"Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio".
Sigmund Freud
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
O Inseguro
A eterna
canção: Que fiz durante o ano, que deixei de fazer, por que perdi tanto tempo
cuidando de aproveitá-lo? Ah, se eu tivesse sido menos apressado! Se parasse
meia hora por dia para não fazer absolutamente nada — quer dizer, para sentir
que não estava fazendo coisas de programa, sem cor nem sabor. Aí, a fantasia
galopava, e eu me reencontraria como gostava de ser; como seria, se eu me
deixasse...
Não culpo os outros. Os outros fazem comigo o que eu consinto
que eles façam, dispersando-me. Aquilo que eu lhes peço para fazerem: não me
deixarem ser eu-um. Nem foi preciso rogar-lhes de boca. Adivinharam. Claro que
eu queria é sair com eles por aí, fugindo de mim como se foge de um chato. Mas
não foi essa a dissipação maior. No trabalho é que me perdi completamente de
mim, tornando-me meu próprio computador. Sem deixar faixa livre para nenhum ato
gratuito. Na programação implacável, só omiti um dado: a vida.
Que
sentimento tive da vida, este ano? Que escavação tentei em suas jazidas? A que
profundidade cheguei? Substituí a noção de profundidade pela de altura. Não quis
saber de minerações. Cravei os olhos no espaço, para acompanhar a primeira fase
de ascensão dos foguetes, ver passar os satélites. Olhei muito em redor e para
cima, nada para dentro ou para baixo. Adquiri uma ciência de ver, ou perdi
outras, que não eram ciências, eram artes de vi-ver?
Bom, é verdade que
as circunstâncias não foram lá muito propícias. Houve de tudo, menos sossego.
Quem pôde dedicar-se a certos trabalhos de geologia moral, como dizia o velho
Assis? Mas as circunstâncias nunca foram favoráveis a nada, nenhum progresso
jamais se fez à sombra de copada mangueira. Havia guerra, e daí? Injustiça, e
daí? Explosão de ressentimentos, recalques, revoltas, e daí? Era precisamente o
instante para você afirmar-se, meu velho: ou revelando a sua palavra ou
pesquisando a sua verdade. Mas você se deixou ir empurrado, machucado, embolado,
bola caindo fora do gramado, ou, na melhor, resvalando na trave.
Eu sei
que você cultivou — mas vamos capar essa alienação da terceira pessoa — que
cultivei ótimos sentimentos, isso não há dúvida. Por mim, era tudo compota de
alegria, licor de anjos, flores de ternura na face da Terra. Exagerei tanto
nesse bem-querer universal que, se fosse obedecido, isto aqui se tornaria
insuportável, de tão doce e melenguento. Corrigi mentalmente a aridez do mundo
sem me dar ao trabalho de mover o dedo mindinho para corrigi-la de fato. O que
me dói mais são meus bons sentimentos; envelhecendo, assemelham-se a calos. Ou
pedras. Tão aéreos, como pesam! Devia ser proibido cultivá-los em estufa.
Ora, estou empretecendo demais as faltas do homem qualquer que presumo
ser (não tão qualquer, afinal: tenho meus privilégios de pequeno-burguês, e quem
disse que abro mão deles?). Devo alegar atenuantes em minha defesa. Não nasci
descompromissado com o mundo tal qual é, em seu aspecto rebarbativo. Deram-me
genes tais e quais, prefixaram-me condições de raça e meio social, prepararam-me
setorialmente para ocupar certa posição na prateleira da vida. Meus ímpetos de
inconformismo são traições a esse ser anterior e modelado, em que me invisto.
Donde concluo que preciso reformar-me, antes de reformar os outros.
Como? Procurei fazê-lo este ano? Que significa um ano para reforma de
tal envergadura? Queria eu chegar a 1970 de estrutura nova, que nem edifício
construído no lugar de casa velha? Às vezes me assalta uma espécie de simpatia
criminosa pelas minhas velhas paredes, meus podres alicerces: é tão bom a gente
ser a mula velha que pasta o capim do hábito, ir trotando em silêncio pela
estrada sabida... A burrada moça que se aventure a outras pastagens, entre
abismos. Pensando bem, não perdi meu ano, pastei sem risco. Mas este "pensando
bem" dura um segundo. Quem pode terminar o ano satisfeito consigo mesmo? Quem
não faltou, não se esqueceu de alguma coisa, não perdeu um gesto de ouro, não
renunciou a um ato de grandeza? Agora estou generalizando uma omissão pessoal,
procuro arrimar-me em possíveis faltas alheias. Olha aí esse malandro diante do
espelho, procurando ver outras caras no lugar da sua! Mas é tempo de parar com a
eterna canção — e celebrar: os que não morremos estamos — ó milagre — vivos.
Depressa, o copo, a dose dupla!
Carlos Drummond de Andrade, in 'O
Poder Ultrajovem'
Salário mínimo sobe para R$ 788 a partir de janeiro
Valor representa reajuste de quase 9%. Decreto editado foi publicado ontem no
Diário Oficial da União
O ano novo está chegando e o Diário Oficial da União traz uma boa notícia
para os trabalhadores brasileiros: o salário mínimo terá reajuste de
aproximadamente 9% em 2015. O governo federal editou decreto para regulamentar a
Lei nº 12.382, de 25 de fevereiro de 2011, que dispõe sobre o valor.
Com isso, a partir desta quinta-feira, dia 1º de janeiro de 2015, o salário
mínimo passará de 724,00 para 788,00 reais, alta de quase 9%. O valor diário do
salário mínimo corresponderá a 26,27 reais e o valor horário, a 3,58 reais. O
consultor da Câmara dos Deputados Leonardo Rolim, alerta que ainda poderá ser
feita alguma alteração no número.
O valor anunciado nesta terça é praticamente o mesmo previsto na proposta
orçamentária encaminhada pelo Executivo em agosto, de 788,06 reais. O relator do
Orçamento de 2015, senador Romero Jucá (PMDB-RR), chegou a dizer no início de
dezembro que o valor do salário mínimo seria arredondado para 790 reais, o que
não aconteceu.
A diferença de 2 reais proporcionará uma economia de 752,8 milhões de reais
em relação à previsão de gastos do Legislativo, segundo cálculos de Leonardo
Rolim.
Veja
Feliz olhar novo
"O
grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história. O grande lance é viver cada momento como se a receita de felicidade fosse o
AQUI e o AGORA.
Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove
demais..., mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma
vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma
discussão na ida pro trabalho?
O ano que vai entrar vai ser diferente. Muda o ano, mas o homem é cheio de
imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente
deseja, mas e aí? Fazer o quê? Acabar com o seu dia? Com seu bom humor? Com sua
esperança?
O que desejo para todos é sabedoria! E que todos saibamos transformar tudo em
boa experiência! Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado.
Ele passou na sua vida. Não pode ser responsável por um dia ruim... Entender o
amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passe-o para a
categoria 3. Ou mude-o de classe, transforme-o em colega. Além do mais, a
gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.
