terça-feira, 31 de maio de 2016

Bilac em dois tempos

Velho conto

Nicolau, varão casado
Porém de sorte mofina,
Porque não tem descendência,
Resolve, desesperado,
Ir até a Palestina,
Para fazer penitência.
Parte, enceta a romaria,
Em casa a esposa deixando,
Sozinha, nos tristes lares,
E, piedoso, dia a dia,
Passa três anos rezando
Pelos Sagrados Lugares.
Pede ao Senhor que consagre,
Pelos gemidos que solta,
Esse desejo que o abrasa;
— E efetua-se o milagre,
Pois Nicolau, quando volta,
Acha três filhos em casa...


Voz do sangue


Matou Conrado a paixão
Que o trazia sucumbido,
Entregando o coração
A Alexandrina Balão,
Que o recebeu por marido.
Depois de um bom par de meses,
De pensar e mais pensar,
E discutir muitas vezes,
Os referidos fregueses
Abalaram do lugar.
Não os viu Deus com bom olho,
Pois se um filho rechonchudo
Deu-lhes, era o tal pimpolho,
Além de tudo, caolho
E mudo, acima de tudo.
Conrado, que o filho adora,
Nina-o, beija-o, mexe, vira,
Debalde suspira e chora:
Palavra não sai p'ra fora,
Palavra alguma lhe tira.
Volta ao lugar do casório
E logo das nuvens cai,
Pois ao ver no consistório
Da igreja, o padre Libório,
Diz a criança: PAPAI!


Olavo Bilac,

Melhores frases

Sou exatamente o menino que aos nove anos foi declamar um verso de Antero de Quental e se perdeu.
A Europa é uma burrice aparelhada de museus.


Positivamente, não posso ser apresentado a Satanás: como André Gide, sofro a tentação de entender as razões do adversário.


Tenho para mim que sei, como todos os brasileiros, os três primeiros minutos de qualquer assunto.


O único erro humano que merece a pena de morte é o de revisão.


Abraço e punhalada a gente só dá em quem está perto.


A tocaia é a grande contribuição de Minas à cultura universal.


O mineiro só é solidário no câncer.


Minas está onde sempre esteve. (Ao definir a posição do governador Magalhães Pinto, em 1961, na crise da renúncia de Jânio).


Para mim, domingo sem missa não é domingo.


O homem é um animal gratuito.


Não quero tripudiar sobre ninguém. Junto a isto um insanável sentimento de simpatia, que me domina, por todos os decaídos.


Quem me garante que Jesus Cristo não estaria hoje na estatística da mortalidade infantil?


Escrevemos, escrevemos, escrevemos. Clamamos no deserto. O clube do poder tem as portas lacradas e calafetadas.


Todo mundo que cruzou comigo, sem precisar parar, está incorporado ao meu destino.


Política é a arte de enfiar a mão na merda. Os delicados (vide Milton Campos) pedem desculpas, têm dor de cabeça e se retiram.


Intelectual na política é quase sempre errado. É sempre errado. A práxis não deixa espaço para pensar; pensar é muito sutil, enrascado, complexo, multiplica as alternativas.


Deus é humorista.


Há um lado pobre-diabo em mim. Os pobres-diabos logo farejam e se irmanizam, me perseguem, não me largam.


Sou jornalista, especialista em idéias gerais. Sei alguns minutos de muitos assuntos. E não sei nada.


Aproximei-me do espetáculo político pelo que há nele de fascínio humano. 


A política talvez seja uma forma de tentar driblar a morte.

A ação política é cruel, baseia-se numa competição animal, é preciso derrotar, esmagar, matar, aniquilar o inimigo.


Ultimamente, passaram-se muitos anos.


Devo ter sido o único mineiro que deixou de ser diretor de banco.


Sou um sobrevivente sob os escombros de valores mortos.


Devemos a Graham Bell o fato de estarmos em qualquer lugar do mundo e alguém poder nos chatear pelo telefone.


Texto de jornal é estação de trem depois que o trem passou. Deixou de ter interesse.


Chega de intermediários. Lincoln Gordon para presidente. (Em alusão à influência do embaixador dos Estados Unidos durante o governo Castello Branco).


É a morte que nos leva a desejar a imortalidade impossível. (Ao aceitar concorrer a uma vaga na ABL).

Patrão de esquerda só é bom até o dia do pagamento.


A morte é noturna. À noite, todos os doentes agonizam.


Hoje eu reúno duas condições que em princípio se excluem: sou careca e grisalho. (Ao fazer 60 anos).


Consegui ser avô de minha filha e pai de minha neta, eliminando a intermediação antipática do genro. (Por ocasião do nascimento da filha temporã, Heleninha).


Leio muito à noite. Só não sou inteiramente uma besta porque sofro de insônia.


Sou autor de muitos originais e de nenhuma originalidade.


Não sou alegre. Sou triste e sofro muito. Dentro de mim há um porão cheio de ratos, baratas, aranhas, morcegos, escuro, melancolia, solidão.


O humor é a grande expressão, o melhor canal para dar notícia da vida, da nossa tragédia interior e exterior.

