Quase todo líder político tem em mente sua reforma política ideal. O mesmo
vale para a imprensa, a academia, os partidos e as organizações representativas.
Em cada pauta dentro desse tema, um emaranhado de sugestões se soma.
Muitas polêmicas se abrem. Há teses para todos os lados — em grande parte,
plausíveis. Porém, essa vastidão de ideias e meandros que o assunto desperta é
um dos muitos motivos pelos quais a dita reforma não avança.
Trata-se de um jogo de interesses e opiniões que, de tanto ir e vir, acaba
gerando imobilismo. Há unanimidade nas intenções globais, mas uma completa
divergência no plano das ações. Muito se fala, pouco se faz. Muito se
diagnostica, pouco se cura ou remedia. Cada um puxa para um lado. E tudo fica
como está.
A experiência no cotidiano do Congresso Nacional mostra que, ao menos no
curto prazo, não há sinal para que esse quadro mude. Não é perceptível uma
mobilização consistente para mexer estruturalmente nas regras do jogo político,
o que é lamentável. Todavia, em vez de esmorecer, precisamos ser realistas e
fazer tudo o que é possível diante das condições postas.
Do relatório apresentado pelo deputado Henrique Fontana, uma proposta tem
margem para acolhimento praticamente unânime: a unificação das eleições.
Claro que essa mudança não vai transformar a realidade política brasileira
por inteiro, mas ela tende a impulsionar um ciclo de outras boas transformações
— especialmente em relação ao quadro partidário.
Quem viveu as eleições municipais sabe do que estou falando. Todas as siglas,
sem exceção, precisaram adaptar seus discursos para cada quilômetro
percorrido.
As coligações foram as mais variadas possíveis ao longo do território
nacional. A configuração atual respeita a autonomia local para decidir, o que é
compreensível, mas não ajuda a criar uma identidade nacional para os nossos
partidos.
Essa tendência conduz à redução do papel das agremiações partidárias, que
ficam submetidos tão-somente à abordagem de assuntos de pequeno alcance,
localistas.
Claro que nossos partidos precisam e devem ter essa organicidade municipal,
mas também precisam ter identidade e potência nacional. Precisam ser um
organismo em que pessoas se unem em torno de ideias e programas.
A eleição unificada num só dia — de vereador a presidente da República —
tende a exigir esse aprimoramento da coerência partidária, indo ao encontro de
um dos anseios da sociedade em relação aos políticos e às agremiações. Reduz os
gastos fantasticamente e permite continuidade e sintonia administrativa por um
prazo maior.
Não creio que vá desmerecer o pleito municipal. Pelo contrário: o debate
tende a elevar as pautas municipalistas, bem como ampliar a importância dos
gestores e parlamentares locais. Tudo isso se agrega a um conjunto de partidos
mais fortes e com maior participação da sociedade.
É, portanto, uma mudança plausível, possível e viável. Para agora.
Beto Albuquerque é deputado federal (RS) e líder do PSB
na Câmara.
O Globo
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