Carlos Drummond de Andrade
Drummond
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente...
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Conheça as peculiaridades das vidas privadas
de Napoleão, Lênin, Stálin e Hitler.
O diplomata americano Henry Kissinger uma
vez disse que “o poder é o melhor afrodisíaco” e, pelo visto, ele estava certo.
Confira na lista abaixo a vida sexual de quatro dos homens mais poderosos da
história.
Napoleão
O pequeno grande corso foi um adolescente
calmo e sem grande pulsão sexual, chegando anotar em seu diário que
“[o sexo] é perigoso à sociedade e à felicidade individual do homem”. É
provável que os primeiros relacionamentos do então futuro Imperador da França
não tenham acabado bem.
Napoleão, aos 14 anos, na Escola Militar de
Brienne, era um jovem tímido e sem muitos amigos - sua única amizade era a de
Pierre François Lougier de Bellencour, um jovem nobre homossexual, responsável
por causar-lhe grandes ciúmes. Acredita-se que suas primeiras experiências
sexuais tenham sido com esse moço. Entretanto, quando ambos foram à École
Militaire em Paris e Pierre começou a relacionar-se com outros homens, Napoleão
rompeu definitivamente com o amigo. Foi após esse episódio que a frase acerca do
sexo foi cunhada.
Seu primeiro contato sexual com o sexo
oposto do conquistador aconteceu com uma profissional do sexo de Paris. O
então franzino subtenente foi a um famoso bordel da cidade e procurou por uma
moça com experiência em rapazes inexperientes. Tudo aquilo, segundo o próprio,
não passava de “uma experiência filosófica” e acontecera apenas a título de
curiosidade. Mas a relação não foi prazerosa ao futuro Imperador – fato que o
afastaria do sexo feminino por algum tempo.
Napoleão só voltou a apaixonar-se novamente
no auge de seus 25 anos – a vítima da vez era a cunhada de seu irmão,
Desiree “Eugenie” Clary. A paixão, apesar de desaprovada pela família de
Eugenie, era mútua e ambos trocavam cartas de amor incandescentes.
O jovem Bonaparte, contudo, rompeu o
relacionamento por acreditar que a parceira não o amava o suficiente. A pobre
moça, desolada, encontrou conforto nos braços de Jean B. Bernadotte, futuro
Marechal da França e Rei da Suécia- a dinastia iniciada por Desiree e Jean
continua a governar o país escandinavo até hoje.
Napoleão ainda enfrentaria outra
decepção: foi feito de brinquedo sexual por uma matrona de 40 anos, Madame
Pernon, e apaixonou-se. Ao pedi-la em casamento recebeu escárnio como resposta.
Sim, a vida amorosa do rapaz era um fracasso absoluto.
Mas então apareceu Josephine…
Marie Josèphe Tascher de Beauharnais,
ex-viscondessa de Martinica, cujo marido havia sido guilhotinado durante a Fase
do Terror da Revolução Francesa, era uma sedutora e envolvente viúva que rodeava
os homens mais poderosos da França. Josephine era amante de Paul Barras, o chefe
do Diretório, órgão que governava o país, e conheceu Napoleão, à época General
do Exército do Interior, ao pedir-lhe um favor a seu filho.
O general caiu perdidamente de amores pela
viúva. Pressionado por Barras, ansioso por livrar-se da amante, Napoleão e Marie
Josèphe casaram-se numa cerimônia modesta em Paris, contra as bençãos de suas
famílias.
Beauharnais, no entanto, nunca foi mulher de
um único homem e logo após ver seu marido iniciar uma viagem em campanha pela
Europa, envolveu-se com outros homens. Com o tempo, como não haveria de ser
diferente, os rumores espalharam-se por toda França – Napoleão, perdidamente
apaixonado pela esposa, ignorava.
Mas a vida dá voltas. Durante a campanha
do Egito, o general apaixonou-se e teve um relacionamento breve com outra
mulher, Pauline Fourres. Também, durante sua estada na Polônia, o agora
ditador da França, caiu de amores por outra, a condessa de 19 anos, Anna
Polocka, com quem teve um longo relacionamento e um filho.
Cansado da esposa e com provas de suas
traições, o então Imperador divorciou-se da mulher e arranjou um novo casamento,
dessa vez com uma princesa: a sobrinha de Maria Antonieta, Marie Louise, mãe
de seu único filho legítimo. A aliança forjada com esse casamento provou-se um
erro estratégico, pois ao aliar-se com a Áustria, inimiga histórica da Rússia,
Napoleão viu-se forçado à guerra com essa última, o que selou sua queda. Foi
mais uma vez derrotado pelo amor.
Lênin
O revolucionário russo nunca fugiu de um
rabo de saia e tinha um fraco por mulheres que abraçassem os ideais
revolucionários. Seu primeiro amor foi Nadezhda Konstantina Krupskaya, a
Nadya, uma moça um ano mais velha que ele, fervorosa admiradora dos
trabalhos de Karl Marx. Segundo Nadya, quando ela leu O Capital pela primeira
vez: “[o livro] pareceu música aos meus ouvidos – os expropriadores sendo
expropriados! Meu coração batia tão forte que poderia ser ouvido à
distância”.
Os dois frequentemente eram vistos passeando
enquanto conversavam sobre as mazelas do capitalismo e planejavam uma futura
revolução. Embora o relacionamento fosse próspero, o futuro líder soviético
não contentou-se apenas com Nadya e terminou levando um fora de sua melhor
amiga, a também revolucionária Apollinaria Yakubova.
Quando Lênin e Nadya foram exilados, Lênin
pedira às autoridades para passarem o exílio juntos – pedido que foi prontamente
atendido, com a condição de que se casassem. O casal, após um tour por
diversas prisões, foi finalmente despachado à Sibéria, onde a Sra. Lênin teve
que lutar com diversas doenças que a tornaram estéril e roubaram sua antiga
beleza.
Ao escapar do exílio, Lênin foi a São
Petesburgo, em 1905, promover seus ideais sob um pseudônimo. Lá conheceu uma
jovem aristocrata, rica e divorciada, conhecida por Elisabeth de K. Foi amor à
primeira vista.
Elisabeth promovia encontros de revolucionários
em seu apartamento na cidade e protegeu Lênin das autoridades inúmeras vezes.
Durante a estada dele em Estocolmo, ela o acompanhou e o ajudou em seus
trabalhos. Entretanto, houve um desencontro de interesses: Lênin apenas se
interessava por política, a moça era apaixonada por arte. Romperam.
Dois anos depois, a jovem aristocrata, morrendo
de saudades do antigo amante, foi atrás dele em Paris – onde o líder socialista
morava. Lênin e Elisabeth reataram um relacionamento que durou mais nove
anos.
