As grandes secas são problemas antigos para a população nordestina, pois mesmo antes da colonização lusitana nossos indígenas penavam com a inclemência das estiagens, em vista que o baixo nível tecnológico recrudescia o sofrimento atroz dos antigos habitantes do semiárido brasileiro.
Foi o Padre Cícero Romão Batista um dos maiores incentivadores da migração de nordestinos para a região norte, pois sensibilizado com a desumana situação de penúria quando das estiagens que castigam a região, inseriu em sermões e pregações a necessidade de buscar vida melhor na região úmida da bacia amazônica.
Era comum a construção de campos de concentração para “abrigar” a população pobre que sofria com os rigores dantescos das estiagens. Em O Quinze, a célebre escritora cearense Rachel de Queiroz destacou a desumanidade desses ambientes nocivos à dignidade humana que eram construídos pelo governo a fim de solucionar o problema nordestino quando das grandes secas.
Com ajuda do governo ou mesmo por conta própria, seguindo os conselhos do Padre Cícero ou a pragmatização de campanhas publicitárias de erradicação da população sertaneja, marginalizada com a pobreza e com os efeitos das secas, centenas de milhares de nordestinos desembarcavam principalmente em Óbidos (PA) e daí começavam a aventura pela sobrevivência em terras estranhas e desconhecidas, cheias de mistérios, de provações e de desafios, caracterizadas pela imensidão da selva e dos caudalosos rios.
Muitos nordestinos que saíram de sua terra natal para tentar melhor sorte no norte do Brasil não chegaram muito longe, pois foram devorados pelo impaludismo, pela malária, pelo beribéri, pela febre amarela ou pelas flechas dos índios, repletas de curare nas pontas, além de outras causas mortis.
Quando o território do atual Estado do Acre ainda não pertencia ao Brasil e sim à Bolívia, quando ainda não se efetivava a bravura e a coragem de homens como Plácido de Castro, nordestinos, vindos principalmente do valente Ceará, já se encontravam tentando a sorte nos imensos seringais, quando o preço da borracha atingia valores estratosféricos no mercado mundial.
Quando finalmente foi resolvida a questão acreana, quando a Bolívia concordou com as clausulas do Tratado de Petrópolis, muitos nordestinos e seus descendentes se aventuraram em uma das mais sinistras construções ferroviárias do planeta, sendo que incontáveis e preciosas vidas foram ceifadas na colocação de cada dormente, de cada trilho, de cada parafuso.
A sorte negada na terra natal era em muitas vezes encontrada na exploração da borracha, apesar de sabermos que a exploração desmedida nessa época se constituiu em página infeliz da história acreana, bem como da própria história brasileira.
Hoje o Estado do Acre ostenta importante percentual de sua população orgulhosa de ser originada do nordeste brasileiro, descendentes de cearenses, de alagoanos, de sergipanos, de paraibanos, pernambucanos e de outros Estados sofridos com a inclemência das estiagens.
Não conheço o Estado do Acre, mas quando cursava licenciatura em geografia na Universidade Federal da Paraíba, Campus I, em João Pessoa, tive imensa felicidade de estudar com diversos acreanos que demonstravam esse orgulho de ser descendentes de nordestinos.
A cultura nordestina foi levada com os migrantes, pois quando encontrei os acreanos nas salas de aulas, olho no olho me disseram através de sorrisos e da espontaneidade nordestina: Vocês são nossos e nós somos de vocês!”.
Encontrei nos acreanos, colegas de curso na Universidade Federal da Paraíba, as mesmas características que singularizam a população nordestina no que diz respeito ao respeito e à consideração recíprocos, marcas da manutenção do modus vivendi dos sofridos retirantes das secas que contribuíram significativamente para o povoamento brasileiro de uma das áreas mais polêmicas no que diz respeito às questões de litígios nacionais.
Não apenas nordestinos devem ser louvadas, mas todos que hoje fazem do Estado do Acre belas paisagens que evocam simpatia e nobreza pela altivez de uma raça forte e destemida que nunca se curvou perante os desafios e mistérios da vida.
