domingo, 31 de maio de 2015

A flor do meu quintal


Notas de aeroporto

           Estou sempre a anotar. Faço isso também, talvez com mais avidez, quando viajo. É uma maneira de demarcar meu território. O papel me serve de fronteira. As palavras são minha cerca. Remexendo em meus cadernos, encontro dezenas, talvez centenas, dessas anotações dispersas de viagem. Não têm uma ordem. Não formam um conjunto, mas uma dispersão. Não têm um objetivo _ não pretendo reuni-las em livro. Não sei por que escrevo. Sei: para me proteger. Em um caderno de notas iniciado em abril de 2013, estou no aeroporto de Guarulhos. São 14h30 do dia 23 de abril. Estou na sala de embarque, aguardo uma conexão para Cuiabá onde farei uma palestra sobre Manoel de Barros. Copio aqui o que anotei. Para que? Talvez para forçar um destino para o que não tem destino. Para prender aquilo que não se prende. Vamos lá.


          Sentimento de estar entre parêntesis. As horas mais longas. Nenhuma apreensão. (Apreensão, anoto depois, vem do latim, "apprehensione". Significa receio, preocupação, cisma. Na filosofia, designa o conhecimento imediato de um objeto, em oposição a processos mais elaborados, como a compreensão, o julgamento, o raciocínio. Justamente por esse contraste, aprecio muito a apreensão. Ela não falsifica, não explica, não justifica. Ela mostra.) Na revistaria, a notícia do crescimento dos evangélicos na política. Um mundo em transfiguração. Um mundo que se fecha, que talvez retroceda. Rumo a que? Quem pode saber? E, nesse caso, onde fica o futuro?



          Trato de cuidar do presente. Na sala de embarque 19, uma família se acomoda à minha frente. Uma família = todas as famílias. Por que tanto medo de errar? Por que se copiam tanto? Minha repulsa à cópia se realça. Em torno, os passageiros, em sua espera, se parecem também. Eu sou um deles. Eles se parecem comigo e eu com eles. Não há como escapar. Há? A diferença é que escrevo. Mas que diferença isso realmente faz? Para eles, nenhuma. É só um hábito. Para mim, toda. O caderno me serve de proteção (casca). A escrita delimita e protege. A escrita cuida: caráter curativo da escritura. Só quem não se agarra ao que escreve não pode sentir isso. A escrita como salvação? Não salvação, mas localização. Ao escrever, eu me situo. Eu me visto de mim. Volto a mim, como alguém que volta de um desmaio.



          Para que serve um caderno de viagens? Para que servem essas anotações? Elas são uma âncora: me prendem a mim mesmo, não me deixam escapar de mim. Não me deixam esquecer quem sou, não permitem que eu fuja do presente. São a coluna com que me ato a mim mesmo. Transformam meu presente em ato. Não só espero: escrevo. Enquanto o menino à minha frente joga com seu carrinho, jogo (brinco) comigo mesmo. O menino lançou o carrinho aos meus pés e não vê o que fez. Agora se dá conta e vem pegá-lo. Também eu lanço alguma coisa com essa escrita e não vejo o que lanço. É um movimento quase autônomo - como a respiração. Escrever me devolve o ar. Respiro através das palavras. Elas são o ar com que precariamente me encho. Delas vivo: com elas sinto que estou vivo.


        Não: não é um exercício de estilo, não quero "escrever bem". Tento apenas grudar o presente ao que sou. Não deixar o presente escapar. Engaiolá-lo nas palavras. A escrita é uma gaiola _ mas a vida, mais esperta do que eu, escorre entre as grades. A vida é sempre mais ampla do que a escrita. Mais do que tudo isso. Muito mais que as notas transcritas em um blog. A palavra é "muito mais", mas também "muito menos", porque é sempre inadequada e insuficiente. Nada dá conta do que sinto nessa sala de espera. Nada a resume _ nada a define. As palavras não passam de um brinquedo a que me agarro.



José Castello 

"Pracas"






Soneto de agosto

Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estávamos unidos
Nós que andávamos sempre separados.

Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.

Só assim arrancara a linha inútil
Da tua eterna túnica inconsútil...
E para a glória do teu ser mais franco

Quisera que te vissem como eu via
Depois, à luz da lâmpada macia
O púbis negro sobre o corpo branco.