Enquanto ainda estivesse tendo um caso com
Elisabeth de K, Lênin conheceu outra mulher – que viria a ser o grande amor de
sua vida: Elisabeth d’Herbenville Armand, uma divorciada francesa. A moça
fora morar com os tios em Moscou após o falecimento de seu pai. Lá casou-se aos
18 anos com Alexander Armand, um jovem burguês filho do dono de uma tecelagem,
com quem teve cinco filhos. Cansada do marido, aventurou-se a transar com o
cunhado e, após cansar-se desse também, decidiu abandonar seu lar.
De Moscou, D’Herbenville foi a Estocolmo
trabalhar com a famosa feminista sueca Ellen Key. Foi na Suécia que ela teve
acesso à obra de Lênin e converteu-se numa bolchevique radical e entusiasmada. A
moça, de volta à nação eslava, participou da frustrada Revolução de 1905 e
chegou a ser presa três vezes e exilada na Sibéria, onde fugiu rumo à capital
francesa.
Ao chegar em Paris, sua fama já a precedia, e a
dedicada comunista foi recebida com honras pelo chefe do Partido, Lênin, com
quem teve uma simpatia à primeira vista. O revolucionário impressionou-se com a
inteligência e a sagacidade da moça e não era raro vê-los passando um tempo
juntos. Se Lênin frequentava um café, era certo que Elisabeth também estava
presente.
As afinidades eram muitas – ambos eram
apaixonados por Beethoven e tinham interpretações similares das obras de Marx –
e o amor floresceu naturalmente. Nadya, a mulher de Lênin, também gostava
muito de Elisabeth e não se importava do relacionamento dela com seu marido. Os
três formavam uma relação bem moderna a seu tempo e ficaram juntos até a morte
da francesa, em 1920.
Stálin
A primeira mulher de Stálin foi a georgiana
Ekaterina Svanidze, cujo irmão Aleksandr frequentava o mesmo seminário que o
futuro ditador da URSS – sim, Stálin quase se tornou padre. Eles se casaram em
1903, na Igreja Ortodoxa, por insistência da mãe da moça, embora o tirano já
tivesse abraçado o comunismo. Ekaterina também era muito religiosa: vivia em
oração pedindo a Deus que trouxesse seu marido de volta para o cristianismo,
enquanto Stálin planejava sua vida política no Partido. O casamento gerou um
filho, Yakov.
Apesar de terem pouco contato, Stálin amava
perdidamente sua mulher – por isso, ficou devastado quando ela faleceu em 1910.
Aos portões do cemitério, disse, quase anunciando seus planos futuros:
- Essa criatura amoleceu meu coração de
pedra. Ela está morta e com ela vão meus últimos sentimentos
humanos.
Após um período de luto, os desejos do
bolchevique voltaram a aflorar e, durante a Guerra Civil de 1919, o homem de
aço conheceu Nadya Alliluyeva, a filha de um abastado burguês, muito bonita,
que conheceu o tirano através de seus pais.
A jovem russa tinha apenas 16 anos – Stálin
já passava dos 40 – quando ele tirou sua virgindade. Embora o homem de aço
tivesse mais que o dobro de sua idade, ela achava o fervor revolucionário de
suas ideias algo extremamente romântico. A jovem, apesar dos protestos da mãe,
também se tornou uma bolchevique e casou-se com Stálin num “ato revolucionário”.
Passaram a lua de mel em meio à batalha da cidade de Tsaritisyn – que no futuro
seria rebatizada de Stalingrado.
Com o fim da Guerra, Stálin e Nadya retornaram
a Moscou e a jovem foi trabalhar como uma das secretárias de Lênin. O primeiro
filho deles, Vasily, nasceu nessa época em 1920. Depois tiveram uma menina,
Svetlana, em 1926.
Com o ascender do marido à posição de
Secretário-Geral do Partido Comunista da URSS – o cargo oficial de ditador do
país –, Nadya indignou-se com os privilégios dados à família, que ofendia seus
princípios ideológicos. Para afastar-se de casa, a revolucionária
inscreveu-se na universidade. Lá, descobriu, através de outros estudantes, o que
acontecia na Ucrânia – mais precisamente em Holodomor, onde a fome causada por
seu marido custaria a vida de cinco milhões de cidadãos.
Cada vírgula de indignação de Nadya foi
respondida por Stálin com desprezo, seguido dos mais cruéis insultos. O tirano
já estava tomado completamente pelo poder.
Ainda que não rompido com a mulher de modo
oficial, o ditador procurou conforto nos braços de outras mulheres. A
primeira foi uma serviçal de sua dacha, depois uma bailarina… e assim outras
tantas, incluindo filhas de poderosos: dentre uma de suas amantes estava a filha
de 16 anos de um membro do Politburo, que gerou um filho seu.
Desprezada pelo ditador, Nadya afundou-se na
depressão, até cometer suicídio. O caso foi abafado e a razão oficial da morte
foi tratada como mera apendicite.
Stálin não compareceu ao velório, tampouco
ao enterro da própria mulher, e depositou sua raiva na família dela: sua irmã
Anna foi sentenciada a dez anos de prisão, seu cunhado foi preso e executado;
seu irmão Pavel morreu de infarto ao saber da sentença de Anna e a mulher desse,
Eugenia, acabou presa no lugar do marido.
Hitler
Todo dia 18 de setembro, Adolf Hitler
depositava um buquê de flores no túmulo de Geli, sua sobrinha-amante, que, em
1931, cometera suicídio no apartamento dele, localizado na
Prinzregentenstrasse, em Munique. Tal golpe do destino atingiu terrivelmente o
futuro líder da Alemanha nazista, tanto que Hitler tentou segui-la na morte, mas
seu fiel amigo e secretário Rudolf Hess tomou-lhe a arma da mão no último
instante. Angela Raubal, a Geli, era filha de Angela, irmã de Hitler, e
possuía vinte anos a menos que o futuro Führer.
Eles se conheceram no verão de 1925, quando foi
imposta a ele a proibição de falar em público – o que o obrigou a dedicar-se
exclusivamente à escrita e a retirar-se para as montanhas. Hitler, na
solidão, convidou a irmã viúva para morar com ele e Angela mudou-se da Áustria,
terra natal da família, junto com sua filha, para cuidar do irmão.
Geli tornou-se seu grande amor e Hitler passava
cada segundo de tempo livre ao lado dela. Entretanto, a relação dos dois não era
fácil: o ciúme onipresente dele a sufocava e cortava toda e qualquer liberdade
da jovem – seu inevitável destino foi o suicídio.
Apesar de ser loucamente apaixonado pela
sobrinha, Hitler mantinha relações sexuais com, pelo menos, outras duas mulheres
de identidade desconhecida. O futuro ditador fazia seus encontros íntimos no
estúdio de seu amigo e fotógrafo pessoal, Heinrich Hoffmann, e foi através da
filha desse, Henriette, futura esposa do chefe da juventude hitlerista Baldur
von Schirach, que Hitler conheceu o amor de sua vida, Eva Braun.
A discreta Eva, após a morte de Geli, foi
gradualmente ganhando o carinho de Hitler. Para tanto, obedecia-lhe
incondicionalmente, não fumava na sua presença e apenas dançava em segredo.
