Escrevi, em outra coluna, que a
tecnologia e o árbitro de vídeo só deveriam entrar em campo em pouquíssimas
situações especiais, decisivas, como para saber se a bola entrou ou não no gol,
em uma agressão fora do lance, que não foi vista pelo árbitro e pelos
auxiliares, em um gol feito, intencionalmente, com a mão, como o do Peru, que
eliminou o Brasil na última Copa América.
Se o gol do Peru tivesse sido
anulado pelo árbitro de vídeo, o Brasil continuaria na competição, poderia
melhorar e até ser campeão. Dunga continuaria, e a seleção não teria Tite, um
técnico muito superior. O acaso, o "quase", o "se" são
frequentes e mudam a história de um jogo, de um campeonato e das nossas vidas.
Os pragmáticos, utilitaristas, gostam de dizer que o "se" não joga,
mas ele é importante para lembrar de nossas incertezas e inseguranças. Quase
tudo é relativo.
As seis boas atuações e vitórias
seguidas da seleção com Tite devem ser elogiadas e vistas com otimismo, mas sem
oba-oba e sem perder o senso crítico. Zagallo, Parreira e Felipão foram
campeões do mundo e, depois, bastante criticados. Antes da derrota para a
Holanda, na Copa de 2010, Dunga tinha 80% de aprovação popular. Um descuido, um
erro, uma expulsão mudam toda a história.
As seis vitórias não significam,
necessariamente, que os titulares atuais são os melhores de suas posições.
Provavelmente, Thiago Silva e Douglas Costa ainda serão titulares da seleção. O
que está bom pode ficar ainda melhor. Douglas pode entrar no lugar do ótimo
Philippe Coutinho ou, se mudar o desenho tático, o que não é hoje necessário,
formar, com Coutinho e Neymar, um trio de meias atacantes. Sairia Paulinho.
Outra alternativa, estranha para
quase todos, seria colocar Marcelo no meio-campo, mais pela esquerda, passando
Renato Augusto para a direita, no lugar de Paulinho. Marcelo, acostumado a
marcar, possui um bom passe e, quando avança, é decisivo e excepcional. Além
disso, o Brasil possui outro excelente lateral, Filipe Luís.
Paulinho é um bom marcador e um bom
atacante, quando entra na área. Como armador, é discretíssimo. Apesar das boas
atuações, o time depende demais das estocadas em velocidade dos atacantes. Há
pouco domínio da bola e do jogo. Isso pode ser uma dificuldade mais à frente,
contra as melhores seleções europeias (Alemanha, França e Espanha), que se
destacam pela troca de passes e pelo domínio do jogo, já que possuem os
melhores meio-campistas do mundo.
Após as seis vitórias, quase todos
falaram que o problema da seleção não era individual, e sim de técnico. Há discussões.
O Brasil nunca teve uma geração ruim, como muitos afirmavam, nem passou a ser
excepcional. É uma boa geração. Na última lista dos 23 melhores do mundo da
Fifa, Neymar continua sendo o único brasileiro. Por posição, os maiores
destaques do Brasil, além de Neymar, estão na zaga (Thiago Silva) e nas
laterais (Marcelo e Daniel Alves).
A geração melhorou com Tite, pois os
jogadores atuam melhor quando se forma um bom conjunto e porque vários deles já
tinham evoluído em seus clubes, antes de atuarem sob o comando do novo
treinador, como Philippe Coutinho, Douglas Costas, Fernandinho, Casemiro e
Marcelo. Antes, não havia também Gabriel Jesus. O Brasil voltou a ser um dos
candidatos ao título mundial. Temos de sonhar, mas com os pés no chão.
Tostão
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/colunaseblogs/tostao/2016/12/1845041-a-selecao-ainda-nao-esta-pronta-e-pode-melhorar.shtml.
Acesso em: 10 janeiro 2017.)
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