Foi o Padre Cícero Romão Batista um dos maiores incentivadores da migração de nordestinos para a região norte, pois sensibilizado com a desumana situação de penúria quando das estiagens que castigam a região, inseriu em sermões e pregações a necessidade de buscar vida melhor na região úmida da bacia amazônica.
Era comum a construção de campos de concentração para “abrigar” a população pobre que sofria com os rigores dantescos das estiagens. Em O Quinze, a célebre escritora cearense Rachel de Queiroz destacou a desumanidade desses ambientes nocivos à dignidade humana que eram construídos pelo governo a fim de solucionar o problema nordestino quando das grandes secas.
Com ajuda do governo ou mesmo por conta própria, seguindo os conselhos do Padre Cícero ou a pragmatização de campanhas publicitárias de erradicação da população sertaneja, marginalizada com a pobreza e com os efeitos das secas, centenas de milhares de nordestinos desembarcavam principalmente em Óbidos (PA) e daí começavam a aventura pela sobrevivência em terras estranhas e desconhecidas, cheias de mistérios, de provações e de desafios, caracterizadas pela imensidão da selva e dos caudalosos rios.
Muitos nordestinos que saíram de sua terra natal para tentar melhor sorte no norte do Brasil não chegaram muito longe, pois foram devorados pelo impaludismo, pela malária, pelo beribéri, pela febre amarela ou pelas flechas dos índios, repletas de curare nas pontas, além de outras causas mortis.
Quando o território do atual Estado do Acre ainda não pertencia ao Brasil e sim à Bolívia, quando ainda não se efetivava a bravura e a coragem de homens como Plácido de Castro, nordestinos, vindos principalmente do valente Ceará, já se encontravam tentando a sorte nos imensos seringais, quando o preço da borracha atingia valores estratosféricos no mercado mundial.
Quando finalmente foi resolvida a questão acreana, quando a Bolívia concordou com as clausulas do Tratado de Petrópolis, muitos nordestinos e seus descendentes se aventuraram em uma das mais sinistras construções ferroviárias do planeta, sendo que incontáveis e preciosas vidas foram ceifadas na colocação de cada dormente, de cada trilho, de cada parafuso.
A sorte negada na terra natal era em muitas vezes encontrada na exploração da borracha, apesar de sabermos que a exploração desmedida nessa época se constituiu em página infeliz da história acreana, bem como da própria história brasileira.
Hoje o Estado do Acre ostenta importante percentual de sua população orgulhosa de ser originada do nordeste brasileiro, descendentes de cearenses, de alagoanos, de sergipanos, de paraibanos, pernambucanos e de outros Estados sofridos com a inclemência das estiagens.
Não conheço o Estado do Acre, mas quando cursava licenciatura em geografia na Universidade Federal da Paraíba, Campus I, em João Pessoa, tive imensa felicidade de estudar com diversos acreanos que demonstravam esse orgulho de ser descendentes de nordestinos.
A cultura nordestina foi levada com os migrantes, pois quando encontrei os acreanos nas salas de aulas, olho no olho me disseram através de sorrisos e da espontaneidade nordestina: Vocês são nossos e nós somos de vocês!”.
Encontrei nos acreanos, colegas de curso na Universidade Federal da Paraíba, as mesmas características que singularizam a população nordestina no que diz respeito ao respeito e à consideração recíprocos, marcas da manutenção do modus vivendi dos sofridos retirantes das secas que contribuíram significativamente para o povoamento brasileiro de uma das áreas mais polêmicas no que diz respeito às questões de litígios nacionais.
Não apenas nordestinos devem ser louvadas, mas todos que hoje fazem do Estado do Acre belas paisagens que evocam simpatia e nobreza pela altivez de uma raça forte e destemida que nunca se curvou perante os desafios e mistérios da vida.
José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN). Contato: romero.cardoso@gmail.com.
Um comentário:
Tem muita coisa que não estão nos livros de história. A narrativa do Dr.Otoniel é importantíssima. Obrigado por tão ricas informações. vou pesquisar alguma coisa a respeito. Um abraço !
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