Assim como também respeitava seus hobbies: não se opunha a ele passar longos
períodos apenas desfrutando de seus passatempos.
Hitler não era nada conservador em muitos
aspectos e em 01 de março de 1942 disse: “A mulher que tem uma filha
sozinha e decide cuidar dele é, para mim, mais importante do que uma solteirona.
Os preconceitos sociais estão em declínio. A natureza evolui. Estamos no caminho
certo”. Também não era um defensor do casamento e pensava que a humanidade
deveria ser liberta sexualmente.
Antes de chegar ao poder, ao lado de amigos,
Hitler se divertia em festas e comemorações. Com Joseph Goebbels frequentava o
teatro, a ópera e o cinema. Chegou até a possuir casos com atrizes famosas. A
loira, alegre e exuberante Gretl Slezak, filha do cantor judeu de ópera,
Leo Slezak, foi a primeira delas.
Goebbels também apresentara ao futuro Führer
a atriz Leni Riefenstahl, que depois da ascensão nazista ao poder caiu nas
graças de Hitler. Entretanto, curiosamente, tais relações não envolviam sexo
e Hitler costumava dizer que possuíam “aspecto maternal”. O ditador sempre
gostou de, sabe-se lá a razão, estar rodeado de mulheres bonitas.
Ao longo do tempo, com a guerra avançando,
Hitler, que sempre gostara da companhia de mulheres, afastou-se delas e
curiosamente só manteve Eva Braun ao seu lado. A lealdade incondicional de
Eva foi “recompensada” quando os dias do Terceiro Reich chegavam ao fim: Hitler
se casou-se com ela pelos “muitos anos de amizade fiel” em 30 de abril de 1945.
De acordo com a história oficial, o casamento foi seguido de suicídio: Eva com
um frasco de veneno e Hitler com um tiro na cabeça. O episódio representou o fim
definitivo do nazismo.
Spotniks
'O Lobo de Wall Street' é o filme mais pirateado de 2014
Longa de Martin Scorsese com Leonardo DiCaprio lidera top 20 com 30 milhões de
downloads ilegais, segundo consultoria
O Lobo de Wall Street, do diretor Martin Scorsese, foi o filme mais pirateado
de 2014, segundo a Excipio, empresa que monitora downloads ilegais.
Estrelado por Leonardo DiCaprio, o longa é baseado na história real do
corretor de ações Jordan Belfort e causou controvérsia ao ser lançado nos
Estados Unidos há um ano por ter muitas cenas de sexo e de uso de drogas.
O filme foi baixado pouco mais de 30 milhões de vezes neste ano, seguido de
perto pela animação Frozen, da Disney, que teve 29,9 milhões de downloads
piratas.
RoboCop ficou em terceiro lugar, com 29,8 de downloads ilegais. Isso inclui
tanto a versão original de 1987 quanto a mais recente, dirigida pelo brasileiro
José Padilha.
BBC
Indonésia encontra destroços de avião; 40 corpos são recuperadosComentários 9
Autoridades da Indonésia confirmaram nesta terça-feira (30) que foram
encontrados no mar de Java destroços do Airbus 320-200 da AirAsia, desaparecido
no último domingo com 162 pessoas a bordo.
A Marinha da Indonésia informou que mais de 40 corpos foram recuperados no
mar.
Autoridades do país afirmam que o logotipo da companhia asiática foi
identificado em alguns dos objetos localizados no mar, conforme o jornal local
"Detik".
"Por enquanto, podemos confirmar que se trata do avião da AirAsia e o
ministro de Transportes partirá em breve para Pangkalan Bun", na região onde os
destroços foram detectados, disse Djoko Murjatmodjo, diretor-geral da aviação
civil da Indonésia.
As partes do avião foram localizadas no estreito de
Karimata, que separa as ilhas de Bornéu e Belitung, próximo de uma base aérea
que serviu como ponto de decolagem para os aviões que participam da operação
internacional de busca e resgate.
Familiares das 162 pessoas que viajavam no avião se abraçaram e choraram em
Surabaya, de onde o avião decolou rumo a Cingapura, ao ver pela televisão as
imagens de um corpo flutuando no mar em uma coletiva de imprensa em Jacarta.
A confirmação de que os destroços pertenciam ao voo QZ8501 ocorreu horas
depois de as autoridades divulgarem que um pescador tinha encontrado vários
objetos no Mar de Java. Helicópteros e navios foram enviados ao local para
recuperá-los e determinar sua procedência.
"Avistamos cerca de dez objetos grandes e outros muito menores, de cor
branca, que não pudemos fotografar", indicou o oficial Agus Dwi Putranto, membro
da Força Aérea da Indonésia, em entrevista coletiva.
Desvio da rota
O voo QZ8501 da AirAsia havia saído no domingo de Surabaia, na Indonésia, com
destino a Cingapura, onde pousaria duas horas depois, segundo a previsão da
companhia.
No caminho, o piloto chamou a torre de controle e pediu permissão para mudar
a altitude de 32 mil para 38 mil pés para evitar uma tempestade. A alteração de
rota foi aprovada imediatamente.
Porém, dois minutos depois, quando os controladores tentaram comunicar a
autorização para que o avião subisse aos 34 mil pés, não houve resposta. A
aeronave sumiu dos radares e não foi emitido nenhum sinal de socorro.
Estavam a bordo 155 passageiros e outros sete integrantes da tripulação.
Entre eles há 155 indonésios, três sul-coreanos, um britânico, um francês
(copiloto), um malaio e um cingapuriano.
A Indonésia coordena as operações de busca e resgate, com a ajuda da
Austrália, Cingapura, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, Malásia, Nova
Zelândia e Tailândia.
Fonte Uol com agências internacionais
Bosques sombrios e lanternas
Não se pode ensinar as delícias do amor com aulas de anatomia e fisiologia
dos órgãos sexuais. Se assim fosse o livro “Cântico dos Cânticos”, das Sagradas
Escrituras, nunca teria sido escrito. Não se pode ensinar o prazer da leitura
com aulas sobre as ciências da linguagem. O conhecimento da gramática e das
ciências da interpretação não fazem poetas. Noel Rosa sabia disso e cantou:
“Samba não se aprende no colégio…”
Tomei o livro de poemas de Robert Frost e li um dos seus mais famosos poemas.
“Os bosques são belos, sombrios, fundos. Mas há muitas milhas a andar e muitas
promessas a guardar antes de se poder dormir. Sim, antes de se poder dormir.” Li
vagarosamente. Porque cada poema tem um andamento que lhe é próprio. Como na
música. Se o primeiro movimento da “Sonata ao Luar”, de Beethoven, que todos já
ouviram e desejam ouvir de novo, “adagio sostenuto”, fosse tocado como “presto”,
rapidamente – exatamente as mesmas notas! – a sua beleza se iria.
