A
vida é um contínuo, uma sucessão de acontecimentos, muitos deles
relacionados entre si, gerando consequências em cadeia, como a água da
chuva que molha o solo, encharca a terra, escorre morro abaixo, abastece
os córregos, enche os rios, suja o mar, impede a pesca de mergulho e
acaba protegendo as lagostas. Nestes dias de vento sul bem fraquinho, a
água do mar está espelhada e transparente como há muito não se via. No
meu tempo de rapaz atlético, uma água dessas era motivo para matar aula e
remar até as ilhas do Boi ou do Frade, em busca das lagostas. Hoje, há
quem diga que as lagostas sumiram das redondezas, em função do minério
de ferro que cai no mar o ano inteiro e da pesca desenfreada.
Em
terra firme, fatos e pecados que misturam o mundo da política e o
submundo dos negócios estão sendo revelados em larga escala pelos
próprios atores, em dezenas de depoimentos de envergonhar mães de
delatores e delatados. Denúncias graves e, possivelmente, comprováveis,
são retrucadas com negativas cínicas e burocráticas. No tempo do
Mensalão, apostei que caciques também seriam presos, além dos bagrinhos.
Agora tenho visto manobras de políticos comprometidos até os dentes
tentando aprovar leis que protejam seus interesses. Faz parte do jogo.
Otimista, gosto de acreditar que o processo vai continuar se
desdobrando, evoluindo, para ser mais exato. Se a morte de Teori aliviou
alguns, a atuação de Fachin deve estar tirando o sono de muita gente.
Acredito que a Lava Jato já tenha atingido o chamado ponto de não
retorno.
Para
além da sensação de impotência, da descrença e das teorias de
conspiração, vejo que começam a brotar iniciativas individuais e de
pequenos grupos orientadas para a busca de soluções para o descalabro
nacional. Tem gente propondo, inclusive, uma Assembleia Constituinte,
composta por brasileiros notáveis e de ficha-limpa, para rever a
legislação que regula a atividade política, passar uma régua nas
práticas e lideranças vigentes e, sobretudo, possibilitar um futuro mais
animador.
Álvaro de Abreu
Nenhum comentário:
Postar um comentário