Canção de amor qualquer sujeito de boa memória faz, não é mesmo? “Eu te
amo demais, sem você não sei viver, em você encontrei minha paz, não
vejo a hora de abraçar você...” Três minutos desse repetitório e estamos
conversados. Canção de amor, amigos, virou xerox de clichê. Assim como
hamburger do MacDonald’s e churrasquinho-no-espeto de porta de Estádio
são as mais rudimentares entidades que ainda podem ser chamadas de
“comida”, canção de amor desse tipo é a pizza-congelada-de-supermercado
da música popular.
Fazer canção de amigo é outra história. O amor é diferente da amizade, e, como disse Caetano Veloso, “quem há de negar que esta lhe é superior?” O amor pode ser um sentimento mais intenso e mais profundo, mas a amizade é algo mais equilibrado e mais amplo. Os Beatles têm um clássico como “With a little help from my friends”, ou então “Two of Us”, cançãozinha que exprime como nenhuma outra a sensação de excitação e liberdade de garotos correndo à solta pelo mundo, sem compromisso, “aprontando” sem preocupações: “Nós dois, mandando cartões postais, escrevendo cartas em cima do muro, riscando fósforos, destrancando portões...” (Embora algumas versões digam que MacCartney fez a música para sua então recente namorada Linda: “Eu e você temos recordações mais vastas do que a estrada que se estende à nossa frente”)
Lembrem-se de “Morro Velho”, a canção em que Milton Nascimento conta a vida de dois garotos de fazenda, um branco e um preto. É uma história da amizade que, na infância, se resume ao afeto puro e irrestrito, sem malícia, de garotos que vivem soltos no mato, tibungando em barreiro, caçando passarinho. O tempo passa, e a diferença de classes os separa na vida adulta: “E o seu velho camarada já não brinca, mas – trabalha...” Existem as amizades cuja origem só se explica no final, como em “Chico Mineiro” de Tonico e Tinoco, em que a tristeza do narrador após a morte do amigo se explica (folhetinescamente) ao descobrir que Chico era seu “legítimo irmão”.
A canção clássica que define os parâmetros da amizade é “You’ve Got a Friend” de James Taylor, que aliás pede uns versinhos emprestados a “Any Time at All” dos Beatles: “All you’ve got to do is call, and I’ll be there...” O próprio Taylor, ao vir cantar no Rock in Rio em 1985, quase caiu para trás ao ver 200 mil brasileiros cantando a música inteira a uma só voz. Em português, não conheço outra tão singela e tão tocante quanto a homenagem de Roberto Carlos para Erasmo: “Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada... Amigo de tantos caminhos e tantas jornadas...” Dentro da singeleza poética de Roberto, é uma canção mais verdadeira e mais contidamente emocionada do que muitas das canções de amor que ele (ou melhor, a dupla) compôs ao longo de muitas décadas. Dizer que você está doido por uma mulher é relativamente fácil; eu quero ver é o camarada fazer uma música falando de seu afeto por outro homem.
Fazer canção de amigo é outra história. O amor é diferente da amizade, e, como disse Caetano Veloso, “quem há de negar que esta lhe é superior?” O amor pode ser um sentimento mais intenso e mais profundo, mas a amizade é algo mais equilibrado e mais amplo. Os Beatles têm um clássico como “With a little help from my friends”, ou então “Two of Us”, cançãozinha que exprime como nenhuma outra a sensação de excitação e liberdade de garotos correndo à solta pelo mundo, sem compromisso, “aprontando” sem preocupações: “Nós dois, mandando cartões postais, escrevendo cartas em cima do muro, riscando fósforos, destrancando portões...” (Embora algumas versões digam que MacCartney fez a música para sua então recente namorada Linda: “Eu e você temos recordações mais vastas do que a estrada que se estende à nossa frente”)
Lembrem-se de “Morro Velho”, a canção em que Milton Nascimento conta a vida de dois garotos de fazenda, um branco e um preto. É uma história da amizade que, na infância, se resume ao afeto puro e irrestrito, sem malícia, de garotos que vivem soltos no mato, tibungando em barreiro, caçando passarinho. O tempo passa, e a diferença de classes os separa na vida adulta: “E o seu velho camarada já não brinca, mas – trabalha...” Existem as amizades cuja origem só se explica no final, como em “Chico Mineiro” de Tonico e Tinoco, em que a tristeza do narrador após a morte do amigo se explica (folhetinescamente) ao descobrir que Chico era seu “legítimo irmão”.
A canção clássica que define os parâmetros da amizade é “You’ve Got a Friend” de James Taylor, que aliás pede uns versinhos emprestados a “Any Time at All” dos Beatles: “All you’ve got to do is call, and I’ll be there...” O próprio Taylor, ao vir cantar no Rock in Rio em 1985, quase caiu para trás ao ver 200 mil brasileiros cantando a música inteira a uma só voz. Em português, não conheço outra tão singela e tão tocante quanto a homenagem de Roberto Carlos para Erasmo: “Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada... Amigo de tantos caminhos e tantas jornadas...” Dentro da singeleza poética de Roberto, é uma canção mais verdadeira e mais contidamente emocionada do que muitas das canções de amor que ele (ou melhor, a dupla) compôs ao longo de muitas décadas. Dizer que você está doido por uma mulher é relativamente fácil; eu quero ver é o camarada fazer uma música falando de seu afeto por outro homem.
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
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