Ficaria ridículo. Porque o “presto” é incompatível com aquilo que o primeiro
movimento está dizendo. O tempo de uma peça musical pertence à sua própria
essência. Eu até já sugeri que os escritores imitassem os compositores que, como
medida protetora da beleza, colocam, ao início de uma peça, uma informação sobre
o “tempo” em que ela deve ser tocada: grave, andante, vivace, mestoso, allegro.
Cada texto literário tem também o seu próprio tempo. Há textos que devem ser
lidos ao ritmo de uma criança pulando corda e dando risadas. Como o poema da
Cecília “Leilão de Jardim”: “ Quem me compra um jardim com flores? Borboletas
de muitas cores, lavadeiras e passarinhos, ovos verdes e azuis nos ninhos?” O
poema inteiro é marcado por essa alegria infantil, saltitante. Quando se passa
para a sua “Elegia”, escrita para a sua avó morta, o clima é outro. Há uma
tristeza profunda. Há de se ler lentamente, com sofrimento: “Minha primeira
lágrima caiu dentro dos teus olhos. Tive medo de a enxugar: para não saberes que
tinha caído.”
Li vagarosamente. O poema pede para ser lido vagarosamente. Terminada a
leitura não me atrevi a dizer nada. É preciso que haja silêncio. A música só
existe sobre um fundo de silêncio. É no silêncio que a beleza coloca os seus
ovos. É no silêncio que as palavras são chocadas. É no silêncio que se ouve
aquela outra voz mencionada por Fernando Pessoa, voz habitante dos interstícios
das palavras do poeta. (Por isso fico profundamente irritado quando alguém fala
enquanto a música é tocada. É como se estivesse a ver uma partida de futebol
enquanto se faz amor…). Passados alguns momentos de silêncio (como o silêncio
que existe entre os dois movimentos de uma sonata) pus-me a ler o mesmo poema de
novo, com a mesma música. E aí, então, no silêncio que se seguiu à segunda
leitura, ouvi um soluço no fundo da sala. Uma jovem chorava. Jamais me passaria
pela cabeça que ela estivesse chorando por causa do poema. Embora ele me comova
muito, minha comoção nunca chegou ao choro. Pensei que se tratasse de um
sofrimento de sua vida privada. Diante de um soluço tudo pára. Agora o que
importava não era o poema, era aquele soluço. “Que aconteceu?”, perguntei. “Não
sei, professor. Esse poema me deu uma tristeza imensa”. Eu quis entender: “Mas
o que, no poema, lhe deu tristeza?” “Não sei professor. Só sei que esse poema me
faz chorar…”
Lembrei-me de Fernando Pessoa: “… e a melodia que não havia, se agora a
lembro, faz-me chorar.” Grande mistério esse: é o que não há que provoca o
choro. Como disse Valéry, vivemos pelo poder das coisas que não existem. Por
isso os deuses são tão poderosos… (Essa jovem, que assim me marcou de forma
inesquecível, pouco tempo depois morreu num desastre de carro. Espero que ela,
no outro mundo, tenha visitado os bosques “belos, sombrios e fundos” de Robert
Frost).
Houve beleza e mistério porque eu não me meti a interpretar o poema. E, no
entanto, a interpretação de textos parece ser uma das obsessões dos programas
escolares. Se o meu propósito fosse interpretar o poema de Frost, para
aproveitar o tempo eu o teria lido um pouco mais depressa, teria desprezado o
silêncio e não teria repetido a leitura. Essas coisas nada tem a ver com a
interpretação. A interpretação acontece a partir daquilo que está escrito, se
devagar ou depressa não importa. Minha primeira pergunta teria sido: “O que é
que Robert Frost queria dizer?” Toda interpretação começa com essa pergunta. É a
pergunta que surge numa zona de obscuridade: há sombras no texto. O intérprete é
um ser luminoso. Não suporta sombras. Ele trás então suas lanternas, suas idéias
claras e distintas, e trata de iluminar os bosques sombrios… Não percebe que ao
tentar iluminar os bosques, dele fogem as criaturas encantadas que habitam as
sombras. Esquecem-se do que disse Bachelard: “Parece que existe em nós cantos
sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante…” O inconsciente é um bosque
sombrio… ( Mês que vem continuamos a conversa…)
Rubem Alves
sábado, 27 de dezembro de 2014
Cultura do Assédio
Hoje em dia fala-se muito em “assédio moral” e em “assédio sexual”. Tais
tipos de assédio não se desenvolveriam tão facilmente se não encontrassem um
clima socialmente propício. O assédio é mais um desses padrões culturais que, em
graus e intensidades diversos, atingem todas as esferas da vida. Por isso,
podemos falar de uma cultura do “assédio”, ou seja, de uma cultura no “espírito”
do assédio em que se desenvolvem as relações humanas, nas quais estão inscritas
a questão “moral” e a questão “sexual”.
Assédio é uma prática antiética de opressão baseada na pressão direta a um
indivíduo. O assediador é aquele que pressiona o assediado a fazer sua vontade.
Ele trata o assediado como um objeto que deve lhe servir.
Que o assediador não seja capaz de ver no outro um sujeito, antes vendo nele
um objeto, não lhe tira a responsabilidade por qualquer de seus atos, mas
explica-se no contexto em que, de algum modo, a grande maioria não coloca para
si a questão do outro. A sociedade do assédio forma pessoas capazes de produzir
o assédio. E de consentirem com ele. É como se surgisse uma autorização
instaurada na esfera social – que cada um introjeta -, a tratar o outro como
coisa, desde que não se valoriza o outro como sujeito de direitos. O assediador
age com o aval da falta de reconhecimento (de respeito e até de empatia) para
com o outro como prática generalizada ao nível da cultura.
As instituições cobram desempenhos de seus indivíduos. Sem pressão a maior
parte das dívidas não são pagas. O Estado cobra impostos e obediência às leis, a
Família cobra ações relativas a papéis de gênero e responsabilidades
financeiras, a Escola cobra sucesso e obediência, o mundo do Trabalho cobra a
produção, a Economia em seu estado atual cobra consumo. A sociedade do assédio é
a rede organizada em torno do desempenho com vistas à manutenção dessas
instituições nas quais pessoas individuais tem chance de se auto-conservarem
apenas se conseguem corresponder ao padrão exigido para a manutenção da
instituição.
Aquele que não corresponde sente-se em falta. A falta é relativa a não
desempenhar algo corretamente. Dela advém a culpa. Nietzsche (1844-1900)
identificava como sentimento de culpa a essa falta plantada em alguém pela
pressão a corresponder a um conjunto de regras opressoras da moral. Não importa
a época, nem o conteúdo dessa moral, o fato é que sempre há uma moral, sempre há
um padrão a seguir e a culpabilização correspondente à impotência para
adequar-se a ela. O mal, neste caso, é sentir-se inadequado. O inadequado faz
qualquer cosia para eliminar a culpa. Sem saber que essa culpa não pode ser
expiada no âmbito da sociedade em que o princípio do desempenho está em
jogo.
