agradável, pois o leitor interage com os acontecimentos e por muitas vezes se identifica com as ações tomadas pelas personagens.

Você já deve ter lido algumas crônicas, pois estão presentes em jornais, revistas e livros. Além do mais, é uma leitura que nos envolve, uma vez que utiliza a primeira pessoa e aproxima o autor de quem lê. Como se estivessem em uma conversa informal, o cronista tende a dialogar sobre fatos até mesmo íntimos com o leitor.

O texto é curto e de linguagem simples, o que o torna ainda mais próximo de todo tipo de leitor e de praticamente todas as faixas etárias. A sátira, a ironia, o uso da linguagem coloquial demonstrada na fala das personagens, a exposição dos sentimentos e a reflexão sobre o que se passa estão presentes nas crônicas.

Como exposto acima, há vários motivos que levam os leitores a gostar das crônicas, mas e se você fosse escrever uma, o que seria necessário? Vejamos de forma esquematizada as características da crônica:

• Narração curta;
• Descreve fatos da vida cotidiana;
• Pode ter caráter humorístico, crítico, satírico e/ou irônico;
• Possui personagens comuns;
• Segue um tempo cronológico determinado;
• Uso da oralidade na escrita e do coloquialismo na fala das personagens;
• Linguagem simples.

Portanto, se você não gosta ou sente dificuldades de ler, a crônica é uma dica interessante, pois possui todos os requisitos necessários para tornar a leitura um hábito agradável!

Alguns cronistas (veteranos e mais recentes) são: Fernando Sabino, Rubem Braga, Luis Fernando Veríssimo, Carlos Heitor Cony, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Ernesto Baggio, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis, Max Gehringer, Moacyr Scliar, Pedro Bial, Arnaldo Jabor, dentre outros.
Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola
Artigo de opinião

“Todo jornal e revista têm seus articulistas, fixos ou ocasionais, que colaboram com artigos em que analisam alguma questão da atualidade. O autor toma uma posição diante do tema e tenta nos convencer de seu ponto de vista. Para isso, ele busca exemplos, números, testemunhos, qualquer tipo de argumento que corrobore suas afirmações. A linguagem deve ser cuidada. Nela há uma liberdade maior para achados lingüísticos, um pouco de humor e de ironia, a depender do estilo do articulista.”

(VIANA, Antonio Carlos. Textos argumentativos: ler e produzir. In: _____. Guia de redação: escreva melhor. São Paulo: Scipione, 1. ed., 2011, cap. 17, p. 132.)

