quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Cícero, Diógenes e o Sucesso


Um artigo publicado há tempos na revista "Você S.A." chamou-me bastante a atenção. Tratava-se do tema "Não confunda sucesso com riqueza", uma abordagem sobre o que vale e o que não vale a pena fazer ou sacrificar "para chegar lá". Baseado no pensamento de Tom Morris, filósofo de 47 anos e fundador do Instituto Morris de Valores Humanos, o artigo mostra também uma pesquisa feita no site da revista com mais de 1.000 pessoas, perguntando, entre outras coisas, o que empregados de todos os escalões prefeririam: ganhar mais 10.000 reais por ano ou 1 hora livre todo dia? As respostas são significativas... No caso específico, muitos abriram mão do dinheiro para viver melhor.
 
    Ainda na mesma edição, pergunta-se a alguns milionários se estão satisfeitos com a vida plena de dinheiro, poder, fama e status. "Não", é a resposta da maioria. Não estão, e são sinceros ao justificar-se: sentem-se vazios e carentes de novas oportunidades que os desafiem a realizar algo diferente, que mexa com suas potencialidades. Tendo tudo, nada mais há para descobrirem. Pequenos prazeres são descartados na busca da meta tão sonhada e, quando a alcançam, as coisas que mais gostavam de fazer, como por exemplo... como... Puxa, o que é mesmo que eles gostavam de fazer? Churrasco com os amigos? Nadar? Andar de bicicleta? Não sabem. As emoções perderam-se em meio a celulares, notebooks e ações na bolsa.
 
    Segundo a referida matéria, há na vida dois tipos de insatisfação: a "insatisfação do possuir" e a "insatisfação da aspiração". A insatisfação do possuir gira em torno do desejo de possuir mais. Como vivemos numa cultura competitiva, fica difícil estabelecer limites. E aí quase nos matamos para conseguir alcançar o sucesso. Às vezes, quase nem notamos que já o ultrapassamos há tempos. Quanto à satisfação da aspiração, essa é benéfica e não tem contra-indicações: quem já está satisfeito com a inteligência que alcançou? Com a cultura? Ou com a ascese espiritual? Ninguém. E buscar essas coisas só nos fazem bem.
 
    Diógenes, assim como Cícero, foram verdadeiros monumentos na arte grega de filosofar. O primeiro, mais ácido em suas observações, também era conhecido como "O Cínico". Um dia recebeu a visita de Alexandre, o Grande. Diógenes perguntou-lhe então quais eram seus planos para o futuro. Alexandre respondeu: "Conquistar a Grécia". "E depois?", indagou Diógenes. "Conquistar a Ásia Menor", respondeu Alexandre, "e depois o mundo". E o Cínico continuou: "E depois disso?". Alexandre disse que então iria descansar e se divertir. Diógenes então fulmina: "Por que você não se poupa a esse trabalhão todo e começa a descansar e a curtir a vida agora mesmo?".
 
    Vivemos para alcançar o sucesso: não apenas para desfrutá-lo, mas também para buscá-lo. Na verdade, as pessoas que tiram mais prazer do sucesso são aquelas que tiram mais prazer enquanto o buscam. Não é o destino, a chegada, mas a viagem que lhes dá prazer.
 
    Esse é o segredo. Até as religiões ensinam assim. Jesus, por exemplo, costumava dizer coisas desnorteadoras, como: "Meu pai dá aos seus filhos enquanto dormem (...), porque de que adianta se preocupar com o dia de hoje ou de amanhã, se você não pode acrescentar um só fio de cabelo à sua cabeça?". Ou: "De que te vale conquistar o mundo inteiro se vieres a te perder de ti mesmo?". Salomão, o riquíssimo e sábio rei de Israel, jogava no lixo suas minas de ouro e prata ao comparar a vida com coisas bem menos buscadas pelos mortais, como a sabedoria e a humildade. "As duas são irmãs, e valem mais do que o ouro e a prata", escreveu por diversas vezes.
 
    A prática tem mostrado que essas teorias têm razão: a vida é bastante simples e o gosto de viver não está no que se alcança, mas no curtir enquanto se alcança. Isso é viver.
 
 
Cezar Augusto Ribeiro

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