Vinícius de Morais

A solidão amiga

A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão...

Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.

Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, "parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis". A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: "Como se comporta a Sua Solidão?" Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.

Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você." Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.

Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim: "Por muito tempo achei que a ausência é falta./ E lastimava, ignorante, a falta./ Hoje não a lastimo./ Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim./ E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,/ que rio e danço e invento exclamações alegres,/ porque a ausência, essa ausência assimilada,/ ninguém a rouba mais de mim.!"

Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que "o inferno é o outro." Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:

"Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz - ela me fala com ternura e felicidade!

Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas.

Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.

Ali as palavras e os tempos/poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar."

E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, "certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa - garrafa, prato, facão - era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia."

Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: "As obras de arte são de uma solidão infinita." É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.

E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:

"...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília..."

Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.

O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...

A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.

Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.


Rubem Alves

sábado, 30 de maio de 2015

8º Aniversário do Portal Clemildo, comunicação e rádio

Nesses oito anos de atividades na web o Portal Clemildo, comunicação & Rádio, criado em 01 de junho de 2007, conta atualmente com 252.455 acessos para um total de 1.772 postagens.
Nasceu e em seu princípio era de que a linha editorial a ser utilizada neste instrumento cibernético que atinge os quatro cantos do planeta, tivesse o fim  específico de tratar da história do rádio e comunicação de Pombal e
por tabela a cultura, educação e reminiscências que serviria para revelar e ampliar o conhecimento, perspectiva de mostrar nossos costumes com fundo de verdade da história de nossa gente.
Nesse contexto, assinalo que a despeito do portal ter o meu prenome, não significa dizer que ele é só meu, não necessariamente; ele é de todos, pois, quando foi formatado, meus parceiros e colaboradores deram o pontapé inicial enviando mensagens, poesias, temáticas e comentários. São eles e tem sido até hoje, os esteios que nos incentiva a prosseguir com o fim de buscar o aprimoramento para as postagens publicadas aqui, tendo como objetivo os bons exemplos dos filhos de Pombal para que sejam imitados pela geração de agora e do futuro.
Levantamos as mãos aos céus e agradecemos a Deus por contar com uma equipe de colaboradores que voluntariamente se dispõe a escrever, como grande valia para abertura de novos horizontes no contexto da cultura, poesia, literatura e conhecimentos de fatos históricos de nossa gente, a ponto de outros terem sido suscitados por este blog aflorando-lhes seus talentos para escrever - reminiscências, contos, romances, poesias, artigos e homenagens.
Só posso dizer que apesar das muitas lutas e obstáculos que enfrentamos nesses oito anos passados, só temos que agradecer a Deus e fazer o registro de conquistas e vitórias alcançadas, as quais as maiores delas, tributo aos nossos colaboradores, pois no afã do trabalho que fizeram com a equidade de formadores de opinião, souberam respeitar e compreender a nossa linha editorial de caráter apolítico - sendo sempre nosso marketing todo tempo. Temas livres foram abordados, manifestações independentes e democráticas, sem nenhuma interferência de minha parte.
Meus agradecimentos vão também para milhares de internautas espalhados por esse mundo afora em especial aos pombalenses de perto e de longe que num simples click acessahttp://www.clemildo-brunet.blogspot.com / quase que diariamente, mandam seus recados, suas mensagens, dão suprimentos as nossas informações e de modo midiático fazem conosco essa interatividade.
Quantos não pararam em frente ao computador para ler as temáticas de Genival Torres Dantas, Maciel Gonzaga, Professor Francisco de Assis Vieira, Cessa Lacerda (saudosa memória) Verneck Abrantes, Cessinha Neta, Paulo Abrantes, João Costa, Ricardo Ramalho, Onaldo Queiroga, Jerdivan Nóbrega de Araújo, Severino Coelho, Ignácio Tavares, Romero Cardoso, Ubiratan Lustosa, Clemildo Brunet, Eronildo Barbosa e tantos outros que preferiram o anonimato?
Outro saldo positivo da coletânea de artigos publicados no blog foi o lançamento do meu livro “Histórias do Rádio Em Pombal” que está completando o seu primeiro aniversário.
A luta continua...
Pombal, 30 de maio de 2015

Clemildo Brunet de Sá
Radialista e Escritor

Coisas do Sertão


U2

Frase


O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem...

