quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Vossa Excelência é um ladrão!

Comumente não nos dirigimos a uma pessoa idosa utilizando o pronome “você”. De igual modo, não tratamos um adolescente por “senhor”. Via de regra, o respeito, a idade ou o cargo que exerce o nosso interlocutor é quem define a expressão pronominal mais adequada na construção do diálogo entre as pessoas e autoridades.
 
No dia a dia, no trato com as pessoas, costumeiramente utilizamos o pronome de tratamento “você”. Mas, em algumas situações, urge, por questões vernaculares, a necessidade de adoção de tratamentos formais como é o caso dos pronomes de reverência: Excelência (altas autoridades); Eminência (Cardeais); Magnificência (Reitores) e Revendissima (Sacerdotes) dentre tantos outros.
A regra gramatical nos impõe ainda, no tangente ao uso dos pronomes, a precedência do termo “Vossa”, porém, ao usarmos o pronome como vocativo (para chamar, avisar, interpelar) dispensa-se a utilização do pronome possessivo “vossa”, “sua”, “nosso ...”
 
Além do nosso vernáculo, a polidez no convívio com as pessoas deve ser regra cogente a ser observada por todo cidadão, seja ele um homem do povo ou uma autoridade constituída.
Entrementes, tenho identificado com muita frequência no parlamento brasileiro senão uma impropriedade linguística, uma inadequação sonora e contrastante no emprego dos pronomes em nossas Casas Legislativas.  Recentemente, assistindo uma dessas tantas sessões plenárias me ocorreu a observância de um parlamentar, que no afã de sua fala e entusiasmo de seu discurso, se dirigiu a um colega de parlamento proferindo a assertiva: “Vossa Excelência é um ladrão!”.
Ora, Excelência é pronome de reverência, como regra, é utilizado como qualidade de excelente e tratamento de pessoas de alta hierarquia social, indica superioridade e dignidade de primaz.
Por outro lado, o termo ladrão é empregado associativamente àquele que comete fraude, apropriação indébita, que tira algo de alguém, pessoa sem consciência social, aquele que rouba ou furta, de personalidade frágil.  
De certo, a inapropriedade dos termos (excelência/ladrão) nos parece por demais evidente. O que talvez ainda salve a expressão tão comum no nosso parlamento hoje ante a explosão de sucessivos escândalos com o dinheiro público, seja a cruel compreensão de que as Excelências são, de fato, excelentes ladrões!
Teófilo Júnior

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