Assim é que a sociedade do assédio é a sociedade da culpabilização. O
endividamento que se tornou tão comum em nível compulsivo no capitalismo atual,
é o gesto que busca conter a culpa. O culpado é a vítima que não sabe que é
vítima. É quem paga uma espécie de dívida em abstrato. A sociedade do assédio é
esta que precisa criar mecanismos para cobrar aquilo que ela deseja como
resultado.
É nesse contexto que a publicidade se torna instituição. Ela é responsável
pelo assédio diário dos indivíduos para que desejem, queiram e comprem. Mas ela
não o faz por criar desejos em um sentido genuíno. A publicidade não age na
simples sedução. A sedução não seria tão insistente. A sedução está para Don
Juan, assim como o estupro para a publicidade. A insistência visa o
consentimento da vítima. Mas se trata, no caso da publicidade, de uma violência
que precisa do aval da vítima, ela precisa da adesão, daí que não se trate
exatamente – ou tão somente – de estupro, mas justamente de assédio, um tipo de
violência que esconde a sua violência. No fundo, há o estupro, mas ele está
acobertado por camadas e camadas de acordos culturais ao qual a vítima deve
aderir. O assédio é a violência que se esconde na aparência de impotência para a
violência. Que se mascara no enredamento pseudo-sedutor. Que não deve chegar ao
estupro, que não precisará dele, porque a vítima entregar-se-á facilmente assim
que ela se der conta de que não tem outro jeito. “Relaxe e goze” é a sentença
cínica que avaliza o ato para assediador e assediado dando ganho de causa ao
assediador. Não há desejo nesse “gozo”. A administração do desejo é, na verdade,
a da culpa que impede o real desejo. Assim é que é preciso fingir que o
assediado deseja. Ele precisa crer que tem alguma vantagem. Sem crer nessa
vantagem ele poderia se rebelar e por tudo a perder.
Pressupõe-se uma vítima dócil. Daí que a prática deva parece algo impotente.
O caráter, por assim dizer, pedofílico, de todo assédio, tem a ver com essa
aparência de fraqueza do próprio ato que se dirige a alguém inimputável e que,
de algum modo, precisa consentir com o que se faz com ele.
A propaganda para crianças é, a propósito, um exemplo dos mais cruéis a se
levar em conta nesse caso, pois a infância é o estágio da vida em que as
estruturas básicas da subjetividade estão sendo fundadas. Aquelas que aos poucos
permitirão o discernimento, o julgamento, a reflexão relativa a todas às esferas
da vida. A criança confia no adulto, assim como o cidadão rebaixado a
consumidor, confia na publicidade.
O assediado é vítima, mas sobretudo, ele é sujeito de direito. E é isso que
também deve se procurar esconder para que a cultura do assédio reproduza a si
mesma infinitamente.
Márcia Tiburi
Originalmente publicado na Revista Cult
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Polêmico filme 'A Entrevista' estreia em cinemas americanos
A polêmica comédia "A Entrevista" estreou em alguns cinemas dos Estados Unidos e na internet. As exibições aconteceram depois de um ataque cibernético contra a Sony Pictures, estúdio responsável pelo filme, e de ameaças a salas de cinema que pretendiam colocá-lo em cartaz.
Inicialmente, a Sony cancelou a estreia do filme, que narra a história ficional de um plano mirabolante para matar o líder norte-coreano Kim Jong-un.
Mas após críticas a favor da liberdade de expressão, vindas inclusive do presidente americano Barack Obama, o estúdio reconsiderou e alguns cinemas promoveram sessões à meia-noite para os interessados em assistir ao filme na tela grande.
Centenas de cinemas independentes em várias cidades dos Estados Unidos se ofereceram para exibir o longa, depois que as grandes redes decidiram não exibir devido às ameaças.
Lee Peterson, gerente do Cinema Village de Nova York, disse à agência de notícias Reuters que exibir o filme é uma questão de princípios.
"Obviamente gostaríamos de ganhar dinheiro com o filme, como gostaríamos com qualquer filme, mas é importante se manifestar pela liberdade, liberdade de expressão, liberdade para assistir filmes", disse.
O longa também pode ser visto pela internet apenas nos Estados Unidos, através do website do filme, YouTube e Google Play e pela plataforma de vídeo do Xbox.
Ameaças
Depois de assistir o filme, as reações do público no Twitter foram variadas.
Alguns, como Maximus Clean, Kira Craig, entre outros, adoraram o longa. Alguns até afirmaram que assitir ao longa era exercer um direito à liberdade de expressão.
Outros afirmaram que a polêmica toda não valeu a pena, pois o filme não é tão bom, alguns chamaram de desperdício de dinheiro. Dan Field chegou a afirmar no Twitter que a Sony não deveria ter lançado o filme, não por causa da ameaça, mas porque o longa era "terrível".
A Sony Pictures tinha resolvido não lançar o filme depois de sofrer um grande ataque cibernétrico em novembro, atribuído a um grupo de hackers que se autodenomina GOP (Guardians of Peace - ou Guardiões da Paz, em tradução livre).
Na semana passada o FBI informou que suas análises levam a acreditar que a Coreia do Norte foi responsável pelo ataque. Mas, muitos especialistas em segurança online questionam esta afirmação.
A Coreia do Norte negou que tenha realizado o ataque cibernético contra a Sony Pictures.
O grupo de hackers também ameaçou realizar um ataque terrorista contra os cinemas que exibissem o filme. Depois de muitos cinemas cancelarem o lançamento, a Sony decidiu não lançar o longa.
Depois de muitas críticas, a Sony Pictures mudou de ideia. O presidente da companhia, Michael Lynton, afirmou que a distribuição digital do longa também poderia reverter os prejuízos causados pelo cancelamento.
"Era essencial para nosso estúdio lançar este filme, especialmente depois do ataque contra o nosso negócio e nossos funcionários por aqueles que queriam bloquear a liberdade de expressão".
"Escolhemos o caminho da distribuição digital primeiro para alcançar o máximo de pessoas possível no dia da estréia e continuamos procurando outros parceiros e plataformas para expandir o lançamento."
Fonte aqui
A maravilha da vida é tudo nela ter justificação
Desabafo dum amigo, que não encontra justificação para o seu pecado mortal, que é viver. Viver ao sol, gratuitamente, como um lagarto. Respondi-lhe que a maravilha da vida é tudo nela ter justificação. É, da mais rasteira erva ao mais nojento bicho, não haver presença no mundo que não seja necessária e insubstituível. Que, do contrário, era faltar na terra esta admirável plurivalência, que faz de uma tarde de sol, de trigo e de cigarras o mais assombroso espectáculo que se pode ver. O medir depois a distância que vai da formiga ao leão, da urtiga ao castanheiro, de Nero a S. Francisco de Assis, é uma casuística que não tem nada que ver com a torrente de seiva que inunda o mundo de pólo a pólo.
Foi-se, e à tarde apareceu-me com um belo poema.
