terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A seleção ainda não está pronta e pode melhorar



Escrevi, em outra coluna, que a tecnologia e o árbitro de vídeo só deveriam entrar em campo em pouquíssimas situações especiais, decisivas, como para saber se a bola entrou ou não no gol, em uma agressão fora do lance, que não foi vista pelo árbitro e pelos auxiliares, em um gol feito, intencionalmente, com a mão, como o do Peru, que eliminou o Brasil na última Copa América.

Se o gol do Peru tivesse sido anulado pelo árbitro de vídeo, o Brasil continuaria na competição, poderia melhorar e até ser campeão. Dunga continuaria, e a seleção não teria Tite, um técnico muito superior. O acaso, o "quase", o "se" são frequentes e mudam a história de um jogo, de um campeonato e das nossas vidas. Os pragmáticos, utilitaristas, gostam de dizer que o "se" não joga, mas ele é importante para lembrar de nossas incertezas e inseguranças. Quase tudo é relativo.

As seis boas atuações e vitórias seguidas da seleção com Tite devem ser elogiadas e vistas com otimismo, mas sem oba-oba e sem perder o senso crítico. Zagallo, Parreira e Felipão foram campeões do mundo e, depois, bastante criticados. Antes da derrota para a Holanda, na Copa de 2010, Dunga tinha 80% de aprovação popular. Um descuido, um erro, uma expulsão mudam toda a história.

As seis vitórias não significam, necessariamente, que os titulares atuais são os melhores de suas posições. Provavelmente, Thiago Silva e Douglas Costa ainda serão titulares da seleção. O que está bom pode ficar ainda melhor. Douglas pode entrar no lugar do ótimo Philippe Coutinho ou, se mudar o desenho tático, o que não é hoje necessário, formar, com Coutinho e Neymar, um trio de meias atacantes. Sairia Paulinho.

Outra alternativa, estranha para quase todos, seria colocar Marcelo no meio-campo, mais pela esquerda, passando Renato Augusto para a direita, no lugar de Paulinho. Marcelo, acostumado a marcar, possui um bom passe e, quando avança, é decisivo e excepcional. Além disso, o Brasil possui outro excelente lateral, Filipe Luís.

Paulinho é um bom marcador e um bom atacante, quando entra na área. Como armador, é discretíssimo. Apesar das boas atuações, o time depende demais das estocadas em velocidade dos atacantes. Há pouco domínio da bola e do jogo. Isso pode ser uma dificuldade mais à frente, contra as melhores seleções europeias (Alemanha, França e Espanha), que se destacam pela troca de passes e pelo domínio do jogo, já que possuem os melhores meio-campistas do mundo.

Após as seis vitórias, quase todos falaram que o problema da seleção não era individual, e sim de técnico. Há discussões. O Brasil nunca teve uma geração ruim, como muitos afirmavam, nem passou a ser excepcional. É uma boa geração. Na última lista dos 23 melhores do mundo da Fifa, Neymar continua sendo o único brasileiro. Por posição, os maiores destaques do Brasil, além de Neymar, estão na zaga (Thiago Silva) e nas laterais (Marcelo e Daniel Alves).

A geração melhorou com Tite, pois os jogadores atuam melhor quando se forma um bom conjunto e porque vários deles já tinham evoluído em seus clubes, antes de atuarem sob o comando do novo treinador, como Philippe Coutinho, Douglas Costas, Fernandinho, Casemiro e Marcelo. Antes, não havia também Gabriel Jesus. O Brasil voltou a ser um dos candidatos ao título mundial. Temos de sonhar, mas com os pés no chão.

Tostão

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