“Olho gordo”: uma pequena nota sobre a inveja, o medo e o ódio na televisão

Faz tempo que não escrevo nada sobre televisão. Meu livro Olho de Vidro, publicado em 2011 (indicado em 2012 ao Prêmio Jabuti), me fez perguntar por que as pessoas que veem televisão em geral não o leram (o livro teve duas edições mas, segundo muitos, era muito complicado para quem está acostumado a ver televisão e não tem o hábito de ler).
A resposta está dada. No Brasil a televisão substituiu os livros. Isso não quer dizer que quem vê televisão não lê livros, mas quer dizer que existe uma cultura em que a televisão tem um poder tão incrível que dispensa de outras experiências “intelectuais”.
Não se enganem, a televisão é uma experiência intelectual, uma experiência de conhecimento, só que empobrecida.
No livro eu falava da cultura brasileira da inveja. A televisão mexe com a nossa inveja. Por isso eu usei a metáfora do “olho de vidro”. Não apenas porque essa metáfora explica o lugar da televisão como “prótese de conhecimento”, mas porque o olho de vidro tem a estrutura da inveja. A televisão é um “olho gordo” de vidro.
Nam June Paik. TV is Kitsch, 1996
Nam June Paik. TV is Kitsch, 1996
 A inveja é um tipo de desejo impotente. O invejoso é sempre impotente. Ele olha para quem ele inveja e se sente menor, daí a sua raiva, o seu rancor, o seu ressentimento. Ele gostaria de ser o outro, mas não é. A vida do invejoso é muito triste porque ele não pode fazer nada. Ele não pode ser outra pessoa, ele não pode ser melhor do que é. Mas ele está só delirando, porque ele poderia aprender a se desejar e ser uma pessoa diferente.
O telespectador é aquela pessoa que é orientada à inveja, não ao desejo. Qual a diferença entre uma coisa e outra? É que a inveja faz você imitar o outro enquanto no desejo você pode se inventar. O invejoso não quer ser uma pessoa singular. Em vez de olhar para seu corpo, sua roupa, seu trabalho, sua vida em geral como se fosse uma obra de arte a ser construída, ele se olha como um erro que só pode ser consertado por imitação de um modelo. É esse modelo que ele inveja. Então ele imita.
A imitação faz comprar. Comprar, aliás, já é um ato de imitação. O outro comprou e eu também compro. O outro usa e eu também uso. No extremo, o outro vê um filme, uma novela, e eu também vejo. Assim a pessoa se sente poderosa, fazendo a “coisa certa”, tendo vantagem. Chamei de “desejo de audiência” esse processo de imitação que é o mecanismo social da inveja.
A televisão tenta administrar os afetos das pessoas. A inveja é um afeto bem primitivo. Digo “afeto”, mas não sei se as pessoas entendem bem o que é isso. Um dia eu tento escrever mais sobre. Hoje, vou usar o termo sentimento, porque o sentimento todo mundo entende. Quero dizer com isso que a cada época a televisão administra os nossos sentimentos. A inveja é básica na televisão. É o pano de fundo, o chão, a sustentação da experiência que a gente tem com a TV. Mas hoje em dia outros sentimentos estão em jogo.
 Medo e Ódio
Em nossa sociedade quem quer ter poder usa o medo contra a população. Fala-se de “cultura do medo”. Ela é introduzida todo dia nas casas das famílias por meio da televisão.
As pessoas não sabem como a televisão lhes faz mal. Quem tem preconceito contra maconha, deveria se questionar porque a maconha pode ser uma coisa boa para muitas pessoas. Seria bom tentar entender isso. Mas a televisão, do jeito que ela é usada, não faz bem. Ela tem um efeito de uma droga muito pesada e destrutiva.
Um preconceito não é bom, mas é incrível como as pessoas erram o alvo do preconceito. Porque se fossem usar aquela parte do preconceito que é um fundo de crítica para entender as coisas, deviam usar para entender a televisão. As pessoas não fazem ideia dos malefícios que a televisão causa em suas vidas. Um malefício político, porque de tanto ver televisão são convencidas a ficar em casa trancadas. Veem bandidos na televisão e acham que, diante da televisão, estão a salvo deles. A televisão lhes oferece imagens de crimes e, ao mesmo tempo, oferece a prisão diante da tela dentro de casa. Pensemos se isso não faz sentido.
As pessoas são convencidas diante da tela a pensar que a televisão vai lhes dar tudo o que elas precisam saber. As pessoas que ficam sentadas na frente da tela, não sabem o que está lhes acontecendo. Não sabem que perderam a sua capacidade de entender. Não sabem que simplesmente repetirão o que a televisão lhes deu. Mas erram também porque pensam que a televisão lhes deu alguma coisa de graça, quando é óbvio que a televisão apenas lhes vendeu alguma coisa. E lhes vendeu coisas horríveis como preconceitos. E medo, muito medo, porque sem medo a televisão mesma já não sobreviveria como a indústria e o mercado que ela é.
A tela da televisão é uma vitrine. Isso todo mundo também sabe. Mas é uma vitrine que vende sentimentos. Então as pessoas ficam paradas diante dela se enchendo de inveja e de medo. E isso traz muitas vantagens para a vida como um todo: se as pessoas não tivessem esses sentimentos elas fariam outras coisas da vida e muitas coisas seriam diferentes. Mas a televisão promove a distração e um tipo de relaxamento político. Ao mesmo tempo que promove excitação para o consumo. A televisão é uma prótese também dos sentimentos. Ou seja, ninguém precisa sentir outra coisa senão o que ela propõe sentir. Quem vê televisão, seja novela, jornal, ou reality show, tem que ficar atento quanto ao conteúdo e à forma do que está sendo convencido.
No Brasil atual, o poder tem usado o ódio. E a televisão que é um braço do Estado e do Capital, começa a vender ódio. O solo fértil do ódio é a inveja. O ódio é a concretização da inveja. Por que o ódio é a ação violenta por palavras e atos. Um invejoso compra o ódio sem se preocupar com o preço que paga. Porque, por meio do ódio, ele pode destruir aquilo que ele inveja. E aplacar seu próprio vazio.
As ações do ódio estão em alta no meio televisivo e também nas redes sociais que imitam a televisão (num gesto de multiplicação invejosa…).
Os que gritam contra os meninos de periferia, contra negros, contra transexuais, contra mulheres, contra indígenas, escondem, com seu ódio, uma inveja de fundo. Eles olham o mundo com olhos gordos de vidro.
Na base da inveja há um embotamento subjetivo, uma burrice emocional mesmo. O invejoso é um embotado que não consegue inventar uma vida de desejo. Ele não vê nada, porque usa olhos de vidro. Então ele se realiza por meio da violência porque não consegue ver, nem sentir nada melhor. Ele aprendeu isso diante da tela da televisão.
A gente deveria sentir pena do invejoso, porque ele foi criado no medo. Mas o ódio que é um olho gordo explosivo destrói e, contra ele, só muita ética e muita política.
Por isso, nesse Brasil, temos que tomar outro rumo. Aprender a ver com melhores olhos os outros que sofrem, aprender a olhar mais para si mesmo.
Márcia Tiburi
Texto publicado originalmente na Revista Cult

