Um
artigo publicado há tempos na revista "Você S.A." chamou-me bastante
a atenção. Tratava-se do tema "Não confunda sucesso com riqueza", uma
abordagem sobre o que vale e o que não vale a pena fazer ou sacrificar
"para chegar lá". Baseado no pensamento de Tom Morris, filósofo de 47
anos e fundador do Instituto Morris de Valores Humanos, o artigo mostra também
uma pesquisa feita no site da revista com mais de 1.000 pessoas, perguntando,
entre outras coisas, o que empregados de todos os escalões prefeririam: ganhar
mais 10.000 reais por ano ou 1 hora livre todo dia? As respostas são
significativas... No caso específico, muitos abriram mão do dinheiro para viver
melhor.
Ainda na mesma edição, pergunta-se a alguns milionários se estão satisfeitos
com a vida plena de dinheiro, poder, fama e status. "Não", é a
resposta da maioria. Não estão, e são sinceros ao justificar-se: sentem-se
vazios e carentes de novas oportunidades que os desafiem a realizar algo
diferente, que mexa com suas potencialidades. Tendo tudo, nada mais há para
descobrirem. Pequenos prazeres são descartados na busca da meta tão sonhada e,
quando a alcançam, as coisas que mais gostavam de fazer, como por exemplo...
como... Puxa, o que é mesmo que eles gostavam de fazer? Churrasco com os
amigos? Nadar? Andar de bicicleta? Não sabem. As emoções perderam-se em meio a
celulares, notebooks e ações na bolsa.
Segundo a referida matéria, há na vida dois tipos de insatisfação: a "insatisfação
do possuir" e a "insatisfação da aspiração". A insatisfação do
possuir gira em torno do desejo de possuir mais. Como vivemos numa cultura
competitiva, fica difícil estabelecer limites. E aí quase nos matamos para
conseguir alcançar o sucesso. Às vezes, quase nem notamos que já o
ultrapassamos há tempos. Quanto à satisfação da aspiração, essa é benéfica e
não tem contra-indicações: quem já está satisfeito com a inteligência que
alcançou? Com a cultura? Ou com a ascese espiritual? Ninguém. E buscar essas
coisas só nos fazem bem.
Diógenes, assim como Cícero, foram verdadeiros monumentos na arte grega de
filosofar. O primeiro, mais ácido em suas observações, também era conhecido
como "O Cínico". Um dia recebeu a visita de Alexandre, o Grande.
Diógenes perguntou-lhe então quais eram seus planos para o futuro. Alexandre
respondeu: "Conquistar a Grécia". "E depois?", indagou
Diógenes. "Conquistar a Ásia Menor", respondeu Alexandre, "e
depois o mundo". E o Cínico continuou: "E depois disso?".
Alexandre disse que então iria descansar e se divertir. Diógenes então fulmina:
"Por que você não se poupa a esse trabalhão todo e começa a descansar e a
curtir a vida agora mesmo?".
Vivemos para alcançar o sucesso: não apenas para desfrutá-lo, mas também para buscá-lo.
Na verdade, as pessoas que tiram mais prazer do sucesso são aquelas que tiram
mais prazer enquanto o buscam. Não é o destino, a chegada, mas a viagem que
lhes dá prazer.
Esse é o segredo. Até as religiões ensinam assim. Jesus, por exemplo, costumava
dizer coisas desnorteadoras, como: "Meu pai dá aos seus filhos enquanto
dormem (...), porque de que adianta se preocupar com o dia de hoje ou de
amanhã, se você não pode acrescentar um só fio de cabelo à sua cabeça?".
Ou: "De que te vale conquistar o mundo inteiro se vieres a te perder de ti
mesmo?". Salomão, o riquíssimo e sábio rei de Israel, jogava no lixo suas
minas de ouro e prata ao comparar a vida com coisas bem menos buscadas pelos
mortais, como a sabedoria e a humildade. "As duas são irmãs, e valem mais
do que o ouro e a prata", escreveu por diversas vezes.
A prática tem mostrado que essas teorias têm razão: a vida é bastante simples e
o gosto de viver não está no que se alcança, mas no curtir enquanto se alcança.
Isso é viver.
Cezar
Augusto Ribeiro
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