FUI MENINA INOCENTE COMO FLOR,
FUI DONZELA SINGELA COMO ROSA;
NA ESCOLA FUI SEMPRE PRIMOROSA,
PERDI TUDO SOMENTE POR AMOR.
ME ENTREGUEI A UM SER ENGANADOR
QUE ME USOU PERVERTIDO POR MIL JURAS,
ME JOGANDO NAS LEVAS DAS IMPURAS,
SE ESQUIVANDO DE SER O MEU MARIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
E PERDENDO ESSE MUNDO QUE ERA MEU
E VAGANDO NAS RUAS SEM TER LAR,
NUM PROSTÍBULO TRATEI DE ME ABRIGAR.
NESTE DIA, MEU MUNDO ENEGRECEU.
O AMOR EM MEU PEITO DERRETEU
COMO BANHA USADA NAS FRITURAS.
ESVAÍRAM-SE DE MIM IDÉIAS PURAS,
VI MEU MUNDO GIRAR SEM TER SENTIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHAS DE MINHAS AMARGURAS.
FUI BEIJADA POR BOCAS TÃO IMUNDAS
QUE AS VEZES COM NOJO VOMITEI.
SOU MARCADA POR SURRAS QUE LEVEI
E HERDEI CICATRIZES MUITO FUNDAS.
ESSAS MARCAS, DOÍDAS, E TÃO PROFUNDAS
EM MINHA ALMA FIZERAM MIL FISSURAS.
VIDA FÁCIL É DIFÍCIL, EU FAÇO JURAS;
NESSE DITO, O SENTIDO É INVERTIDO!
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHAS DE MINHAS AMARGURAS.
SOU RAINHA DAS CLASSES MARGINAIS,
MAL CHEIROSOS, BIZARROS E TRUCULENTOS,
ANSIOSOS EM BEBER DE MEUS TORMENTOS
COMO VERMES QUE COMEM OS CARNIÇAIS.
MUITAS VEZES GRITEI, NÃO POSSO MAIS!,
ESPERANDO RESPOSTA DAS
ALTURAS.FUI DONZELA SINGELA COMO ROSA;
NA ESCOLA FUI SEMPRE PRIMOROSA,
PERDI TUDO SOMENTE POR AMOR.
ME ENTREGUEI A UM SER ENGANADOR
QUE ME USOU PERVERTIDO POR MIL JURAS,
ME JOGANDO NAS LEVAS DAS IMPURAS,
SE ESQUIVANDO DE SER O MEU MARIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
E PERDENDO ESSE MUNDO QUE ERA MEU
E VAGANDO NAS RUAS SEM TER LAR,
NUM PROSTÍBULO TRATEI DE ME ABRIGAR.
NESTE DIA, MEU MUNDO ENEGRECEU.
O AMOR EM MEU PEITO DERRETEU
COMO BANHA USADA NAS FRITURAS.
ESVAÍRAM-SE DE MIM IDÉIAS PURAS,
VI MEU MUNDO GIRAR SEM TER SENTIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHAS DE MINHAS AMARGURAS.
FUI BEIJADA POR BOCAS TÃO IMUNDAS
QUE AS VEZES COM NOJO VOMITEI.
SOU MARCADA POR SURRAS QUE LEVEI
E HERDEI CICATRIZES MUITO FUNDAS.
ESSAS MARCAS, DOÍDAS, E TÃO PROFUNDAS
EM MINHA ALMA FIZERAM MIL FISSURAS.
VIDA FÁCIL É DIFÍCIL, EU FAÇO JURAS;
NESSE DITO, O SENTIDO É INVERTIDO!
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHAS DE MINHAS AMARGURAS.
SOU RAINHA DAS CLASSES MARGINAIS,
MAL CHEIROSOS, BIZARROS E TRUCULENTOS,
ANSIOSOS EM BEBER DE MEUS TORMENTOS
COMO VERMES QUE COMEM OS CARNIÇAIS.
MUITAS VEZES GRITEI, NÃO POSSO MAIS!,
OUTRAS VEZES POR MEDO DE TORTURAS,
ESSE GRITO EM MEU PEITO FOI CONTIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
ME EMBRIAGO COM VODCA OU COM CACHAÇA
PRA MELHOR ENGANAR MINHA AGONIA.
VAGO À NOITE E VOU DORMIR DE DIA;
MINHA CAMA: UM BANCO LÁ NA PRAÇA.
SÓ ME RESTA O CHEIRO DE FUMAÇA,
DOS CIGARROS DAS NOITES DE AGRURAS.
NOUTROS BANCOS VISLUMBRO SEPULTURAS,
CADA UM COM UM CORPO ADORMECIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
DISTRIBUO MEUS PECADOS ONDE VOU,
SOU OVELHA, A ESMO, DESGARRADA.
PELOS MALES DA VIDA FUI TOMADA,
SE O MUNDO ME DEU JÁ ME TOMOU.
CONTRA MIM, UM TUFÃO SE LEVANTOU
E LEVOU MINHAS FACES DE TERNURAS.
SOU UM TEMPLO DE COISAS TÃO IMPURAS
QUE MEU CORPO SE ENCONTRA POLUÍDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
EU JÁ FUI PRIMA DONA DO BORDEL,
DISPUTADA POR TODOS OS RICAÇOS;
HOJE CHEGAM É RI DOS MEUS FRACASSOS.
PELO MEL QUE LHES DEI, PAGAM COM FEL;
EU ACEITO MAS ACHO ISSO CRUEL.
POIS JÁ FUI A RAINHA DAS DOÇURAS
DOS MARIDOS SOFRIDOS OU SEM POSTURAS
QUE BEBIAM DO MEU AMOR BANDIDO!