Confúcio

sexta-feira, 29 de maio de 2015

26 filmes para assistir com seu filho

Um filme não precisa ser didático para ensinar valores importantes na formação dos alunos. Conheça obras do cinema aplaudidas por críticos e professores.


Todos podem se espelhar em exemplos do cinema para descobrir maneiras de aprender e ensinar melhor. Sem deixar de se divertir nem se emocionar. Como explica a professora de Cinema e vice-coordenadora da Cinemateca da PUC(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Verônica Ferreira Dias, um filme "é sempre algo atrativo, porque traz entretenimento e reflexão também". 

Para ela, quando a sétima arte retrata processos de aprendizado bem-sucedidos, é capaz de despertar o espírito crítico da sociedade. "As pessoas acabam repensando o sistema educacional, já que nem sempre têm paciência para ouvir discursos teóricos de especialistas". E Verônica não está sozinha. Arte-educador e doutor em Educação pela USP (Universidade de São Paulo), Marcos Ferreira dos Santos pensa de modo semelhante. "O cinema faz com que a gente tenha um 'olho privilegiado' e consigamos entrever coisas invisíveis em certas situações". 

Por outro lado, o professor tem suas ressalvas e não acredita que campeões de bilheteria sejam os mais indicados para falar sobre Ensino. "Blockbusters são direcionados demais para fins comerciais, não saem do lugar-comum, e por isso é difícil alguém acordar para a necessidade de aprender". Será? A professora da PUC acha que os chamados "filmes de arte" não conseguem atingir as massas e acabam sendo um esforço muitas vezes sem grandes resultados.


1 - Dúvida
FILME: Dúvida, dirigido por John Patrick Shanley, com Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman, 2008. Classificação indicativa: 16 anos.

A HISTÓRIA: Em 1964, no bairro novaiorquino do Bronx, uma escola católica se divide entre a rigidez da diretora, irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), e o carisma libertário do padre Flynn (Philip Seymour Hoffman), que também atua como professor na instituição. A partir de pistas incertas, a religiosa começa a suspeitar que ele tenha cometido abuso sexual contra um novo aluno, o primeiro negro a estudar no colégio. A dúvida entre a culpa ou inocência do padre também atinge a jovem irmã James (Amy Adams), que não consegue escolher qual dos colegas deve ajudar. 

2- Ao Mestre com Carinho
FILME: Ao Mestre com Carinho, dirigido por James Clavell, com Sidney Poitier, 1967. Classificação: livre.

A HISTÓRIA: Mark Thackeray (Sidney Poitier) é um engenheiro desempregado que resolve dar aulas no bairro operário de East End, em Londres. Mas a turma, cheia de alunos indisciplinados, fará de tudo para que ele desista da sua missão, como fez com os professores anteriores. 

3- Billy Elliot
FILME: Billy Elliot, dirigido por Stephen Daldry, com Julie Walters e Jamie Bell, 2000. Classificação: livre.

A HISTÓRIA: Billy Elliot (Jamie Bell) é um garoto de 11 anos que vive em uma pequena cidade mineradora da Inglaterra. Mesmo obrigado pelo pai a treinar boxe, fica fascinado com o balé. Estimulado pela professora de dança da academia que freqüenta (Julie Walters), ele resolve deixar a luta de lado e se dedicar totalmente ao balé e precisa enfrentar os preconceitos da sociedade local. 

4- O Céu de Outubro
FILME: O Céu de Outubro, dirigido por Joe Johnston, com Jake Gyllenhaal e Chris Cooper, 1999. Classificação: livre.

A HISTÓRIA: O adolescente Homer Hickam (Jake Gyllenhaal) vive em uma cidade no interior dos EUA que vive basicamente da mineração. Ao saber que os russos lançaram o satélite Sputnik ao espaço, ele começa a sonhar em colocar um foguete em órbita. Para isso, Homer convence alguns amigos a ajudarem e, com o apoio de uma professora, dá início ao projeto que irá mudar sua vida para sempre.

5- Escola de Rock
FILME: Escola de Rock, dirigido por Richard Linklater, com Jack Black e Joan Cusack, 2003. Classificação: livre.