Miguel Torga, in "Diário (1938)"
Medo de errar
Zé de Cazuza conta no livro
Poetas Encantadores que encontrou com Pinto do Monteiro e na conversa
Pinto falou que tinha feito uma cantoria dias atrás com Dimas Batista. Zé de
Cazuza perguntou como tinha sido, e Pinto respondeu: “Uma merda. O homem tá com
medo de errar”. E Zé de Cazuza: “Ah, sim. Ele formou-se em Direito.”
Dimas foi um dos primeiros cantadores de viola a ter curso superior. O episódio narrado por Zé mostra a falta de cerimônia entre esses grandes poetas, que conviveram durante a vida inteira, e mostra essa fase de transição entre os cantadores totalmente intuitivos, como Pinto, e os que começaram a se valer de estudo, erudição, educação formal. É a velha oposição entre Romano do Teixeira e Inácio da Catingueira: o desafio estava empatado até que Romano puxou o assunto de Mitologia Grega, coisa que o ex-escravo Inácio não tinha leitura para acompanhar.
É engraçado, mas isso me lembra Vanderlei Luxemburgo, o polêmico técnico atualmente no Flamengo. Ele diz: “O medo de perder tira a vontade de ganhar”. Vanderlei tem uma porção de defeitos, mas ele usa para o futebol um raciocínio bastante correto. Diz ele que se um time empata 5 jogos ganha 5 pontos, sem ter perdido nenhum jogo; mas se ganha 2 jogos e perde 3, ganha 6 pontos. Melhor, portanto, partir pra cima sem medo de perder. Aliás, foi para incentivar essa busca pela vitória que a Fifa decidiu atribuir 3 pontos por vitória, fato relativamente recente, de 1994. (Até uns 20 anos atrás, em competições oficiais, uma vitória dava apenas 2 pontos.)
Voltando à história inicial. Eu não diria que Dimas (a acreditar na versão de Pinto) estava com medo de errar porque se formou em Direito. Acho mais possível que ele tenha se formado em Direito porque tinha medo de errar, e aí não falo daquela cantoria específica, mas do estilo de cada cantador. Existem cantadores reflexivos, que gostam de pensar as coisas bem direitinho, o que em princípio parece ser o contrário da cantoria. Dimas, pelo que já ouvi em gravações, era um daqueles poetas de cantoria lenta, cadenciada, mantendo sempre o embalo sob controle, escandindo as palavras com precisão. O contrário daqueles repentistas que pensam e cantam com tal rapidez que chegam a atropelar as palavras. São dois modos de pensar, dois perfis mentais diferentes, que se refletem no estilo do improviso. Perfeccionismo e cantoria não combinam. Gosto do jeitão de Dimas, que é o de Oliveira de Panelas, de Diniz Vitorino; e gosto de cantador arrojado, acelerado, que parece estar cantando sem pensar, como Louro Branco. Mas são estilos pessoais. Um não conseguiria cantar como o outro, mesmo que quisesse.
Bráulio Tavares
(mundo fantasmo)
Os
autores das duas sextilhas seguintes são respectivamente os cantadores
repentistas Adauto Ferreira Lima e Louro Branco, poetas nascidos em Caruaru -
Pernambuco, em 1949, e São João do Jaguaribe - Ceará, em
1913.
Quando o sujeito envelhece
Quase tudo lhe embaraça
Convida a mulher pra cama
Agarra, beija e abraça
Porém só faz duas coisas:
Solta peido e acha graça.
xxx
Antigamente eu
fazia
Oito meninos brincando
Agora eu só faço um
Se for de barro amassando,
Com um pedreiro do lado
E seis servente ajudando
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
Peru
Já se cogitou em comprar um peru menor, ou substituir o peru por outra coisa. Mas por que ir contra uma tradição familiar? E, afinal, o Natal vem só uma vez por ano.
Aqui em casa o desafio é saber quanto tempo durará o peru. Costumamos receber gente para jantar na véspera de Natal, mas, mesmo com a ajuda de amigos e familiares, nunca conseguimos liquidar o peru de uma vez só. Sempre sobra peru para o dia seguinte, e o dia seguinte, e o dia seguinte... Às vezes chega o Ano Novo e nós ainda estamos comendo o peru do Natal.
Nada nos restos do bicho lembra a majestosa ave que saiu do forno dias antes, cheia de si e de sarrabulho. Sua última aparição na mesa costuma ser na forma de tiras de carne branca ou escura misturadas com arroz, um melancólico risoto de despedida. Adeus, até que enfim, peru. Mas sempre há a possibilidade que ele ainda volte à mesa como croquetes.
Uma vez fizemos uma contagem e descobrimos que havia mais judeus do que cristãos ou góis e ateus no nosso jantar de Natal. Mas nem o esforço concentrado de povos irmãos pode acabar com o peru numa única noite.
Já se cogitou em comprar um peru menor, ou substituir o peru por outra coisa. Mas por que ir contra uma tradição familiar? E, afinal, o Natal vem só uma vez por ano.
Graças a Deus.
Esperando o tri
Você, eu não sei, mas eu custei um pouco a decifrar a linguagem do noticiário sobre os escândalos que se sucedem. Finalmente entendi: “mil” é mil mesmo, “mi” é milhão e “bi” é bilhão. E está todo mundo esperando para qualquer momento a estreia do “tri”, significando trilhão, nas manchetes. Será um marco na historia da corrupção no Brasil, para admiração do mundo. Nenhuma propina, nenhuma conta na Suíça, nenhum desvio de dinheiro revelado até agora ultrapassou a casa dos “bis”. Enquanto não aparece um “tri” nos jornais ficaremos em suspense. Quando será? Vamos lá, corruptos. Só mais um esforço. Pela pátria!
Ficha limpíssima
A ficha do deputado Paulo Maluf foi oficialmente declarada limpa pelo Tribunal Superior Eleitoral. “Acinte” é uma boa palavra, quer dizer provocação deliberada. O que o TSE fez, garantindo o mandato do deputado, que não pode sair do Brasil sob pena de ser preso pela sua ficha, foi um acinte — mas não foi um acinte completo. Para completar o acinte, deveriam ter chamado a ficha do Maluf de exemplarmente limpa, e até explicar suas eventuais manchas. Esta aqui? Cocô de passarinho. Essa outra? Pingo de café... Acinte pela metade é apenas insulto.
Luís Fernando Veríssimo
(Do blog do Noblat)
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
O poder da fantasia
Como se explica que as crianças de hoje, que desde cedo conhecem os segredos do iPad e sabem como nascem, não questionem a vida misteriosa do bom velhinho?
Que mistérios tem Papai Noel? Com certeza mais do que Clarice, e o primeiro é o da onipresença. Como, morando na longínqua Lapônia, consegue estar ao mesmo tempo em tantos lugares? Como, numa única noite e carregando um pesado saco, atende a pedidos do mundo inteiro? E, sobretudo, onde arranja tanto dinheiro para distribuir milhões de presentes, se não consta como sócio de ex-gerentes da Petrobras e nem seu nome apareceu nas listas do ex-diretor Paulo Roberto Costa e do doleiro Youssef, pelo menos até agora? Nada de propinas.
