O cineasta José Joffily sabe que com seu novo trabalho, “Olhos Azuis”, está mexendo numa ferida delicada de ordem até internacional: a entrada de estrangeiros nos Estados Unidos. “A triagem de quem entra é um processo completamente aleatório. Não são nada raras as situações que o filme trata”, comentou o diretor ao UOL Cinema.
Em “Olhos Azuis”, um brasileiro residente nos Estados Unidos volta ao país depois de visitar a filha em Pernambuco. Ao desembarcar é barrado pelo serviço de imigração que confisca seu passaporte e o submete, junto a outros latinos, a duro interrogatório. Joffily conta que o ponto de partida aconteceu no final dos anos 1990, quando um amigo passou pela mesma situação e acabou deportado.
“Quando se chega ao aeroporto nos Estados Unidos, você é separado por categorias: americanos, europeus, e as pessoas do resto do mundo. O preconceito já começa aí. E com os mais jovens é ainda maior, porque os oficiais da imigração veem neles um imigrante ilegal em potencial”. Curiosamente, a ideia de fazer o filme começou há mais de dez anos e, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, Joffily percebeu que a paranóia contra quem entrava nos Estados Unidos ficara ainda maior.
Joffily lembra que no final de agosto daquele ano, filmava em Nova York o longa “2 Perdidos numa Noite Suja”. Quando voltou para concluir as filmagens em fevereiro do ano seguinte, a cidade estava completamente diferente. “Os Estados Unidos jamais serão os mesmos. O clima depois dos atentados era de total medo, insegurança”.
No filme, que estreia no país na próxima semana, Irandhir Santos (“Quincas Berro D’Água”) é o brasileiro que tenta voltar à sua vida nos Estados Unidos, enquanto o ator norte-americano David Rasche (“Queime depois de ler”) é um oficial da imigração no aeroporto JFK, em Nova York, em seu último dia de trabalho antes da aposentadoria compulsória.
Rasche e Frank Grillo, que interpreta seu subalterno, fizeram várias pesquisas, segundo Joffily, no próprio departamento de imigração do aeroporto e trouxeram uma veracidade muito grande para os personagens e o filme. “Eu acredito que aquilo tudo que o personagem Marshall sente e diz em relação ao estrangeiro reflete a mentalidade do americano médio”. Em época de mundo globalizado, aliás, o cineasta arrisca até um palpite sobre o governo dos Estados Unidos. “Hoje em dia, todo mundo parece meio especialista em política internacional. Como lá o voto é facultativo, apenas 40% dos eleitores votaram nas últimas eleições, que elegeram Barack Obama. Acredito que, atualmente, há muito americano arrependido de não ter votado. Muito mais gente deve ir às urnas na próxima eleição e o resultado pode ser um passo atrás, uma volta da direita ao poder”.
Ganhador do principal prêmio no Festival de Paulínia no ano passado, entre outros, “Olhos Azuis” também já tem uma carreira internacional, tendo sido exibido em festivais na França e nos Estados Unidos. No próximo mês, o filme será apresentado em Nova York e Joffily se confessa particularmente curioso para saber a reação do público norte-americano. “O filme surpreendeu em Paris, pois o europeu sempre espera uma temática diferente do brasileiro”, conta. Santos e Rasche dividiram o prêmio de melhor ator no festival.
Contrastes cinematográficos
Quando começou a pensar nas imagens e sons de “Olhos Azuis”, Joffily percebeu que pretendia fazer um filme de contrastes. Na verdade, há duas histórias no filme, a primeira é o embate entre o brasileiro e o americano na imigração, e a outra mostra esse mesmo oficial no Brasil, em busca da filha do outro personagem. As duas narrativas são bem distintas visualmente e isso não foi por acaso. “Todas as cenas que se passam nos Estados Unidos são em espaços fechados, planos menos abertos, não há música, apenas ruídos. Já no Nordeste, temos imagens que aproveitam a beleza natural da região, muita música, além da iluminação natural bem forte”, explica. A fotografia assinada por Nonato Estrela (“Chico Xavier”) explora bem esses contrastes.
Joffily, que também tem experiência como documentarista, tendo assinado “Vocação do Poder” (2005, codirigido por Eduardo Escorel) e “O Chamado de Deus” (2001), acredita que a linha tênue entre o documentarista e o diretor de ficção não existe quando ele faz um filme. “Acho os dois processos de trabalho muito parecidos. A construção dramática é a mesma”, conta.
O diretor ressalta que quando faz um filme sempre descobre algo de novo sobre a vida e o ser humano – especialmente em seus documentários que abordam pessoas com vocação para a religião e para a política. Seguindo o tema, Joffily quer documentar agora as pessoas com o dom para as artes. Mas ele não quer trabalhar com artistas famosos. “Penso em fazer com músicos de alguma orquestra, ou algo assim”, adianta. “O tema da vocação é algo que me interessa. Nem parei para pensar porque, mas me atrai muito”.
Antes disso, porém, Joffily dirigirá outra ficção, junto com o ator Roberto Bomtempo, uma adaptação da peça “A Mão na luva”, de Oduvaldo Vianna Filho. Além de Bomtempo, o filme também trará Miriam Freeland, vista recentemente na novela “Poder Paralelo”..