A HISTÓRIA:Um roqueiro (Jack Black) foi demitido da própria banda e tenta trabalhar como professor de música numa rígida escola particular. Lá, desperta nos estudantes interesse por diversos instrumentos e eles decidem montar uma grande banda sem que os pais saibam. 

6- Gênio Indomável
FILME: Gênio Indomável, dirigido por Gus Van Sant, com Matt Damon e Robin Williams, 1997. Classificação: 14 anos.

A HISTÓRIA: Will Hunting (Matt Damon) tem 20 anos e já registrou algumas passagens pela polícia. Trabalhando como servente em uma universidade, se revela um gênio em matemática. Ele faz terapia, por decisão judicial, mas não apresenta resultados de melhora porque debocha de todos os analistas. Até encontrar um com quem de se identifica.

7- O Homem-Elefante
FILME: O Homem-Elefante, dirigido por David Lynch, com Anthony Hopkins e John Hurt, 1980. Classificação: livre.

A HISTÓRIA: John Merrick (John Hurt), um desafortunado cidadão da Inglaterra vitoriana é portador do caso mais grave de neurofibromatose múltipla registrado, com 90% do corpo deformado. Ele é considerado deficiente mental e explorado em circos de aberrações até ser descoberto pelo médico Frederick Treves (Anthony Hopkins), que o leva a um hospital onde se revela um ser sensível e inteligente. Inspirado na vida de Joseph Merrick.

8- Legalmente Loira
FILME: Legalmente Loira, dirigido por Robert Luketic, com Reese Whiterspoon e Luke Wilson, 2001. Classificação: livre.

A HISTÓRIA: Poucas pessoas no mundo têm os mesmos privilégios que Elle Woods (Reese Whiterspoon). Ela é linda, loira natural, tem muito dinheiro e namora o garoto mais desejado do colégio. Porém, quando ele vai estudar direito em Harvard e se encanta por uma arrogante colega de classe, dispensa Elle por considerá-la fútil. Inconformada com a situação, a patricinha decide ingressar na mesma universidade e provar a todos sua capacidade. 

9- Mr. Holland
FILME: Mr. Holland: Adorável Professor, dirigido por Stephen Herek, com Richard Dreyfuss e William H. Macy, Classificação: livre. 1995.

A HISTÓRIA: Em 1964, um músico (Richard Dreyfuss) resolve começar a lecionar para ter mais dinheiro e assim se dedicar a compor uma sinfonia. Mas os alunos se mostram pouco interessados e as coisas se complicam quando a esposa dele da luz a um bebê surdo. Para poder financiar os estudos especiais e o tratamento do filho, o professor se envolve cada vez mais com a escola, deixando de lado seu sonho de tornar-se um grande compositor.

10- Pink Floyd
FILME: Pink Floyd: The Wall, dirigido por Alan Parker, com Bob Geldof, 1982. Classificação: 16 anos.

A HISTÓRIA: Órfão de pai (morto durante a Segunda Guerra Mundial), o jovem Pink Floyd (Bob Geldof) tem a infância marcada pela perseguição de seu professor e pela superproteção da mãe. Adulto, ele se torna um astro do rock e entra em depressão. Para salvar sua consciência e a própria vida, Pink terá de lidar diretamente com os fantasmas do passado. 

11- Sociedade dos Poetas Mortos
FILME: Sociedade dos Poetas Mortos, dirigido por Peter Weir, com Robin Williams e Ethan Hawke, 1989. Classificação: 12 anos.

A HISTÓRIA: No final dos anos 50, ex-aluno (Robin Williams) de uma conservadora escola preparatória se torna o novo professor de literatura da instituição. Entretanto, os métodos de incentivar os alunos a pensarem por si mesmos criam um choque com a ortodoxa direção do colégio.

12- A Cor Púrpura
FILME: A Cor Púrpura (The Color Purple, 1985, EUA, direção: Steven Spielberg, 156 min., drama, classificação indicativa: 14 anos).

A HISTÓRIA: O filme mostra a dura realidade de uma família negra patriarcal do começo do século 18, nos Estados Unidos. A história gira em torno do drama de Celie Johnson, que aos 17 anos já tem dois filhos, frutos da violência sexual do próprio pai. Além de ser privada da convivência das crianças, Celine é forçada pela família a se casar com um homem, que na verdade queria a irmã dela como esposa. Ironicamente, a vida da moça começa a mudar quando a amante do marido mostra que ela pode ser muito mais que apenas uma serva dele. Em meio à violência doméstica e à ausência dos filhos, Celine encontra refúgio escrevendo cartas. O contato com uma missionária na África, por correspondência, muda sua vida. 

