Desprezado pela defesa no julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, o médico-legista George Sanguinetti promete relembrar a polêmica sobre o caso da morte da menina Isabella Nardoni nas próximas semanas. O perito vai publicar o livro "A Morte de Isabella Nardoni – Erros e Contradições Periciais", no qual faz questionamentos ao trabalho realizado pela Polícia de São Paulo durante as investigações do crime.
Contratado para realizar uma perícia paralela e questionar a tese oficial do crime, ele defende a versão de que a garota não foi esganada, mas que sofreu violência sexual antes de ser jogada do 6º andar do edifício London na noite do dia 29 de março de 2008. "Se querem saber quem é o assassino de Isabella, procurem o pedófilo", afirmou Sanguinetti ao ser entrevistado pela reportagem do UOL Notícias em sua casa, na capital alagoana.
Sanguinetti não sabe apontar quem seria o pedófilo assassino. Mas, ele tem uma explicação para o desprezo no julgamento do casal Nardoni, ocorrido em março deste ano, à tese levantada por ele: do ponto de vista criminal, ela seria uma "faca de dois gumes". "Tanto poderia ajudar, como complicar, pois se não houve uma terceira pessoa, quem seria então o pedófilo? O pai? A madastra?", questionou.
O Legista afirma que assassino poderia estar escondido por trás do vidro da varanda do apartamento, que tinha uma película.
No livro, o médico-legista George Sanguinetti afirma que o "pedófilo assassino" teria três pontos de fuga do prédio em um minuto.
Em mais de 80 páginas, o legista aponta uma suposta série de erros cometidos pela perícia, embora não garanta a inocência do casal condenado pela Justiça. "Em nenhum momento digo que o pai e a madrasta são inocentes, nem garanto que existiu uma terceira pessoa na cena do crime. O que asseguro é que faltou investigação e as provas são falhas e incapazes de condenar Anna e Alexandre", disse.
Segundo ele, o laudo feito pela polícia paulista aponta para quatro lesões na área genital de Isabella, que "provariam" o abuso sexual instantes antes da queda. "São sinais claros da síndrome da criança abusada sexualmente. Se as lesões descritas fossem consequência do impacto do corpo sobre galhos e folhagens da palmeira no momento da queda, haveria na calcinha e na calça perfurações, roturas indicativas. A calcinha e a calça estavam íntegras", alegou.
O médico-legista ainda aponta para o "erro crucial" das investigações. "O erro mais grave, entre tantos erros, foi não realizar de imediato o exame das unhas do casal. A existência ou não de material orgânico de Isabella definiria a culpa ou inocência deles", garantiu.
Para Sanguinetti, caso as unhas do casal tivessem sido analisadas, seria possível definir se o abuso sexual foi praticado pelo casal condenado. "Esta resposta do IML - que não realizou o exame das unhas porque fotografou e que as unhas estavam aparadas - é uma afronta à Criminalística e à Medicina Legal. Não se faz exame das unhas com observação de olho ou com fotografias. Como é que olhando as mãos de uma pessoa e fotografando, vou afirmar se antes a mesma teve oportunidade de arranhar alguém?", questiona no livro.
Esganadura é "equívoco"
Sobre a esganadura, supostamente praticada pela madrasta, Sanguinetti diz que ela é um "equívoco" e de "total impossibilidade". Para ele, a morte foi causada exclusivamente pelo politraumatismo da queda.
"Na região cervical (pescoço), quer na parte da frente, quer na parte de trás, não consta assinalada nenhuma lesão. Se tivesse ocorrido esganadura haveria escoriações e equimoses, ou seja, marcas de unhas, arranhões e mudanças na coloração. No laudo necroscópico, no exame externo do cadáver no IML também não foi descrita nenhuma lesão do pescoço", cita no livro.
Sanguinetti ainda critica os peritos paulistas que teriam tirado apenas a foto de Isabella com uma placa na frente do pescoço. "Se não estivesse com a placa, seria visível a integridade quanto ao aspecto externo do pescoço e afastaria a possibilidade de esganadura", afirmou, citando no livro um suposto trecho do depoimento dos peritos oficiais que constariam no processo. "Em nenhum momento fizemos tal afirmação [de que a esganadura foi feita pela madrasta] e não sabemos de qual fonte foi extraída", teriam dito à Justiça.
