O significado das palavras deve ser levado em conta no contexto lingüístico a que elas pertencem, porque é ele que determina a coerência semântica da frase. É essa relação de sentido da palavra-chave com as demais que elucida se as frases têm sentido lógico.
Tomemos a frase “Fulano corre risco de vida” e comparemos com “Fulano corre risco de morte” (frases questionadas por uma internauta, a quem agradeço pelos conceitos de valor atribuídos aos meus artigos). Qual é a mais lógica? O que temos de fazer para descobrir a mais aceitável? Sabemos que a mais usada contém risco de vida. À primeira vista, vem a pergunta: morte não seria a forma mais lógica? Vejamos: risco, palavra-chave da frase, significa probabilidade de perigo; perigo acarreta dano, perda. Morte é a negação da vida, é perda. Se perigo acarreta perda e morte é perda, na frase em que aparece risco de morte há redundância entre risco e morte (risco acarreta perda e morte é perda). Correr risco de vida, pela relação de sentido das palavras, quer dizer estar propenso a perder a vida. Materialmente, perde-se a vida, não a morte. Assim podemos inferir que a primeira frase em questão é a mais lógica.
Sobre o que existe por trás de uma frase feita ou de um provérbio, a revista Língua, nas edições 2-2005 e 6-2006, traz alguns esclarecimentos sobre esses tipos de frase. A primeira, na seção Mural, traz o provérbio “Sem eira nem beira” com duas versões de origem. A explicação portuguesa é a de que eira seria um terreno de terra batida ou cimento onde eram postos grãos para secar, e beira era a borda (beirada) da eira. Sem ela os grãos eram levados pelo vento, deixando o proprietário sem nada. A versão brasileira vem do Nordeste: as antigas casas dos coronéis tinham no telhado eira, beira e tribeira. As pessoas mais pobres só construíam a tribeira, ficando então sem eira nem beira, explicação mais plausível para o sentido da frase.
Na segunda revista (nº 6) há um artigo escrito por Evanildo Bechara sobre frases feitas, no qual ele afirma que “as locuções se originam em associações psicológicas, em fatos históricos, em alusões literárias ou mitológicas, em comparações com todos os reinos da natureza, em etnologia e em muitos mais recantos do saber, da criatividade e da imaginação humana revelados pelo folclore”. Nessa afirmação, vemos como é complexo o campo de estudo dessas frases.
“Ele é cheio de nove horas” é um dos exemplos comentados no artigo, cuja origem, segundo Câmara Cascudo, é relacionada à época da Idade Média até o século XIX, em que as pessoas educadas costumavam terminar suas visitas às nove horas, horário em que as famílias se recolhiam. No dizer popular, uma pessoa extremamente educada, que exige dos outros regras rígidas de comportamento, é uma pessoa cheia de nove horas.
Há um grande número de frases feitas usadas na linguagem coloquial as quais, muitas vezes, nos chamam atenção e despertam nossa curiosidade. Mas saber sua origem é um trabalho difícil de realizar. O máximo que podemos fazer, quando não temos subsídio, é analisar semanticamente a frase, se for possível, como foi feito no início deste texto.
Profª Terezinha Almeida
Tomemos a frase “Fulano corre risco de vida” e comparemos com “Fulano corre risco de morte” (frases questionadas por uma internauta, a quem agradeço pelos conceitos de valor atribuídos aos meus artigos). Qual é a mais lógica? O que temos de fazer para descobrir a mais aceitável? Sabemos que a mais usada contém risco de vida. À primeira vista, vem a pergunta: morte não seria a forma mais lógica? Vejamos: risco, palavra-chave da frase, significa probabilidade de perigo; perigo acarreta dano, perda. Morte é a negação da vida, é perda. Se perigo acarreta perda e morte é perda, na frase em que aparece risco de morte há redundância entre risco e morte (risco acarreta perda e morte é perda). Correr risco de vida, pela relação de sentido das palavras, quer dizer estar propenso a perder a vida. Materialmente, perde-se a vida, não a morte. Assim podemos inferir que a primeira frase em questão é a mais lógica.
Sobre o que existe por trás de uma frase feita ou de um provérbio, a revista Língua, nas edições 2-2005 e 6-2006, traz alguns esclarecimentos sobre esses tipos de frase. A primeira, na seção Mural, traz o provérbio “Sem eira nem beira” com duas versões de origem. A explicação portuguesa é a de que eira seria um terreno de terra batida ou cimento onde eram postos grãos para secar, e beira era a borda (beirada) da eira. Sem ela os grãos eram levados pelo vento, deixando o proprietário sem nada. A versão brasileira vem do Nordeste: as antigas casas dos coronéis tinham no telhado eira, beira e tribeira. As pessoas mais pobres só construíam a tribeira, ficando então sem eira nem beira, explicação mais plausível para o sentido da frase.
Na segunda revista (nº 6) há um artigo escrito por Evanildo Bechara sobre frases feitas, no qual ele afirma que “as locuções se originam em associações psicológicas, em fatos históricos, em alusões literárias ou mitológicas, em comparações com todos os reinos da natureza, em etnologia e em muitos mais recantos do saber, da criatividade e da imaginação humana revelados pelo folclore”. Nessa afirmação, vemos como é complexo o campo de estudo dessas frases.
“Ele é cheio de nove horas” é um dos exemplos comentados no artigo, cuja origem, segundo Câmara Cascudo, é relacionada à época da Idade Média até o século XIX, em que as pessoas educadas costumavam terminar suas visitas às nove horas, horário em que as famílias se recolhiam. No dizer popular, uma pessoa extremamente educada, que exige dos outros regras rígidas de comportamento, é uma pessoa cheia de nove horas.
Há um grande número de frases feitas usadas na linguagem coloquial as quais, muitas vezes, nos chamam atenção e despertam nossa curiosidade. Mas saber sua origem é um trabalho difícil de realizar. O máximo que podemos fazer, quando não temos subsídio, é analisar semanticamente a frase, se for possível, como foi feito no início deste texto.
Profª Terezinha Almeida
Um comentário:
"as antigas casas dos coronéis tinham no telhado eira, beira e tribeira. As pessoas mais pobres só construíam a tribeira, ficando então sem eira nem beira,"
Que interessante!
já dei bastante risadas com essa história... não desconsiderando os fatos, nem as personagens, porque são e da forma como são, mas a função como despejam os gestos cômicos para o fim do teatro criado sem as cenas que tanto vimos!...
Muito bom.
Postar um comentário