Os homens (diz uma antiga máxima
grega) são atormentados pelas ideias que têm das coisas, e não pelas
próprias coisas. Haveria um grande ponto ganho para o alívio da nossa
miserável condição humana se pudéssemos estabelecer essa asserção como
totalmente verdadeira. Pois, se os males só entraram em nós pelo nosso
julgamento, parece que está em nosso poder desprezá-los ou
transformá-los em bem. Se as coisas se entregam à nossa mercê, por que
não dispomos delas ou não as moldarmos para vantagem nossa? Se o que
denominamos mal e tormento não é nem mal nem tormento por si mesmo, mas
somente porque a nossa imaginação lhe dá essa qualidade, está em nós
mudá-la. E, tendo essa escolha, se nada nos força, somos
extraordinariamente loucos de bandear para o partido que nos é o mais
penoso e dar às doenças, à indigência e ao desvalor um gosto acre e mau,
se lhes podemos dar um gosto bom e se, a fortuna fornecendo
simplesmente a matéria, cabe a nós dar-lhe a forma.
Porém vejamos se é possível sustentar que aquilo que denominamos por mal não o é em si mesmo, ou pelo menos que, seja ele qual for, depende de nós dar-lhe outro sabor e outro aspecto, pois tudo vem a ser a mesma coisa. Se a natureza própria dessas coisas que tememos tivesse o crédito de instalar-se em nós por poder seu, ele se instalaria exatamente da mesma forma em todos; pois os homens são todos de uma só espécie e, exceto por algo a mais ou a menos, acham-se munidos de iguais órgãos e instrumentos para pensar e julgar. Mas a diversidade das ideias que temos sobre essas coisas mostra claramente que elas só entram em nós por mútuo acordo: alguém por acaso coloca-as dentro de si com a sua verdadeira natureza, mas mil outros dão-lhes dentro de si uma natureza nova e contrária.
Porém vejamos se é possível sustentar que aquilo que denominamos por mal não o é em si mesmo, ou pelo menos que, seja ele qual for, depende de nós dar-lhe outro sabor e outro aspecto, pois tudo vem a ser a mesma coisa. Se a natureza própria dessas coisas que tememos tivesse o crédito de instalar-se em nós por poder seu, ele se instalaria exatamente da mesma forma em todos; pois os homens são todos de uma só espécie e, exceto por algo a mais ou a menos, acham-se munidos de iguais órgãos e instrumentos para pensar e julgar. Mas a diversidade das ideias que temos sobre essas coisas mostra claramente que elas só entram em nós por mútuo acordo: alguém por acaso coloca-as dentro de si com a sua verdadeira natureza, mas mil outros dão-lhes dentro de si uma natureza nova e contrária.
Michel de Montaigne
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