segunda-feira, 24 de abril de 2017

Quintana

Da arte de ser bom 

Sê bom. Mas ao coração
Prudência e cautela ajunta.
Quem todo de mel se unta,
Os ursos o lamberão. 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da arte de ser bom. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 38.) 

Da calúnia 

Sorri com tranquilidade
Quando alguém te calunia.
Quem sabe o que não seria
Se ele dissesse a verdade... 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da calúnia. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 57.) 

Da discreta alegria 

Longe do mundo vão, goza o feliz minuto
Que arrebataste às horas distraídas.
Maior prazer não é roubar um fruto
Mas sim ir saboreá-lo às escondidas. 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da discreta alegria. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 30.) 

Da discrição 

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo de teu amigo
Possui amigos também... 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da discrição. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 50.) 

Da experiência 

A experiência de nada serve à gente.
É um médico tardio, distraído:
Põe-se a forjar receitas quando o doente
Já está perdido... 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da experiência. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 57.) 

Da felicidade 

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz! 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da felicidade. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 47.) 

Da indiscrição 

Passível é de judicial sentença
O que na casa alheia se intromete.
Só nos falta é uma lei que aos importunos vete
A entrada em nossas almas, sem licença... 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da indiscrição. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 50.)

Da interminável despedida 

Ó Mocidade, adeus! Já vai chegar a hora!
Adeus, adeus... Oh! essa longa despedida...
E sem notar que há muito ela se foi embora,
Ficamos a acenar-lhe toda a vida... 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da interminável despedida. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 44.) 

Da moderação 

Cuidado! Muito cuidado...
Mesmo no bom caminho urge medida e jeito.
Pois ninguém se parece tanto a um celerado
Como um santo perfeito... 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da moderação. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 52.) 

Da morte 

Um dia... pronto!... me acabo.
Pois seja o que tem de ser.
Morrer que me importa?... O diabo
É deixar de viver! 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da morte. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 61.) 

Da observação 

Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio... 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da observação. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 56.) 

Da perfeição da vida 

Por que prender a vida em conceitos e normas?
O Belo e o Feio... O Bom e o Mau... Dor e Prazer...
Tudo, afinal, são formas
E não degraus do Ser! 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da perfeição da vida. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 36.) 

Da sabedoria dos livros 

Não penses compreender a vida nos autores.
Nenhum disto é capaz.
Mas, à medida que vivendo fores,
Melhor os compreenderás. 

Mário Quintana (“Espelho mágico”)
(QUINTANA, Mário. Da sabedoria dos livros. In: _____. Espelho mágico. São Paulo: Globo, 1. ed., 2005, p. 39.)

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