13- O Sorriso de Monalisa
FILME: O Sorriso de Monalisa (Mona Lisa Smile, 2003, EUA, direção: Mike Newell, 125 min., drama, classificação indicativa: 12 anos).

A HISTÓRIA: Julia Roberts vive a professora de História da Arte Katharine Watson, que quer romper os ideais machistas da sociedade americana da década de 50. Mas ela se depara com a resistência das próprias alunas ao ingressar no corpo docente do Colégio Wellesley. A instituição é famosa por preparar jovens para a vida matrimonial e de dona de casa. Mesmo assim, Katharine decide ir contra as normas para mostrar às estudantes que elas são capazes de enfrentar os desafios da vida adulta sem estar, necessariamente, à sombra de um homem.

14- Uma Mente Brilhante
FILME: Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind, 2001, EUA, direção: Ron Howard, 135 min., drama, classificação indicativa: 12 anos).

A HISTÓRIA: O gênio da matemática John Nash ganha fama no mundo acadêmico ao formular um complexo teorema aos 21 anos de idade. Sua habilidade com as ciências exatas o leva a um trabalho secreto para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Atormentado pela sensação de estar sempre perseguido, o professor põe em risco sua carreira e seu casamento. Mas os problemas de Nash começam mesmo quando ele é diagnosticado com esquizofrenia. Após anos de luta contra a doença, o matemático consegue se reintegrar à sociedade e acaba sendo premiado com o Nobel. A história é baseada num fato real.

15- O Clube do Imperador
FILME: O Clube do Imperador (The Emperor's Club, 2002, EUA, direção: Michael Hoffman, 109 min., drama, classificação indicativa: 12 anos).

A HISTÓRIA: O ator Kevin Kline vive William Hundert, um docente apaixonado pela profissão e cheio de princípios clássicos. Seu mundo conservador é chacoalhado por um estudante recém-chegado à escola. O que começa como um choque de gerações dá lugar a uma surpreendente relação professor-aluno. O resultado desta experiência é uma lição de vida para ambos, principalmente quando, durante uma competição que dá nome ao filme, o docente se vê numa saia-justa que coloca em xeque seus princípios.

16- Meu Mestre, Minha Vida
FILME: Meu Mestre, Minha Vida (Lean On Me, 1989, EUA, direção: John G. Avildsen, 109 min., drama, classificação indicativa: 12 anos).

A HISTÓRIA: Baseada na história real de Joe Clark, um diretor arrogante e professor pouco ortodoxo. Ele é convidado a assumir a direção da instituição de onde havia sido demitido como docente. O colégio, que no passado era acolhedor, se torna um ambiente hostil, controlado por gangues, e local de consumo de drogas. O perfil rígido torna Clark o homem certo para recolocar a escola nos trilhos, mesmo que para isso ele tenha de enfrentar arruaceiros e até as autoridades locais.

17- Mentes que Brilham
FILME: Mentes que Brilham (Little Man Tate, 1991, EUA, direção: Jodie Foster, 99 min., drama, classificação indicativa: 14 anos).

A HISTÓRIA: Uma mãe vive o dilema de criar um filho cuja capacidade mental é extraordinária. Ela quer que o garoto, de apenas sete anos, tenha uma vida normal. Mas para isso, suas atitudes devem limitar a genialidade da criança. A mulher, de origem simples, tem medo de que seu filho seja visto como uma aberração, devido aos seus talentos precoces com a matemática e as artes. Por sua vez, o menino entende que é uma pessoa diferente das demais e não quer abrir mão de usar a inteligência. 

18- A Onda
FILME: A Onda (Die Welle, 2008, Alemanha, direção: Dennis Gansel, 107 min., drama, classificação indicativa: 16 anos).

A HISTÓRIA: Um jovem professor se torna popular entre os alunos de Ensino Médio de um colégio na Alemanha por usar métodos pouco usuais de ensino. Para explicar a dominação de um povo por um ditador (fascismo), o docente propõe que a turma crie uma espécie de sociedade fechada, em que os integrantes devem obedecer a certos rituais para serem aceitos. O exercício é tão eficiente que o próprio professor perde o controle do totalitarismo proposto por ele. E as consequências são trágicas.

