Fazendo
carinha de anjo, Manu, minha neta mais velha, me pediu que fizesse um
kit completo de colheres para levar pra São Paulo. Ela adora inventar
moda na cozinha e já aprendeu a fazer gelatina, sopa de legumes e broa
de milho. Trabalhei uma manhã inteira e fiz até rolinho para esticar
massa. Ao lembrar que ela vai ficar sem poder usar o que existe de bom e
aproveitável no meu armário de ferramentas, resolvi separar um pequeno
arsenal de utilidades para que ela possa usar quando quiser fazer, com
suas mãozinhas habilidosas, alguma coisa interessante para oferecer a
alguém. Para que nada se perca na mudança para a casa nova, coloquei tudo numa daquelas simpáticas caixinhas de madeira utilizadas para embalar vinhos mais caros.
Comecei pelas fitas adesivas para os mais diferentes usos, algo de que ela tanto gosta e
que tenho em profusão. Para facilitar, enrolei umas dez tiras lado a
lado em um gomo retinho de bambu. Escolhi as mais coloridas, de ”fazer vista”, como
se dizia. Em outro pedaço de bambu, este com nós bem juntinhos, tratei
de enrolar uns vinte tipos diferentes de linhas e fios, algo que muito
prezo pela utilidade que têm: barbantes de algodão, nylons e cordinhas
de tucum de várias espessuras, fio urso e um pedaço da linha de pesca mais resistente que conheço. Fora
isso, enrolei também fio de plástico prateado, linha para costurar
sapato, uma tirinha de couro e um pedaço de cordão de rede trazido da
Paraíba. Por precaução, inclui três folhas de lixa d'água, pregos
variados e tachinhas sortidas, além de parafusos de vários tipos e
tamanhos e algumas buchas.
Coloquei
também ferramentas de uso corrente: um martelinho colorido, duas chaves
de fenda, dois alicates pequenos, sendo um de ponta fina, uma serrinha
de aço e cinco goivas japonesas para cavar madeira macia. Por último,
mesmo sabendo que faca não é brinquedo de criança, resolvi dar pra ela
uma das faquinhas alemãs que uso para cortar bambu. Se bem conheço
aquela menina, ela vai usar tudo e logo logo vai me pedir para repor o
que estiver acabando.
Vitória, 24 de janeiro de 2018
Álvaro Abreu
Escrita para A GAZETA
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