segunda-feira, 10 de maio de 2010

Coronel Manuel Arruda de Assis: Notas sobre um homem valente e corajoso

Impossível disfarçar minha admiração pelo saudoso Coronel Manuel Arruda de Assis, pois ouvi por anos e anos suas conversas interessantes, suas histórias fantásticas envolvendo revoltosos, cangaceiros e combates da guerra de Princesa, além do cotidiano militar e político- parlamentar, tendo em vista que o respeitado oficial paraibano foi prefeito em duas cidades – Pombal (PB) e São José de Piranhas (PB) – além de deputado estadual.

Sobre a passagem da coluna Prestes por Piancó (PB) no dia nove de fevereiro de 1926, Arruda dedicou muitas e muitas horas de prosa comigo, constituindo-se em uma das razões do infinito respeito que nutro pela memória do velho guerreiro das caatingas.

Arruda me contava que mais ou menos às seis e meia da manhã do dia nove de fevereiro de 1926 chegou a Piancó o Tenente Manuel Marinho em um caminhão, proveniente do segundo Batalhão da Polícia Militar, instalado pelo governo João Suassuna em Patos das Espinharas, devido ao ataque cangaceiro do dia 27 de julho de 1924 à cidade de Sousa. Em razão do deslocamento da Coluna Miguel Costa-Prestes, o Tenente trazia armas e munição, vindo acompanhado de cinco praças.

O então Sargento Manuel Arruda de Assis começou a distribuição das armas e da munição com os defensores dos piquetes de Piancó, os quais somavam quatro. Arruda transformou a casa do juiz de Piancó, Dr. Abdon Assis, em piquete, sendo que a referida residência estava localizada de frente ao Conselho Municipal, justamente na rua em que a Coluna Miguel Costa-Prestes penetrou. Os outros piquetes eram comandados pelos Tenentes Marinho e Benício, pelo Alfaiate Isidoro e por Francisco Lima, do lado sul, e o do Padre Aristides. Este último foi o que deu mais trabalho aos revoltosos, sendo o mais penalizado.

Proveniente do Boqueirão de Coremas, a Coluna Miguel Costa-Prestes foi intimidada por Arruda a barrar sua trajetória, pois gritando alto para pararem, provavelmente o jovem sargento despertou a arrogância dos oficiais que comandavam a vanguarda do grupo insurgente, confiantes, quem sabe, no expressivo número de componentes que, indubitavelmente, punha medo e respeito por onde passavam. Os revoltosos desafiavam tudo e a todos, razão pela qual a composição rebelde ficou conhecida como a “Coluna Invicta”, tendo se internado na Bolívia com essa fama.

Depois que os oficiais que comandavam a vanguarda da Coluna Miguel Costa-Prestes foram alvejados, mais ou menos às oito horas da manhã, se passaram uns vinte minutos para que o regimento militar insubordinado ao governo central desse o ar da graça. Quando apareceram, vieram com força total.

Arruda me contava que os comandantes dos revoltosos envolveram Piancó em forma de “U”, pelo poente e pelo nascente, deixando apenas o rio descoberto. O recado da Coluna para que os defensores tivessem pensado antes de abater os oficiais da vanguarda foi dado através de chuva de balas cuspida de várias metralhadoras pesadas postadas estrategicamente em direção a Piancó.

Manuel Arruda de Assis, bravamente e com estoicismo inegável, lutou incansavelmente do piquete que comandava. Durante mais ou menos quatro horas, carregou e disparou as armas em seu poder talvez centenas de vezes. A intensidade do tiroteio vindo do piquete de Arruda impressionou os revoltosos da Coluna Miguel Costa-Prestes, pois a tradição dos lugares de onde provinham sabe valorizar bravos e corajosos, respeitando-os pela eternidade.

Vendo que a coisa ficava difícil a cada segundo, Arruda aproveitou que o lado do rio estava liberado para fugir o mais depressa possível, do mesmo jeito que fizeram seus tarimbados colegas da caserna. Arruda culpava a falta de experiência dos homens do Padre pela tragédia do barreiro sinistro, pois se houvesse alguém para instruir furar a parede da casa e tomarem o mesmo rumo que ele e os outros militares tomaram, talvez a desgraça da hecatombe de Piancó não tivesse acontecido.

Arruda mergulhou no rio Piancó, que por sorte estava com água na ocasião, saindo distante do local em que mergulhou. Assim conseguiu escapar à fúria ensandecida dos “revolucionários” que transformavam Piancó em um desmantelo ao cubo.

Talvez pura ilusão de Arruda, pois o ódio devotado pela Coluna Miguel Costa-Prestes aos defensores do piquete do Padre Aristides seja a resposta para o sucesso da fuga dos integrantes dos outros pontos de defesa.

Padre Aristides e sua gente resistiram por mais meia hora após a fuga de Arruda e dos demais que conseguiram escapar da ira dos militares ensandecidos pela perda do valente oficial rebelde a quem foi confiado o comando da vanguarda da Coluna insurrecta.

Arruda dizia que conseguiram escapar do “girau” em que se transformou o piquete comandado pelo Padre Aristides Ferreira da Cruz apenas uma criada, duas crianças e um defensor chamado João Monteiro.

Quando da primeira campanha de Leonel Brizola para a presidência do Brasil, no primeiro turno, Luiz Carlos Prestes esteve em campanha por João Pessoa, pois apoiava o político gaúcho. O advogado e escritor Severino Coelho Viana dedicou a Prestes exemplar do livro “A vida do Coronel Arruda, Cangaceirisimo e Coluna Prestes”. Ao lado de Severino Coelho, fiquei impressionado quando o “Cavaleiro da Esperança” exclamou com entusiasmo: “Arruda????!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Esse foi um dos mais valentes e corajosos combatentes que enfrentamos na marcha da Coluna!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”.


José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-adjunto do Departamento de Geografia do Campus Central da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA – UERN).

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