Criei o costume de, toda semana, comprar
sequilho com goiabada na padaria perto daqui de casa. Comê-lo bebendo um
café sem açúcar tornou-se, sem exagero, um dos momentos mais deliciosos
da semana (tirando o dia da coxinha com café). Mas a goiabada me
incomodava. Não necessariamente ela, mas sua pouca quantidade. Era um
pingo no meio do sequilho.
Reclamei na padaria, chamei o padeiro de
casquinha e tudo mais. Outro dia, voltando do trabalho, passei pela
padaria e, pra minha sorte, disseram que havia um sequilho especial pra
mim. Lá estava, o meu sonho num sequilho de um real. Quase que
completamente coberto de goiabada.
Chegando em casa, preparado o café e toda a
ritualística necessária para consumir o apetecível sequilho, ocorreu
que não comi nem a metade. Enjoei na segunda mordida. Doce demais,
chegava a dar náuseas. Dia seguinte, cheguei na padaria e lá estava:
outro sequilho coberto de goiabada. Me ofereceram e, por vergonha de
dizer que odiei o do dia anterior, comprei. Em casa, raspei a goiabada e
comi.
O problema, o inferno, não era a goiabada
nem o padeiro, era eu. Fui eu que, amando o que amava, queria do meu
jeito, sem entender que eu gostava era do jeito que era, porque, se do
meu jeito fosse, eu rejeitaria, enjoaria e até tentaria fazê-lo voltar a
ser como era.
Assim fazemos com as pessoas também. No
início, as amamos como são, depois que estão conosco começamos a
criticar, tentamos mudá-las, tentamos “colocar do nosso jeito”, sem
saber que nosso jeito são nossas projeções, pessoas que não existem e
que, se existissem, enjoaríamos delas.
Transformamos para descartar, porque quando aquela pessoa muda, muito provavelmente de quem gostávamos não está mais lá.
Autor desconhecido
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