Deu no Uol
ALYSSON OLIVEIRA
Em “Olhos Azuis”, um brasileiro residente nos Estados Unidos volta ao país depois de visitar a filha em Pernambuco. Ao desembarcar é barrado pelo serviço de imigração que confisca seu passaporte e o submete, junto a outros latinos, a duro interrogatório. Joffily conta que o ponto de partida aconteceu no final dos anos 1990, quando um amigo passou pela mesma situação e acabou deportado.
“Quando se chega ao aeroporto nos Estados Unidos, você é separado por categorias: americanos, europeus, e as pessoas do resto do mundo. O preconceito já começa aí. E com os mais jovens é ainda maior, porque os oficiais da imigração veem neles um imigrante ilegal em potencial”. Curiosamente, a ideia de fazer o filme começou há mais de dez anos e, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, Joffily percebeu que a paranóia contra quem entrava nos Estados Unidos ficara ainda maior.
Joffily lembra que no final de agosto daquele ano, filmava em Nova York o longa “2 Perdidos numa Noite Suja”. Quando voltou para concluir as filmagens em fevereiro do ano seguinte, a cidade estava completamente diferente. “Os Estados Unidos jamais serão os mesmos. O clima depois dos atentados era de total medo, insegurança”.
No filme, que estreia no país na próxima semana, Irandhir Santos (“Quincas Berro D’Água”) é o brasileiro que tenta voltar à sua vida nos Estados Unidos, enquanto o ator norte-americano David Rasche (“Queime depois de ler”) é um oficial da imigração no aeroporto JFK, em Nova York, em seu último dia de trabalho antes da aposentadoria compulsória.
Rasche e Frank Grillo, que interpreta seu subalterno, fizeram várias pesquisas, segundo Joffily, no próprio departamento de imigração do aeroporto e trouxeram uma veracidade muito grande para os personagens e o filme. “Eu acredito que aquilo tudo que o personagem Marshall sente e diz em relação ao estrangeiro reflete a mentalidade do americano médio”. Em época de mundo globalizado, aliás, o cineasta arrisca até um palpite sobre o governo dos Estados Unidos. “Hoje em dia, todo mundo parece meio especialista em política internacional. Como lá o voto é facultativo, apenas 40% dos eleitores votaram nas últimas eleições, que elegeram Barack Obama. Acredito que, atualmente, há muito americano arrependido de não ter votado. Muito mais gente deve ir às urnas na próxima eleição e o resultado pode ser um passo atrás, uma volta da direita ao poder”.
Ganhador do principal prêmio no Festival de Paulínia no ano passado, entre outros, “Olhos Azuis” também já tem uma carreira internacional, tendo sido exibido em festivais na França e nos Estados Unidos. No próximo mês, o filme será apresentado em Nova York e Joffily se confessa particularmente curioso para saber a reação do público norte-americano. “O filme surpreendeu em Paris, pois o europeu sempre espera uma temática diferente do brasileiro”, conta. Santos e Rasche dividiram o prêmio de melhor ator no festival.
Contrastes cinematográficos
Quando começou a pensar nas imagens e sons de “Olhos Azuis”, Joffily percebeu que pretendia fazer um filme de contrastes. Na verdade, há duas histórias no filme, a primeira é o embate entre o brasileiro e o americano na imigração, e a outra mostra esse mesmo oficial no Brasil, em busca da filha do outro personagem. As duas narrativas são bem distintas visualmente e isso não foi por acaso. “Todas as cenas que se passam nos Estados Unidos são em espaços fechados, planos menos abertos, não há música, apenas ruídos. Já no Nordeste, temos imagens que aproveitam a beleza natural da região, muita música, além da iluminação natural bem forte”, explica. A fotografia assinada por Nonato Estrela (“Chico Xavier”) explora bem esses contrastes.
Joffily, que também tem experiência como documentarista, tendo assinado “Vocação do Poder” (2005, codirigido por Eduardo Escorel) e “O Chamado de Deus” (2001), acredita que a linha tênue entre o documentarista e o diretor de ficção não existe quando ele faz um filme. “Acho os dois processos de trabalho muito parecidos. A construção dramática é a mesma”, conta.
O diretor ressalta que quando faz um filme sempre descobre algo de novo sobre a vida e o ser humano – especialmente em seus documentários que abordam pessoas com vocação para a religião e para a política. Seguindo o tema, Joffily quer documentar agora as pessoas com o dom para as artes. Mas ele não quer trabalhar com artistas famosos. “Penso em fazer com músicos de alguma orquestra, ou algo assim”, adianta. “O tema da vocação é algo que me interessa. Nem parei para pensar porque, mas me atrai muito”.
Antes disso, porém, Joffily dirigirá outra ficção, junto com o ator Roberto Bomtempo, uma adaptação da peça “A Mão na luva”, de Oduvaldo Vianna Filho. Além de Bomtempo, o filme também trará Miriam Freeland, vista recentemente na novela “Poder Paralelo”..
Deu no Uol
ALYSSON OLIVEIRA
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