Ferimentos encontrados no corpo de Isabella Nardoni pelo IML após o crime não apontariam para esganadura, e trariam quatro lesões próximas à área genital
Embora não garanta a existência de uma terceira pessoa no cenário do crime, Sanguinetti afirma que era possível alguém ter entrado no apartamento sem ter sido percebido, e que o tempo de evacuação do apartamento seria de apenas um minuto.
"Havia um prédio em construção ao lado do edifício, e tinha por onde qualquer pessoa entrar sem ser percebida. O porteiro também alegou que na noite do crime chegaram carros que ele não conseguiu identificar, pois ainda não havia cadastro, e que a cerca elétrica e os sensores ainda não haviam sido ativados. Além disso, o tenente que comandou as investigações me disse que vistoriou apenas os apartamentos que conseguiu, ou seja, visitou aqueles que tinham pessoas e que abriram as portas. E se o pedófilo estivesse em um desses que não foi visitado?", argumentou.
Sanguinetti ainda assegura que não tem interesse em ganhar dinheiro com o livro, mas, sim, levantar a discussão sobre o assunto. "Esse livro vai custar entre R$ 8 e R$ 10, que é o preço mínimo. Tenho duas aposentadorias e sou consultor; tenho uma vida estável. Quero que as pessoas vejam que existem erros em um caso de tanta repercussão e principalmente que esse debate chegue às faculdades", disse.
Procurados pelo UOL Notícias, o advogado de defesa do casal Nardoni, Roberto Podval, e o promotor do caso, Francisco Cembranelli, informaram que não iriam comentar a tese levantada por Sanguinetti.
Legista já contestou morte de PC Farias.
Aos 65 anos, o pernambucano George Sanguinetti é professor de medicina legal aposentado pela Universidade Federal de Alagoas e coronel reformado da Polícia Militar do Estado.
O legista ficou conhecido nacionalmente ao contestar, em 1998, o laudo do legista paulista Badan Palhares sobre a morte de Paulo César Farias, que apontava para crime passional, seguido de suicídio.
"Ali foi um duplo homicídio, e conseguimos à época anular o laudo feito pelo legista Badan Palhares. Hoje, o laudo que vale é nosso", contou.
PC Farias e sua mulher, Suzana Marcolino, foram encontrados mortos com um tiro cada um na casa de praia dele em Maceió, em 23 de junho de 1996.
Carlos Madeiro
Especial para o UOL Notícias
Em Maceió
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Contratado para realizar uma perícia paralela e questionar a tese oficial do crime, ele defende a versão de que a garota não foi esganada, mas que sofreu violência sexual antes de ser jogada do 6º andar do edifício London na noite do dia 29 de março de 2008. "Se querem saber quem é o assassino de Isabella, procurem o pedófilo", afirmou Sanguinetti ao ser entrevistado pela reportagem do UOL Notícias em sua casa, na capital alagoana.
Sanguinetti não sabe apontar quem seria o pedófilo assassino. Mas, ele tem uma explicação para o desprezo no julgamento do casal Nardoni, ocorrido em março deste ano, à tese levantada por ele: do ponto de vista criminal, ela seria uma "faca de dois gumes". "Tanto poderia ajudar, como complicar, pois se não houve uma terceira pessoa, quem seria então o pedófilo? O pai? A madastra?", questionou.
O Legista afirma que assassino poderia estar escondido por trás do vidro da varanda do apartamento, que tinha uma película.
No livro, o médico-legista George Sanguinetti afirma que o "pedófilo assassino" teria três pontos de fuga do prédio em um minuto.
Em mais de 80 páginas, o legista aponta uma suposta série de erros cometidos pela perícia, embora não garanta a inocência do casal condenado pela Justiça. "Em nenhum momento digo que o pai e a madrasta são inocentes, nem garanto que existiu uma terceira pessoa na cena do crime. O que asseguro é que faltou investigação e as provas são falhas e incapazes de condenar Anna e Alexandre", disse.
Segundo ele, o laudo feito pela polícia paulista aponta para quatro lesões na área genital de Isabella, que "provariam" o abuso sexual instantes antes da queda. "São sinais claros da síndrome da criança abusada sexualmente. Se as lesões descritas fossem consequência do impacto do corpo sobre galhos e folhagens da palmeira no momento da queda, haveria na calcinha e na calça perfurações, roturas indicativas. A calcinha e a calça estavam íntegras", alegou.
