Eu e Mãe Leca estávamos voltando da maravilhosa festa de Fred e
Tereza em Areia Dourada e chamamos um Uber. O motorista chegou num carro
meia boca, pequeno, sem ar. Com um forte sotaque foi logo dizendo (sem
que tivéssemos perguntado) que aquele carro era de um genro seu e que
ele estava ali somente passando tempo, porque na verdade era milionário e
não precisava nem trabalhar mais.
“- Eu sou do Mato Grosso. Crio gado em muitas fazendas e estou
passando as festas na casa dos meus parentes. Como foram todos para
Campina Grande eu tirei o carro da garagem só para ter com quem
conversar. Mas eles não sabem que eu sou milionário, porque aí minha
vida iria virar um inferno”.
Quem me conhece sabe que meu faro por mentiras vai longe. Senti ali
uma queimando, mas precisava confirmar e indaguei do tamanho de seus
rebanhos.
“- De gado leiteiro eu tenho oito mil cabeças, mas a maior parte é
gado de corte. Da última vez que contei tinha pra mais de cem mil
reses”.
Mentira? Quis tirar a prova dos nove e perguntei a ele como conseguira juntar aquela fortuna.
“- Eu era o capataz de duas fazendas de um político da minha região.
Sem que eu soubesse ele tinha colocado aquelas fazendas e muita coisa
mais em meu nome. Como eu era analfabeto nem sabia de nada. Uma vez ele
me fez ir ao cartório assinar um papel para ele, só com o dedão, né?
Depois eu soube que era uma procuração. Com o tempo aprendi a ler e fui
percebendo tudo, mas ele morreu e como não tinha filhos e a mulher dele
era mais burra do que eu, findou que eu fiquei com tudo e aí aumentei
muito as coisas”.
Pronto! A conversa do velhinho tinha logica; é que em toda conversa
que entra safadeza de político até o que parece absurdo se torna
realidade.
Estávamos chegando ao destino e eu não sabia se ele era mentiroso.
Arrisquei: “- Amigo, ficaremos aqui”. Tinha na mão uma nota de cinco
reais (O Uber faz debito automático no cartão de credito) e disse a ele
que se tratando de um milionário eu não iria constrange-lo oferecendo
uma gorjeta. E tão pequena.
Ah, leitores queridos, o velhinho deu uma puxada na nota que quase levou meus dedos juntos.
Ainda hoje estou na dúvida se ele era sovina, miserável ou mentiroso.
Marcos Pires
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