O mineiro seria um cara que não dá passo em falso, é cauteloso. Em Minas Gerais não se diz cautela, se diz pré-cautela...


Eu escrevo todo dia, por compulsão. Mas agora, aos 70 anos, uma das perguntas que mais me intrigam é o que eu vou ser quando crescer.


Sou leitor atento da página fúnebre. Tem mais gente conhecida nossa do que a coluna social.

 
Há em mim um velho que não sou eu.


A morte é, de tudo na vida, a única coisa absolutamente insubornável.


Escrever é de amargar.


Otto Lara Resende 


As frases acima foram extraídas do livro "Otto Lara Resende: a poeira da Glória", de Benício Medeiros, editora RelumeDumará - Rio de Janeiro, 1998, pág. 137.

Frase

Podem falar o que quiserem: o Eduardo Cunha é a pessoa central do governo Temer. [...] Cunha não só manda: ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha.

Dilma, em entrevista à Folha de S. Paulo

A morte não é nada para nós

Habitua-te a pensar que a morte não é nada para nós, pois que o bem e o mal só existem na sensação. Donde se segue que um conhecimento exato do fato de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma ideia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. Pois nada há de temível na vida para quem compreendeu nada haver de temível no fato de não viver. É pois, tolo quem afirma temer a morte, não porque sua vinda seja temível, mas porque é temível esperá-la. 

Tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. Assim, o mais espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais. 

Não há morte, então, nem para os vivos nem para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais. Mas o vulgo, ou a teme como o pior dos males, ou a deseja como termo para os males da vida. O sábio não teme a morte, a vida não lhe é nenhum fardo, nem ele crê que seja um mal não mais existir. Assim como não é a abundância dos manjares, mas a sua qualidade, que nos delicia, assim também não é a longa duração da vida, mas seu encanto, que nos apraz. Quanto aos que aconselham os jovens a viverem bem, e os velhos a bem morrerem, são uns ingênuos, não apenas porque a vida tem encanto mesmo para os velhos, como porque o cuidado de viver bem e o de bem morrer constituem um único e mesmo cuidado.

Epicuro, in "A Conduta na Vida"

Elvis

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Menina 'defende' capitalismo em questão de prova, leva nota zero e mãe questiona: 'Escola sem partido?'

Uma mãe do Rio de Janeiro, indignada com a nota zero levada pela filha em uma questão de prova, decidiu compartilhar em seu Facebook como conseguiu reverter a avaliação do professor, fazendo com que a menina obtivesse o ponto perdido.
A introdução da questão dizia: "O processo de globalização, que vive o mundo de hoje, propõe como elemento de estabilidade social, econômica e política, o velho paradigma das leis de mercado. (...) sobrevive só quem tem competência". Em seguida, vinha o enunciado: "Considerando o texto acima, podemos afirmar que o capitalismo fundamenta a lógica imoral da exclusão. Justifique tal afirmativa".
Com a resposta a seguir, a aluna levou nota zero: "Não concordo que o capitalismo fundamenta a lógica imoral da exclusão. Muito pelo contrário. O capitalismo amplia empresas, gerando assim, empregos. O capitalismo dá oportunidades a todos, diferente do comunismo e socialismo que não deu certo em nenhum país. A exclusão não está relacionada ao capitalismo, porque ele não gera pobreza. Fica pobre quem quer, pois ele gera oportunidades. E também tem a meritocracia, que deve ser vista como um plus na sociedade, pois quando se recebe uma oportunidade é possível alcançá-la com mérito e dedicação".
Depois de ver a correção da prova, a mãe, então, decidiu questionar a escola, que voltou atrás, concedendo a pontuação máxima da questão. "Escola sem partido? Minha filha contestou 'que o capitalismo fundamenta a lógica imoral (sic) da exclusão' e levou um zero. Só obteve o ponto nesta questão manipuladora pois fui à direção da escola questioná-los", escreveu no Facebook.
Até o momento de publicação deste post, a publicação já contava com quase 11 mil compartilhamentos.
 
 
Pedro Willmersdorf 
EXTRA
 

Ares do tempo

A maior crise brasileira não está nas aparências do que nós vemos e sofremos, mas na nossa recusa de olhar para onde sopram os ares do futuro. 

Há uma sensação geral de que o país perdeu o rumo. O incômodo vem de fatos específicos: caos político, corrupção, recessão, desigualdade, violência, epidemias, desemprego, deseducação, falência das contas públicas.

Poucos, porém, consideram que estes indicadores de falta de rumo e de decadência têm em comum o fato, ainda mais grave, de que estamos sem sintonia com o “espírito do tempo”, o conjunto de ideias que orientam a humanidade e cada nação para o futuro. É como se, além de rodando no meio do mar, não soubéssemos como inflar as velas do barco na direção dos ares que sopram para o futuro.

Não é a primeira vez que isso acontece. Quando o mundo ingressava na primeira revolução tecnológica, com capital industrial e trabalho assalariado dentro das regras do mercado, nós optamos por continuar escravocratas, patrimonialistas, ruralistas, exportadores de bens primários, obscurantistas no pensamento.
Cem anos depois, quando iniciamos nossa industrialização, passamos a fabricar velhos produtos, não nos dedicamos a inventar produtos novos, conforme os novos tempos que já se iniciavam.

