Acho que em consequência desse “amor infinito” que nutro pelos
políticos corruptos, fui convidado para uma reunião onde alguns
militantes das redes sociais pretendiam fundar uma associação nacional
destinada a modificar o sistema político brasileiro. Como cheguei depois do horário, imaginei que nem teria onde sentar, porque o local deveria estar apinhado de revolucionários.
Qual o quê! Eram 4 cidadãos dotados da maior boa vontade, recheados
de patriotismo e absolutamente desligados da nossa realidade. Um deles,
com uma camiseta onde aparecia o rosto de Che Guevara usando orelhas de
Mickey Mouse estava propondo a ideia geral do movimento; nada mais, nada menos, do que demitir os políticos que não correspondessem às expectativas dos eleitores.
Ele explicou que a demissão era a única figura jurídica que se aplicava
porque para um político ter seu mandato cassado, sempre dependerá do
Judiciário, e no caso, além de demorado, esse processo não permite que
os eleitores tenham qualquer participação.
Funcionaria assim; através de uma reforma constitucional, o
voto que é secreto poderia opcionalmente ser identificado pelos
eleitores que assim o desejassem. Ou seja, o eleitor optaria na hora
de votar pelo sigilo do seu voto ou pela identificação do mesmo. Depois
de votar, se tivesse optado pelo voto aberto, o eleitor receberia um
papel onde ele estaria identificado, bem como todos os candidatos nos
quais votara.
Isso serviria a dois propósitos; o primeiro deles era confirmar
se aquela urna fora fraudada, porque haveria como provar que o voto dado
a seus candidatos não aparecera no resultado oficial, acabando de vez
com aquela desculpa de que o eleitor se confundira na hora de votar.
O segundo e principal propósito seria o de permitir que quando a
maioria dos eleitores que votaram em determinado candidato não
concordassem mais com seus encaminhamentos políticos, simplesmente
juntariam a prova de que votaram nele e o demitiriam do mandato, “que afinal é nosso, sendo ele somente nosso representante”, disse o rapaz.
E por aí foi a conversa até que me perguntaram o que achava. “-
Eu acho é graça, porque no dia que vocês conseguirem convencer os
Deputados e Senadores a votarem algo contra seus interesses, como é o
caso desse projeto, vai estar bem pertinho do Sargento Garcia prender o
Zorro”.
Fui expulso do recinto.
Marcos Pires
Correio da Paraiba
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