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
TENHO A FACE SUMIDA PELA FOME
COM AS RUGAS QUE O TEMPO DEU A MIM.
EU CARREGO UMA DOR QUE NÃO TEM FIM
PELA FOME DE AMOR QUE ME CONSOME.
SOU UM SER QUE RENEGA O PRÓPRIO NOME,
EU ME SINTO A PIOR DAS CRIATURAS.
PAGUEI CARO DEMAIS MINHAS LOUCURAS;
NEM UM SER PÁRA E HOUVE O MEU GEMIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS
UM CASEBRE PEQUENO É MEU ABRIGO
ONDE A LUZ, QUE RECEBE, É A DA LUA.
ESTE BECO DE LAMA É MINHA RUA,
ONDE UM ÉBRIO, PAGANTE, É MEU AMIGO
TODO RESTO DE PÃO É O MEU TRIGO.
QUE ALIMENTA AS MINHAS DESVENTURAS,
ONDE AS FRESTAS ME SERVEM DE MOLDURAS
E POR PISO SÓ TEM O CHÃO BATIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM SIDO
TESTEMUNHAS DE MINHAS AMARGURAS.
MINHA FILHA PEQUENA É SENTINELA
DOS GEMIDOS DE DOR QUE NÃO CONTENHO
NADA VEJO, NEM SINTO, E NADA TENHO,
SÓ A DOR QUE TORTURA A MIM E A ELA.
COMO LUZ, RESTA A CHAMA DE UMA VELA,
SE ELA APAGA, AMANHEÇO NAS ESCURAS.
FICO EXPOSTA AS MALDADES E ÀS TORTURAS
SEM UM SANTO QUE ESCUTE O MEU GEMIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DE MINHAS AMARGURAS.
PERAMBULO NAS RUAS SEM TER SONO
À PROCURA DE MESA OU DE UM BALCÃO.
DANÇARINA DO PALCO DA ILUSÃO,
VIVO A ESMO IGUAL A UM CÃO SEM DONO.
VEM A NOITE ESCURA IGUAL CARBONO
E COM ELA TERRÍVEIS CRIATURAS,
COMPANHEIRAS DE MINHAS DESVENTURAS
COM UM MUNDO DANTESCO PARECIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
EU PERDI MINHA VIDA EM CADA ESQUINA
E O MUNDO LEVOU-ME EM SEUS MOINHOS.
TROCOU TODOS MEUS SONHOS POR ESPINHOS,
QUE SONHEI EM MEU TEMPO DE MENINA.
HOJE SONHO É COM AVES DE RAPINA
DEVORANDO-ME COM SUAS PICADURAS
COM BANDIDOS, FANTASMAS E OSSATURAS
ME EMPURRANDO NUM VÃO DESCONHECIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
POETISA DAS NOITES MAL DORMIDAS,
FAÇO VERSOS DE DOR E DE CANSAÇO.
JÁ FIZ VERSOS DE AMOR, HOJE NÃO FAÇO,
POIS AMOR NÃO EXISTE ONDE HÁ FERIDAS,
MINHAS HORAS, PRA MIM, SÃO TÃO DOÍDAS
QUE DESEJO PRA MIM AS TREVAS ESCURAS
LADEADAS POR OUTRAS SEPULTURAS,
SÓ QUE DEUS NÃO ESCUTA ESSE PEDIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
OS MEUS SONHOS, BEM SEI, QUE FORAM EM VÃO.
E CAVEI PARA MIM MEU PRÓPRIO ABISMO,
MINHA HERANÇA DO MUNDO É O CINISMO
QUE ME PRENDE NO CENTRO DE UM VULCÃO.
SOU USADA A CUSTA DE TOSTÃO
E ÀS VEZES ME PAGAM É COM TORTURAS,
AUMENTADO DEMAIS AS RACHADURAS
QUE EXISTEM EM MEU PEITO JÁ FERIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
ME IMAGINO AOS SETENTA DE IDADE
COM MIL RUGAS ENFEITANDO A MINHA FACE,
SEMPRE OUVINDO SUSSURROS ONDE EU PASSE,
TENDO EM MIM OS OLHARES DA CIDADE,
IMPLORANDO A QUEM VEM POR CARIDADE,
O PERDÃO PELAS MINHAS DESVENTURAS.
E CLAMANDO A JESUS LÁ NAS ALTURAS
A CLEMÊNCIA DO TEMPO AQUI VIVIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
ATÉ MESMO O JUIZ E O PREFEITO
QUE EM MIM SACIARAM-SE DE PRAZER,
ME CONHECEM , MAS FINGE NÃO ME VER,
NÃO QUE EU QUEIRA IMPOR ALGUM DIREITO.
PORÉM, ACHO CRUEL O PRECONCEITO.
MESMO EU SENDO A PIOR DAS CRIATURAS,
SE MOSTRASSEM PRA MIM SUAS TERNURAS,
IAM TER MEU SORRISO GARANTIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS.
AO MORRER QUERO ESCRITO EM MEU JAZIGO,
SE UMA TUMBA EU FIZER POR MERECER,
“QUE SOFRI NESTE MUNDO ATÉ MORRER”
SE FIZ ALGO DE BOM, LEVO COMIGO
PRA QUE DEUS ME ACOLHA EM SEU ABRIGO,
ME LIVRANDO DE VEZ DAS COISAS IMPURAS.
E MINHA ALMA NÃO VAGUE NAS ESCURAS
POR UM MUNDO DE SOMBRA E ALARIDO.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUEM TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS
CHICO GABRIEL
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