19- A Prova
FILME: A Prova (Proof, 2005, EUA, direção: John Madden, 99m min., drama, classificação indicativa: 12 anos).

A HISTÓRIA: Catherine é uma jovem matemática que herda a genialidade de seu pai. Ele está no fim da vida, morrendo de esclerose - e ela teme desenvolver a mesma doença e perder a capacidade de lidar com os números. Angustiada, a moça se afasta do convívio social e vive isolada na casa da família. Na véspera de seu 27º aniversário, ela recebe a visita da irmã e de um ex-aluno do pai. Ambos estão interessados nos maiores bens deixados para ela: a casa e os cadernos em que o professor possa ter registrado uma brilhante teoria matemática. 

20- Pro Dia Nascer Feliz
FILME: Pro Dia Nascer Feliz (2006, Brasil, direção João Jardim, 88 min., documentário, classificação indicativa: livre).

A HISTÓRIA: O documentário mostra os principais problemas que os jovens brasileiros enfrentam na escola: precariedade, preconceito, violência e abandono. Adolescentes de três estados e de classes sociais diferentes conduzem a narrativa ao contarem suas frustrações no ensino.

21- Encontrando Forrester
FILME: Encontrando Forrester (Finding Forrester, 2000, EUA, direção: Gus Van Sant, 136 min., drama, classificação indicativa: 12 anos).

A HISTÓRIA: Um jovem negro da periferia de Nova York consegue uma bolsa de estudos em uma das melhores escolas particulares da cidade, graças às notas que conquistou no colégio público. Só que o ele não consegue superar a barreira do preconceito, por ser negro e pobre. O talento do rapaz em escrever o leva a conhecer William Forrester (vivido por Sean Connery), um brilhante escritor que vive recluso. Ele percebe a capacidade do jovem e o incentiva a prosseguir. Desse relacionamento, nasce uma bela e edificante amizade.

22- Um Sonho Possível
FILME: Um Sonho Possível (The Blind Side, 2009, EUA, direção: John Lee Hancock, 128 min., drama, classificação indicativa: 10 anos).

A HISTÓRIA: História real do astro do futebol americano Michael Oher. O jogador só ganha a chance de mostrar seu talento em campo com a ajuda da família milionária Tuohy, que o adota. Oher cresceu na periferia da cidade de Memphis e nunca conseguiu frequentar uma escola com regularidade. Mas sua vontade de entrar na faculdade para jogar futebol americano no time da universidade é maior do que qualquer obstáculo. A evolução do jovem nos estudos e no esporte também vale como troféu para a família que o acolheu.

23- Entre os Muros da Escola
FILME: Entre os Muros da Escola (Entre Les Murs, 2007, França, direção: Laurent Cantet, 128 min., drama, classificação indicativa: 12 anos).

A HISTÓRIA: François Marin é professor de francês em uma escola secundária, localizada na periferia de Paris. Ele e seus colegas se esforçam para que os alunos aprendam o conteúdo. François busca estimular a turma, mas tem de enfrentar a falta de educação e o descaso dos jovens. O professor ainda tem de lidar com os conflitos étnicos e culturais: as classes têm alunos franceses e imigrantes das ex-colônias da França na África.

24- O Preço do Desafio
FILME: O Preço do Desafio (Stand and Deliver, 1988, EUA, direção: Ramón Menéndez, 103 min., drama, Classificação Indicativa 14 anos).

A HISTÓRIA: O professor de Matemática Jaime Escalante leciona numa típica escola americana da periferia, que recebe alunos hispânicos, negros e integrantes de gangues. A instituição trata quase todos como pessoas fracassadas, condenadas a não ter um futuro muito interessante. Mas Escalante quer provar que o rótulo está errado, e começa a incentivar uma turma de estudantes a estudar cálculo avançado. O objetivo é fazer o grupo passar no dificílimo teste da matéria, aplicado pelo governo.

25- Ser e Ter
FILME: Ser e Ter (Être et Avoir, França, 2002, direção: Nicolas Philibert, 104 min., documentário. classificação indicativa: livre).

