O evento será no Centro Cultural Zé do Norte, na próxima quinta-feira, dia 19, a partir das 19 horas. O
livro Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre
Cícero, publicado pela Editora Livro Rápido, do Recife, será apresentado
pelo padre Janilson Rolim.
O ensaio analisa a criação, em 1914, da diocese de Cajazeiras, a
partir do contexto nacional marcado pela reestruturação da Igreja
Católica Apostólica Romana, depois da separação da Igreja do Estado,
decretada pelo regime republicano. Nessa época, existia forte
oposição da hierarquia católica às ações desenvolvidas pelo padre
Cícero, desde a ocorrência e divulgação do pretenso milagre da
transformação da hóstia em sangue na boca da beata Maria de Araújo. A
intransigente posição da Igreja oficial teve efeito decisivo na
localização do bispado em Cajazeiras. Daí porque mergulhei na história
de mais de um século atrás, visando reunir dados e pontos de vista que
confirmam o que o sociólogo Sergio Miceli classificou como um cerco ao
fanatismo irradiado de Juazeiro.
Eis um resumo do conteúdo do livro.
Quais os efeitos da separação da Igreja do Estado imposta pela
República? Por que o fanatismo religioso em torno do padre Cícero
atemorizou a Igreja? Por que o Vaticano o puniu? A instalação do
bispado em Cajazeiras se deve ao prestígio dos donos do poder local? A
imagem do padre Inácio Rolim influenciou a escolha da sede da diocese? A
Igreja se aliava aos coronéis? Como eram vistos os cangaceiros? Essas
questões, isoladas na aparência, se encaixam sob o olhar crítico de
Cartaxo Rolim, que encontrou respaldo acadêmico e percorreu,
seletivamente, a história do Brasil, do ocaso do Império ao começo do
século XX, para fundamentar ousadas afirmativas.
Fatores históricos nacionais e regionais, relacionados com a estratégia de atuação da Igreja, são esmiuçados no ensaio, no qual aflora a contradição entre a concepção da hierarquia católica e a crença popular na santidade do padre Cícero.
Tal descompasso é tratado aqui com isenção. A expansão
territorial da Igreja no Nordeste, após a extinção do padroado, sofre a
influência da decisão da cúpula do clero de estabelecer um cerco ao
fanatismo religioso. Fanatismo derivado dos “fatos extraordinários do Joaseiro” e da transformação do padre Cícero em mito.
Na ótica oficial, as romarias a Juazeiro representavam um perigo, numa
época em que a sombra de Antônio Conselheiro ainda se projetava com
vigor. Tudo isso, associado a alianças de coronéis e cangaceiros,
assustava à Igreja no Brasil.
O livro esquadrinha fatos históricos, confronta opiniões contemporâneas dos acontecimentos.
Daí as constantes referências à situação política e religiosa da
Paraíba e do Ceará, no começo do século XX. Para isso, o autor recorreu à
extensa bibliografia, cartas pastorais e outros documentos. E consultou
centenas de exemplares do jornal A Imprensa, órgão oficial da diocese
da Paraíba, fonte indispensável para captar o ponto de vista da Igreja
acerca do fanatismo religioso e do papel exercido pelo padre Cícero.
Fruto de mais de dois anos de estudos, este livro procura desfazer,
também, alguns equívocos repetidos pela tradição oral e incorporados
pela historiografia paraibana. Emblemática é, por exemplo, a falsa
disputa que teria havido entre cidades sertanejas para sediar o bispado,
criado em 1914 no sertão da Paraíba.
P S – Convido você, leitor e leitora amiga, a comparecer ao Centro Zé do Norte, dia 19, quinta-feira.
Do Candeeirocaja
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