O segredo talvez esteja no fato de que nas estradas por onde ele circula com seu trenó nunca tenha passado qualquer empreiteira brasileira.
Numa época de tanta descrença, como é que o comércio nos propõe acreditar numa figura anacrônica, inverossímil, meio ridícula, rosnando “rô, rô, rô”, com roupa de inverno escandinavo num calor de 50º?
Há anos escrevo sobre o Natal prometendo ser a última vez, porque me repito tanto quanto os costumes desta época: a rabanada, a canção “Noite Feliz”, os amigos-ocultos, os presentinhos, os engarrafamentos, o movimento das lojas, sem falar no dinheirinho compulsório para os porteiros, o mendigo de estimação, o guardador de carro, os entregadores de jornais, de remédio, de pizza, garis e carteiros.
A exemplo dos Natais anteriores, não foi possível cumprir todos os compromissos de fim de ano, já não digo de compras, que minha mulher é quem as faz, mas de atendimento de convites. Parece que todas as noites de autógrafos, todas as exposições, todos os almoços e jantares de confraternização foram deixados para acontecer neste período. Ter que escolher uns em detrimento de outros é uma das aflições desta época. Mas o pior do Natal é sua submissão ao consumo.
Em suma, tudo o que se fala contra o Natal é verdade, mas, apesar dos desvirtuamentos, há nessa festa algo que resiste e que desperta memórias e nostalgias. O que será? Seria o nosso eterno retorno à infância, isto é, à fantasia, ao desejo e ao sonho, por mais antiquado que isso pareça? Como se explica que as crianças de hoje, que desde cedo conhecem os segredos do iPad e sabem como nascem, não questionem a vida misteriosa do bom velhinho?
Alice, minha neta, por exemplo, descobriu dentro do mito o imaginário e a realidade, ou seja, a existência de um Papai Noel de mentira e outro de verdade. O primeiro é o que ela vê, pode tocar, fica parado na esquina ou nos shopping-centers. O de verdade é justamente o que ela não vê, mas é o que ela imagina que de madrugada vai pendurar seus presentes na árvore de Natal — é o que alimenta sua fantasia.
Zuenir Ventura
O Globo
Não é próprio falar sobre os alunos
Gosto de ouvir conversas. Mania de psicanalista. É que nas conversas moram mundos diferentes do meu. Thomas Mann, no seu livro “José do Egito”, conta um diálogo entre José e o mercador que o comprara para vendê-lo como escravo, no Egito: “Estamos a um metro de distância um do outro. E, no entanto, ao teu redor gira um universo do qual o centro és tu, e não eu. E ao meu redor gira um universo do qual o centro sou eu, e não tu”. Fascinam-me esses universos que me tangenciam e que, no entanto, estão distantes de mim. Gosto de ouvir conversas para viajar por outros mundos.
Por vários anos eu viajei diariamente de trem, de Campinas para Rio Claro, no Estado de São Paulo, onde eu era professor na antiga Faculdade de Filosofia. No mesmo vagão viajavam também muitos professores a caminho das escolas onde trabalhavam. Iam juntos, alegres e falantes… Por anos escutei o que falavam. Falavam sempre sobre as escolas. Era ao redor delas que giravam os seus universos. Falavam sobre diretores, colegas, salários, reuniões, relatórios, férias, programas, provas. Mas nunca, nunca mesmo, eu os ouvi falar sobre os seus alunos. Parece que nos universos em que viviam não havia alunos, embora houvesse escolas. Se não falavam sobre alunos é porque os alunos não tinham importância.
Participei da banca que examinou uma tese de doutoramento cujo tema eram os livros em que, nas escolas, são registradas as reuniões de diretores e professores. A candidata se dera ao trabalho de examinar tais reuniões para saber sobre o que falavam diretores e professores. As coisas registradas eram as coisas importantes que mereciam ser guardadas para a posteridade. Nos livros estavam registradas discussões sobre leis, portarias, relatórios, assuntos administrativos e burocráticos, eventos, festas. Mas não havia registros de coisas relativas aos alunos. Os alunos, aqueles para os quais as escolas foram criadas, para os quais diretores e professoras existem: ausentes. Não, não era bem assim: os alunos estavam presentes quando se constituíam em perturbações da ordem administrativa. Os alunos, meninos e meninas, alegres, brincalhões, curiosos, querendo aprender, alunos como companheiros dessa brincadeira que se chama ensinar e aprender —sobre tais alunos o silêncio era total.
Essa ausência do aluno — não do aluno a quem o discurso administrativo das escolas se refere como o “o perfil dos nossos alunos”, nem esse nem aquele, todos, aluno abstrato— não esse, mas aquele aluno de rosto inconfundível e nome único, esse aluno de carne e osso que é a razão de ser das escolas. Ah!, é importante nunca se esquecer disso: alunos não são unidades biopsicológicas móveis sobre os quais se devem gravar os mesmos saberes, não importando que sejam meninos nas praias do Nordeste, nas montanhas de Minas, às margens do Amazonas, ou nas favelas do Rio. Os alunos são crianças de carne e osso que sofrem, riem, gostam de brincar, têm o direito de ter alegrias no presente e não vão à escola para serem transformados em unidades produtivas no futuro. E é essa ausência do aluno de carne e osso que está progressivamente marcando os universos que giram em torno da escola. Os professores não falam sobre os alunos. Na verdade, não é próprio que os professores falem com entusiasmo e alegria sobre os alunos. Os alunos não são tema de suas conversas. Acontece nas escolas primárias (ainda escrevo do jeito antigo porque não acredito que a mudança de nomes mude a realidade…). Mas não só nelas. Lembro-me de uma brincadeira séria que corria entre os professores de uma de nossas universidades mais respeitadas. Diziam os professores que, para que a dita universidade fosse perfeita, só faltava uma coisa: acabar com os alunos… Brincadeira? Psicanalista não acredita na inocência das brincadeiras. Com isso concordam os critérios de avaliação dos docentes, impostos pelos órgãos governamentais: o que se computa, para fins de avaliação de um docente, não são as suas atividades docentes, a relação com os alunos, mas a publicação de artigos em revistas indexadas internacionais. O que esses critérios estão dizendo aos professores é o seguinte: “Vocês valem os artigos que publicam: publish or perish”! Num universo assim definido pelo discurso dos burocratas, o aluno, esse em particular, cujo pensamento é obrigação do professor provocar e educar, esse aluno se constitui num empecilho à atividade que realmente importa. Os raros professores que têm prazer e se dedicam aos seus alunos estão perdendo o tempo precioso que poderiam dedicar aos seus artigos.
“Aquele que é um verdadeiro professor toma a sério somente as coisas que estão relacionadas com os seus estudantes — inclusive a si mesmo”, afirmou Nietzsche. Eu sonho com o dia em que os professores, em suas conversas, falarão menos sobre os programas e as pesquisas e terão mais prazer em falar sobre os seus alunos.
Rubem Alves
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