Até
quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda
há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de
precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a
ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de
todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião
do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto
conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de
todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a
conhecem? Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na
noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem
convocaste, que deliberações foram as tuas?
Oh
tempos, oh costumes! O Senado tem conhecimento destes fatos, o cônsul
tem-nos diante dos olhos; todavia, este homem continua vivo! Vivo?! Mais
ainda, até no Senado ele aparece, toma parte no conselho de Estado,
aponta-nos e marca-nos, com o olhar, um a um, para a chacina. E nós,
homens valorosos, cuidamos cumprir o nosso dever para com o Estado, se
evitamos os dardos da sua loucura. à morte, Catilina,
é que tu deverias, há muito, ter sido
arrastado por ordem do cônsul; contra ti é que se deveria lançar a ruína
que tu, desde há muito tempo, tramas contra todos nós (...)
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*As Catilinárias (em latim In Catilinam Orationes Quattuor) são uma série de quatro discursos célebres de Cícero, o cônsul romano Marco Túlio Cícero, pronunciados em 63 a.C. Os discursos são um ato de denúncia contra a conspiração pretendida pelo senador Lúcio Sérgio Catilina.
Apesar do tempo em que foi pronunciado, nos parece bastante atual.
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