Humor


Dolorosas injeções de insulina podem se tornar uma coisa do passado para os milhões de pessoas que sofrem de diabetes, graças a uma invenção de pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte (UNC, na sigla em inglês), que criaram um “dispositivo inteligente de insulina” que detecta o aumento nos níveis de açúcar no sangue e secreta doses de insulina na corrente sanguínea quando necessário.

O estudo, que está publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” (Pnas), considerou que o dispositivo indolor reduziu a glicose no sangue de camundongos com diabetes tipo 1 por até nove horas. Testes em seres humanos serão necessários antes que o dispositivo possa ser administrado em doentes, mas a abordagem mostra uma grande promessa, segundo o pesquisador.


A novidade — um quadrado fino do tamanho de uma moeda de um centavo — é coberto com mais de cem agulhas minúsculas, cada uma do tamanho de um cílio. Estas microagulhas são cobertas com unidades microscópicas de insulina e enzimas com sensor de glicose que rapidamente liberam seu conteúdo quando os níveis de açúcar no sangue ficam muito altos.

— Nós projetamos um dispositivo para diabetes que trabalha rápido, é fácil de usar, e é feito de materiais biocompatíveis, não tóxicos — disse o coautor sênior Gu Zhen,professor do Departamento de Engenharia Biomédica da UNC. — Todo o sistema pode ser personalizado para dar conta do peso de um diabético e sua sensibilidade à insulina. Por isso, queremos deixar o dispositivo ainda mais inteligente.

Diabetes afeta mais de 387 milhões de pessoas em todo o mundo, e esse número deve crescer para 592 milhões até 2035. Os pacientes com diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2 avançado tentam manter os níveis de açúcar no sangue sob controle com frequentes picadas no dedo e repetidas injeções de insulina, um processo doloroso e impreciso.


— Injetar a quantidade errada de medicamentos pode levar a complicações significativas, como cegueira e amputações de membros, ou consequências ainda mais desastrosas: como comas diabéticos e morte — disse John Buse, diretor do Centro de Cuidados à Diabetes da UNC Diabetes.

Pesquisadores já tentaram remover a possibilidade de erro humano através da criação de “sistemas de circuito fechado” que ligam diretamente os dispositivos que controlam o açúcar no sangue e administram a insulina. No entanto, estas abordagens envolvem sensores e bombas mecânicas, com catéteres com ponta de agulha que têm que ser presos sob a pele e substituídos frequentemente.

Em vez de inventar outro sistema completamente sintético, Zhen e seus colegas escolheram emular geradores de insulina naturais do corpo conhecidos como células beta. Essas células versáteis atuam tanto como fábricas quanto como armazéns, fazem e armazenam a insulina em pequenos sacos chamados vesículas. Elas também detectam aumento nos níveis de açúcar no sangue e sinalizam a liberação de insulina na corrente sanguínea.

— Nós construímos vesículas artificiais para executar estas mesmas funções usando dois materiais que poderiam facilmente ser encontrados na natureza — disse Jiching Yu, estudante de doutorado no laboratório de Gu.

O primeiro equipamento foi o ácido hialurônico ou HA, substância natural que é um ingrediente de muitos cosméticos. A segunda foi o 2-nitroimidazol ou NI, um composto orgânico utilizado em diagnósticos. Os pesquisadores ligaram os dois para criar uma nova molécula, com uma extremidade que era hidrófila e outra que era hidrofóbica.



O Globo