O
imigrante português João José dos Reis Junior, portador do titulo
nobiliárquico de conde São Salvador de Matosinho, era o proprietário da
casa número 63 da Rua do Ouvidor, no centro do Rio, onde, por inspiração
de Quintino Bocaiúva, “o príncipe da imprensa brasileira” fundou e instalou “O Paíz”,
jornal “independente, político, literário e noticioso”. Era primeiro de
outubro de 1884. O diário adotaria diversos perfis políticos ao tempo
em que, enfrentava também, dificuldades financeiras. Sobreviveu até os
anos 1930. Foi grande instrumento da causa abolicionista. Atravessou a
República Velha sempre ao lado do poder. Intransigente adversário da
Aliança Liberal, ao chegar à era Vargas, já estava nos estertores devido
à longa noite de censura imposta a partir de 1924 na gestão de Artur
Bernardes na presidência da Republica. O permanente “estado de sitio”
amordaçou a imprensa e deixou em situação desfavorável os órgãos que se
propunham a defender o governo, como era o caso de “O Paiz”.
Durante sua existência, o jornal registrou a passagem por sua redação de
figuras eminentes da intelectualidade nacional, a exemplo de Rui
Barbosa, Joaquim Nabuco, Alcindo Guanabara, João Lage e Eduardo
Salamone, este ultimo um veterano desde os tempos da fundação e que
assumiria a chefia de redação a partir de 1891.Com sua sede invadida por
uma multidão de fanáticos getulistas, e incendiada, a historia desse
jornal chega ao final com suas rotativas arrematadas em um leilão pelo paraibano Assis Chateaubriand.
Eduardo Salamone, já referido anteriormente, redator chefe de “O Paiz”, esteve em visita à Paraíba e foi festivamente recebido pelos integrantes do jornal O Commercio, conforme noticia em
sua primeira pagina a edição de 8 de maio de 1900. A rapidez da visita
foi lamentada pelo jornal de Artur Aquiles que assim dirigiu-se aos seus
leitores: “ A inesperada partida do porto de Pernambuco do vapor
Planeta, não nos deo tempo sulfficiente para aparelharmos a recepção que
merecia Eduardo Salamone, entretanto, proporcionamo-lhe quanto nos
permittio a restrição do tempo e nas poucas horas que esteve entre nós
manifestamo-lhe a satisfação, a ufania e apreço recebidas da imprensa e
moços d’ esta terra. A uma hora da tarde, em bonde especial, gentilmente
offerecido pelo Sr Gerente da Companhia, percorremos todos as
partes da cidade servidas por este meio de transporte, até que pelas 3
horas o notável homem de letras teve de regressar a estação central, a
tomar o trem que o havia de condusir ao bojo do “Planeta” fundeado em
Cabedello”.
O ilustre visitante estava acompanhado da esposa e dois filhos e foram hospedes de O Commercio.
Na estação ferroviária estavam a esperá-lo o próprio Artur Aquiles,
responsável pelo diário e seu co-proprietário, jornalista Eduardo
Fernandes, e Affonso Gouveia. O tesoureiro Diomedes Cantalice
deslocou-se até Cabedelo para abraçar o periodista carioca, também
acolhido pelo correspondente de “O Paiz” entre nós, Tito
Enrique da Silva. O jornal paraibano não esqueceu de registrar que a
família visitante passou por alguns momentos de repouso,” preenchidos pela prosa castiça de Salamone” antes que lhe fosse servido um modesto almoço na residência dos moços Manoel de Carvalho,Joaquim Etelvino e Antonio Peixoto, “muitos distintos moços de nosso commercio”.
O Commercio
fazia oposição ao governo estadual da Paraíba e aproveitou para
alfinetar seus adversários, censurando a ausência de representante do
jornal oficial A União, na recepção ao badalado jornalista brasileiro: “Tornou-se notável a ausência de qualquer dos confrades da “União” na recepção ao talentoso redactor do “Paiz”, tanto mais quanto
fora ella avisada com antecedência do facto de sua passagem por esta
capital. Eduardo Salamone é um dos luminares da imprensa do Brasil; eis a
explicação da falta do nosso colega indígena,cuja preocupação exclusiva
é, actualmente, a politicagem de aldeia e o engrossamento aos que
afinam só pelo diapasão do partidarismo armado a dynamite”.
Detalhe
curioso sobre a história desse importante periódico: Rui Barbosa só
assumiria a chefia da sua redação por três dias, sendo substituído por
Quintino Bocaiúva que ali permaneceu até ser nomeado ministro de Deodoro
da Fonseca. Joaquim Nabuco, apesar de abolicionista, era monarquista e
por divergir da linha editorial do jornal, que defendia a República,
despediu-se de suas páginas.
Ramalho Leite
E aqui termina a narrativa da visita de “O Paiz” à Paraíba.( Nas transcrições mantive a grafia da época)
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