domingo, 30 de maio de 2010

A imagem perdida

Como essas coisas que não valem nada
E parecem guardadas sem motivo
(Alguma folha seca... uma taça quebrada)
Eu só tenho um valor estimativo...

Nos olhos que me querem é que eu vivo
Esta existência efêmera e encantada...
Um dia hão de extinguir-se e, então, mais nada
Refletirá meu vulto vago e esquivo...

E cerraram-se os olhos das amadas,
O meu nome fugiu de seus lábios vermelhos,
Nunca mais, de um amigo, o caloroso abraço...

E, no entretanto, em meio desta longa viagem,
Muitas vezes parei... e, nos espelhos,
Procuro em vão, minha perdida imagem!


Mario Quintana

Um comentário:

Jairo Alves disse...

As imagens que Mário descreveu,
e o que fostes em vida,
não foram as que ele próprio as fez, nem tão menos, as que bem queria no fundo do mar...
Mas estão bem adiante, a tua imagem perdida, a tua voracidade
esganada e semi-nua, da mulher pura e real no teu sonho realizado...
Vai além do nada, do ocaso, ao seu grande encontro,
feito a pestana de um germe,
aflorado pelo húmor e pela volúpia desgatada
de ser, de um bruto,
de qualquer coisa menos
a que ele não queria,
só,
Mário de Miranda Quintana.

Se eu dissesse que o poema é somente belo, estou vendo apenas que seja só imortal...