O médico-legista ainda aponta para o "erro crucial" das investigações. "O erro mais grave, entre tantos erros, foi não realizar de imediato o exame das unhas do casal. A existência ou não de material orgânico de Isabella definiria a culpa ou inocência deles", garantiu.
Para Sanguinetti, caso as unhas do casal tivessem sido analisadas, seria possível definir se o abuso sexual foi praticado pelo casal condenado. "Esta resposta do IML - que não realizou o exame das unhas porque fotografou e que as unhas estavam aparadas - é uma afronta à Criminalística e à Medicina Legal. Não se faz exame das unhas com observação de olho ou com fotografias. Como é que olhando as mãos de uma pessoa e fotografando, vou afirmar se antes a mesma teve oportunidade de arranhar alguém?", questiona no livro.
Esganadura é "equívoco"
Sobre a esganadura, supostamente praticada pela madrasta, Sanguinetti diz que ela é um "equívoco" e de "total impossibilidade". Para ele, a morte foi causada exclusivamente pelo politraumatismo da queda.
"Na região cervical (pescoço), quer na parte da frente, quer na parte de trás, não consta assinalada nenhuma lesão. Se tivesse ocorrido esganadura haveria escoriações e equimoses, ou seja, marcas de unhas, arranhões e mudanças na coloração. No laudo necroscópico, no exame externo do cadáver no IML também não foi descrita nenhuma lesão do pescoço", cita no livro.
Sanguinetti ainda critica os peritos paulistas que teriam tirado apenas a foto de Isabella com uma placa na frente do pescoço. "Se não estivesse com a placa, seria visível a integridade quanto ao aspecto externo do pescoço e afastaria a possibilidade de esganadura", afirmou, citando no livro um suposto trecho do depoimento dos peritos oficiais que constariam no processo. "Em nenhum momento fizemos tal afirmação [de que a esganadura foi feita pela madrasta] e não sabemos de qual fonte foi extraída", teriam dito à Justiça.
Ferimentos encontrados no corpo de Isabella Nardoni pelo IML após o crime não apontariam para esganadura, e trariam quatro lesões próximas à área genital
Embora não garanta a existência de uma terceira pessoa no cenário do crime, Sanguinetti afirma que era possível alguém ter entrado no apartamento sem ter sido percebido, e que o tempo de evacuação do apartamento seria de apenas um minuto.
"Havia um prédio em construção ao lado do edifício, e tinha por onde qualquer pessoa entrar sem ser percebida. O porteiro também alegou que na noite do crime chegaram carros que ele não conseguiu identificar, pois ainda não havia cadastro, e que a cerca elétrica e os sensores ainda não haviam sido ativados. Além disso, o tenente que comandou as investigações me disse que vistoriou apenas os apartamentos que conseguiu, ou seja, visitou aqueles que tinham pessoas e que abriram as portas. E se o pedófilo estivesse em um desses que não foi visitado?", argumentou.
Sanguinetti ainda assegura que não tem interesse em ganhar dinheiro com o livro, mas, sim, levantar a discussão sobre o assunto. "Esse livro vai custar entre R$ 8 e R$ 10, que é o preço mínimo. Tenho duas aposentadorias e sou consultor; tenho uma vida estável. Quero que as pessoas vejam que existem erros em um caso de tanta repercussão e principalmente que esse debate chegue às faculdades", disse.
Procurados pelo UOL Notícias, o advogado de defesa do casal Nardoni, Roberto Podval, e o promotor do caso, Francisco Cembranelli, informaram que não iriam comentar a tese levantada por Sanguinetti.
Legista já contestou morte de PC Farias.
Aos 65 anos, o pernambucano George Sanguinetti é professor de medicina legal aposentado pela Universidade Federal de Alagoas e coronel reformado da Polícia Militar do Estado.
O legista ficou conhecido nacionalmente ao contestar, em 1998, o laudo do legista paulista Badan Palhares sobre a morte de Paulo César Farias, que apontava para crime passional, seguido de suicídio.
"Ali foi um duplo homicídio, e conseguimos à época anular o laudo feito pelo legista Badan Palhares. Hoje, o laudo que vale é nosso", contou.
PC Farias e sua mulher, Suzana Marcolino, foram encontrados mortos com um tiro cada um na casa de praia dele em Maceió, em 23 de junho de 1996.
Carlos Madeiro
Especial para o UOL Notícias
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