A HISTÓRIA: O documentário mostra a rotina de uma escola de ensino fundamental, na região rural da França, que tem apenas uma classe. O filme conta as dificuldades e dedicação ímpar de um professor - George Lopez - que tem de lidar com alunos entre 4 e 11 anos. Às vésperas da aposentadoria, Lopez mostra como se preocupa em educar a turma não só no que diz respeito aos conteúdos curriculares. 

26- Elefante
FILME: Elefante (Elephant, 2003, EUA, direção: Gus Van Sant, 81 min., drama). Classificação: 12 anos.

A HISTÓRIA: O filme faz referência à tragédia ocorrida no estado norte-americano do Colorado, em 1999, quando dois alunos invadiram a escola onde estudavam e atiraram contra colegas e professores. A história se passa na cidade de Portland, mas se baseia no caso que virou notícia no mundo todo. Nele, dois jovens planejam o crime e conseguem comprar armas semi-automáticas para colocar o plano em prática. 


Fonte: aqui

Definição de Governo

Dias antes do suicídio que o fez entrar para a História, Getúlio Vargas teve uma conversa com o seu ministro da Viação, José Américo de Almeida:

- Impossível governar este país. Os homens de verdadeiro espírito público vão escasseando cada vez mais – desabafou Getúlio.

- E o que é que o senhor acha dos homens de seu governo?– perguntou José Américo.

O ex-ditador observou, desolado:

- A metade não é capaz de nada e a outra metade é capaz de tudo.


Fonte: Poder sem Pudor 

PlayStation Terra

Bato nessa tecla há trinta anos. O mundo em que vivemos não existe, ou pelo menos não existe como imaginamos. O planeta Terra; a humanidade e a histórias de suas civilizações; a cidade em que vivemos; as pessoas que conhecemos; a nossa vida no dia a dia – tudo isso não passa de uma simulação. Nossa consciência foi ativada artificialmente por seres mais poderosos do que somos capazes de imaginar.  E eles nos acompanham com o interesse (e o tédio eventual) de quem joga um videogame ou de quem roda no computador uma simulação para avaliar processos e resultados.

Essa idéia familiar à geração “Matrix” surgiu para mim quando li o romance Simulacron-3 de Daniel F. Galouye (adaptado para o cinema como O 13º. Andar, de Josef Risnak, 1999).  A FC explorou de mil maneiras este tema do indivíduo que descobre que seu mundo não é real, é uma simulação feita em computador, e que ele próprio não existe, é apenas o resultado de um conjunto de instruções.

Agora, Rich Terrile (cientista do Centro de Computação Evolucionária e Design Automativo, no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa) sugere que esse gigantesco projeto simulatório não é obra de alienígenas, mas de pessoas do futuro (aqui: http://tinyurl.com/cpmoqgs). Diz ele: “A cada 6 ou 8 anos surge uma nova versão do PlayStation. Nossa expectativa é de que em 30 anos uma versão, que deverá ser PlayStation 7, será capaz de computar cerca de 10 mil vidas humanas simultaneamente, em tempo real, ou uma vida humana completa em cerca de uma hora. Quantos PlayStation há no mundo? Uns 100 milhões. Pense em 100 milhões de consoles, cada um contendo 10 mil humanos. Conceitualmente, teremos mais humanos vivendo em PlayStations do que os humanos de carne e osso que existem hoje na Terra”.

Terrile ecoa uma frase famosa de Philip K. Dick ao dizer que a realidade não está toda pronta ao mesmo tempo, mas em forma potencial, e só se concretiza quando alguém a observa (como a Física Quântica tem demonstrado em relação ao mundo sub-atômico). Terrile compara o mundo a um jogo como a cidade de Grand Theft Auto IV: Liberty City, que seria um milhão de vezes maior que a capacidade do console, se existisse toda ao mesmo tempo. Acontece que cada trecho da cidade só aparece quando o jogador vai para lá – é como um cenário escuro e um ator andando, sob o facho de um holofote. O que não está sendo iluminado pelo holofote deixa de existir, até ser iluminado novamente. Cada um de nós viveria no seu circulozinho de luz, que se tornaria mais real, mais encorpado, quando muitos interagissem na mesma área. Talvez o nosso presente seja o passatempo sádico dos nossos tataranetos do futuro.


Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Existe vida após a vida

Sempre pensei que ia morrer cedo. A luta armada, a clandestinidade, aventuras, promiscuidade, orgias, riscos… Tudo me levava a crer que não chegaria aos 30 anos. Para quem tem 20 anos, quem tem 30 já é coroa. Tomei um susto quando vi-me vivo e saudável aos 30. Aos 40 percebi a possibilidade real da morte. No dia do meu aniversário quarentão, um jovem ator de 24 anos perguntou como eu me sentia: “Agora? De frente para a morte.” Para minha surpresa foi o jovem quem morreu logo depois.

Aos 50 apaixonei-me pela letra de Aldir Blanc na voz de Paulinho da Viola: “Aos 50 anos, insisto na juventude…”, isso enquanto percebia meu ângulo peniano caminhando para os 90 graus. Mas, antes dos 60, a pílula azul alargou minhas possibilidades e possibilitou-me ver o sexo por ângulos mais estreitos.
Agora estou além dos 60. Aos 40 rezava pela alma dos mortos amigos e parentes. Nome por nome eu pedia ao Senhor. Hoje, são tantos os que caíram, que apenas peço “pelos mortos em geral”. E mais uma vez espanto-me por estar ainda vivo, e consolo-me no Salmo 91.7, que diz: “Mil cairão ao teu lado e dez mil à sua direita, mas você não será atingido.” Mesmo confiando na Palavra, ainda assim caminho embaixo de marquises pra São Pedro não me ver.
Ainda estou vivo, e pra quem pensou que morreria aos 30 descubro que existe vida após a vida. Mas o preço do viver é muito alto para o jovem de hoje: tem que comprar apartamento, arranjar um trampo, ganhar dinheiro, ficar famoso, comer todas, bombar no iutube, malhar, casar, ter filhos, comprar carro, estar bronzeado, conhecer tudo de web e ainda ir ao show da Madonna, entre outras miudezas.
Após os 60 você já está quite com tudo isso e pensa que vai viver em paz. Qual o quê: tem que tomar insulina, antidepressivos, rivotris, controlar a pressão, não comer açúcar, não comer sal, não fumar, não beber, se conseguir comer uma e outra já é uma vitória, tem que caminhar ao menos meia hora por dia, cuidar do joanete, dormir cedo, vender o apartamento, fugir da bolsa, não discutir no trânsito, não se alterar no caixa do supermercado, tolerar os filhos, agradar os netos, ficar calado diante da mediocridade, aceitar o salário de aposentado, ter o testamento em dia e curtir todas as dores ósseas, nervosas e musculares porque se algum dia você acordar sem dor é porque está morto.
Claro que o idoso tem suas vantagens: uma delas é a transparência. Quanto mais velho, mais transparente você se torna. Chega a ficar invisível: ninguém mais lhe percebe, mais um pouco e nem lhe enxergam. Mas pode passar à frente dos jovens nas filas todas, com aquele ar de superior: “Você é jovem e sarado, mas eu tenho prioridade.” E ante qualquer aborrecimento ou dificuldade você ameaça infartar ou ter um AVC. Funciona sempre, todos logo se tornam gentis e cordatos, e é garantia de muitas meias e lenços como presentes no Natal.
Lidando com a minha “terceira idade” ouço de meu psicanalista, o bom Luiz Alfredo: “Só há dois caminhos: envelhecer… o outro, muito pior.” Prefiro envelhecer, aceitando cada minúsculo “sim” que a vida me dá com uma grande alegria e uma grande vitória.

Hoje, quando encontro vaga num elevador de shopping, quando o banco está vazio, ou quando encontro promoção na farmácia, já considero uma bênção gigantesca e agradeço a Deus pela graça alcançada.
Após os 60, como no filme de Brad Pitt, regrido na existência, deixo Paulinho e a viola de lado e reencontro Lupiscinio: “Esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei.” Mas se soubessem não ia adiantar nada: porque a sabedoria é filha do tempo. Como diz o amigo Percinotto, também idoso: “O diabo é sábio porque é velho.”
Pelo andar da carruagem, percebo que já morri muitas vezes nesta vida, e que viverei até fartar-me.

Bemvindo Sequeira 

Autor, ator e diretor de teatro e TV