Presença da tragédia
Se alguém me matasse. Se eu fosse abatido a tiros
por uma amante, pelo marido de uma de minhas amantes, por um neurótico pela fama, por um
serial killer americano que tivesse vindo ao Brasil, pelo engano de um traficante, por um
assaltante num cruzamento, por uma das milhares de balas perdidas que cruzam a cidade, por
uma dessas motos enraivecidas que alucinam o transito, por um colega de profissão
inconformado com a minha fama. Se morresse em uma inundação, atingido por um raio ou por
um arvore derrubada por um vendaval. Por um remédio com data vencida, por uma comida
estragada. Uma tragédia noticiada por toda a mídia, alimentada e realimentada,
provocando manchetes vorazes, devoradas com prazer pelo publico e construindo a minha
legenda. Melhor que fosse algo misterioso. O noticiário duraria mais tempo, o caso seria
revisto por curiosos dispostos a desvendar enigmas. Provocar a necessidade de uma
autopsia, de exumação. Ser o enigma do século seria a minha gloria. Se eu tivesse essa
certeza, não me incomodaria de estar morto.
Ignácio de Loyola
Brandão
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