Fazer como o doidim de
Taperoá, que toda vez que lhe mostravam duas moedas escolhia sempre a menor,
porque no dia em que escolhesse a maior a brincadeira acabava.
Fazer como Jorge Luis
Borges, que considerava Waterloo uma vitória.
Fazer como Isadora Duncan,
que disse: “Está soprando um vento frio, acho que vou de cachecol.”
Fazer como a cartuxa de
Parma e a toutinegra do moinho, que viveram só para inspirar um título.
Fazer como Juquinha, que
quando já estava na Faculdade reencontrou a professora e a levou para tomar
umas cervejas.
Fazer como C. G. Jung, que
entendeu que a blasfêmia não é para insultar quem ouve, mas para libertar quem
diz.
Fazer como aquela moça da
Bíblia que se deixou levar à tenda do general invasor e saiu de lá com a cabeça
dele.
Fazer como os Harlem
Globetrotters, que jogavam tão bem que não precisavam ganhar.
Fazer como a trapezista
que explicou: “o segredo é não acreditar que tem a rede.”
Fazer como Raymond
Chandler, que enxugava uma garrafa de uísque antes do almoço, e com isso
economizava o almoço.
Fazer como a Princesa
Isabel, que resssignificou o conceito de interinidade.
Fazer como Neymar, que quando
soube do 7x1 na véspera pediu para ficar de fora, e aí inventaram uma "fratura
da coluna vertebral".
Fazer como Raskolnikóv,
que viu a merda que tinha feito e não sossegou enquanto a polícia não somou
dois mais dois.
Fazer como Snoopy, que
tinha plena consciência da importância da frase inicial de um processo
criativo.
Fazer como aquela moça da
NASA que conseguia dar uma mamadeira enquanto calculava uma órbita.
Fazer como o anarquista
espanhol que entrou na cabine eleitoral, votou, depois puxou o detonador, e
explodiu o próprio voto.
Fazer como Emily
Dickinson, que ela mesma escrevia, ela mesma lia e ela mesma criticava.
Fazer como Lutero, que
descobriu que para enfrentar o diabo não servia água benta, era preciso um
tinteiro.
Fazer como o co-piloto do
Boeing, que quando o piloto disse: “Fulano, me acode, estou morrendo, botaram
alguma coisa no meu suco”, ele disse: “Fui eu.”
Fazer como Michelangelo
que estava pintando, foi interrompido pelo Papa, e jogou uma caixa de
ferramentas na cabeça do intruso.
Fazer como a dona da
pensão que botou em cima da mesa uma terrina de arroz, uma de carne moída, e
disse: “Quem não gostar vá almoçar na casa da puta que o pariu.”
Fazer como Sísifo, que
considerava como seu objetivo fazer a pedra rolar de cima do morro até o vale.
Fazer como a roqueira punk
que conclamou a multidão: “Bora, sobe todo mundo no palco, bora pular até essa
porra vir abaixo”, e assim se fez.
Fazer como L. Ron Hubbard,
que mandou a ficção científica às favas, inventou logo uma religião e ficou
milionário.
Fazer como Lampião, que
olhou Maria Bonita de cima a baixo e disse: “Venha, que eu vou lhe fazer a
mulher mais feliz do mundo Já sabe como é o sistema. Se tiver coragem, pode
vir.”
Fazer como D. Elaine,
minha professora de Geografia, que no dia da prova anunciou para a classe:
“Quesito único: Fale sobre agricultura”.
Fazer como Augusto dos
Anjos, que publicou um livro intitulado “Eu” onde só existe meia dúzia de
cisquinhos autobiográficos.
Fazer como Dolores Duran,
que escrevia em qualquer papel, em qualquer hora, em qualquer lugar.
Fazer como Augusto
Matraga, que matou um adversário e depois protegeu o corpo dele contra a turba
enfurecida.
Fazer como Ana Maria,
secretária da FURNe, que um dia me falou: “A vida passa e nós vamos ficar,
aquecidos pelo calor imundo das árvores, sangrentas e miseráveis”.
Fazer como Groucho Marx,
que esvaziava um revólver com uma piada.
Fazer como Lillian
Hellman, que conseguiu passar quinze anos sem perguntar ao marido por que ele
tinha deixado de escrever.
Fazer como Zabé, que
morava na loca e vivia do vento.
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
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