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No século XXI, outra vez estamos dessintonizados com ares do tempo: a revolução científica, o capital conhecimento e a inovação como motores do progresso. Continuamos emergindo ao passado, não ao futuro: comemoramos continuar exportando commodities e fabricando autos, sem desenvolver capacidade de inovação para criar novos produtos da economia do conhecimento, sem base científica e tecnológica, sem colocar o bem-estar na frente de produção, consumo e renda, sem compromisso com o equilíbrio ecológico.

Vemos a tragédia imediata da recessão e do desemprego ao redor, mas não percebemos a tragédia distante de continuarmos na velha economia da produção primária, da indústria metal-mecânica, da dupla dependência tecnológica, tanto na inovação dos produtos quanto na inovação das ferramentas.

A maior prova da falta de sintonia com o futuro é o descuido como tratamos nossa educação de base, desperdiçando milhões do mais importante vetor do futuro: os cérebros bem formados de nossa gente. O vetor do progresso está na educação de qualidade igual para todas as crianças, independentemente da renda dos pais e da cidade onde vivem.

Desprezamos o futuro quando nos recusamos a prestigiar o mérito dos bons professores, diferenciando-os dos demais. Não estamos sintonizados com o futuro ao mantermos uma máquina estatal ineficiente, a serviço de sindicatos e partidos, e não do público; ou quando nos recusamos a atualizar velhas leis que já estão superadas.

Nos tempos em que a taxa de natalidade diminui e a esperança de vida aumenta, o espírito do tempo exige reforma no sistema previdenciário.

A maior crise brasileira não está nas aparências do que nós vemos e sofremos, mas na nossa recusa de olhar para onde sopram os ares do futuro e como fazermos as reformas que nos sintonizarão com ele. Estamos desorientados com o presente caótico e outra vez não nos sintonizamos com as forças do espírito do tempo.

Cristovam Buarque 

A arte de não adoecer

SE NÃO QUISER ADOECER.....FALE DE SEUS SENTIMENTOS.

Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como: gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna. Com o tempo a repressão dos sentimentos degenera até em câncer. Então vamos desabafar, confidenciar, partilhar nossa intimidade, nossos "segredos", nossos erros... O diálogo, a fala, a palavra, é um poderoso remédio e excelente Terapia!

SE NÃO QUISER ADOECER......TOME DECISÕES.

A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia. A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões. Para decidir é preciso saber renunciar, saber perder vantagem e valores para ganhar outros. As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.

SE NÃO QUISER ADOECER......BUSQUE SOLUÇÕES.

Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas. Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo. Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.

SE NÃO QUISER ADOECER......NÃO VIVA DE APARÊNCIAS.

Quem esconde a realidade, finge, faz pose, quer sempre dar a impressão que está bem, quer mostrar ser perfeito, bonzinho, etc., está acumulando toneladas de peso...uma estátua de bronze, mas com os pés de barro. Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas. São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital a dor.

SE NÃO QUISER ADOECER......ACEITE-SE.

A rejeição de si próprio, a ausência de auto-estima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável. Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos, imitadores, competitivos, destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.

SE NÃO QUISER ADOECER....CONFIE.

Quem não confia não se comunica, não se abre, não se relaciona, não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras. Sem confiança não há relacionamento. A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus..

SE NÃO QUISER ADOECER.....NÃO VIVA SEMPRE TRISTE.

O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive. "O bom humor nos salva das mãos do doutor". A alegria é saúde e terapia!

Dráuzio Varela 

domingo, 29 de maio de 2016

Charge


Para quê?!

Tudo é vaidade neste mundo vão…
Tudo é tristeza, tudo é pó, é nada!
E mal desponta em nós a madrugada,
Vem logo a noite encher o coração!

Até o amor nos mente, esta canção
Que o nosso peito ri à gargalhada,
Flor que é nascida e logo desfolhada,
Pétalas que se pisam pelo chão!…

Beijos de amor! Pra quê?! … Tristes vaidades!
Sonhos que logo são realidades,
Que nos deixam a alma como morta!

Só neles acredita quem é louca!
Beijos de amor que vão de boca em boca,
Como pobres que vão de porta em porta!…

Florbela Espanca

Adele

Cada povo tem os políticos que merece... Enquanto Obama jantou num boteco em Hanói-Vietnam, com um apresentador da CNN, Anthony Bourdain, e gastou seis dólares (R$ 21,00). Nossos políticos esbanjam nosso dinheiro público com jantares milionários e vinhos caríssimos.

Wagner Silva 
Os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer

Mia Couto

Perceba o que esta acontecendo

Um leão encontrou um grupo de gatos conversando... "Vou devorá-los", pensou.

Mas, começou a sentir-se estranhamente calmo. E resolveu sentar-se com eles, para prestar atenção no que diziam:

- Meu bom Deus - disse um dos gatos, sem notar a presença do leão. Oramos a tarde inteira! Pedimos que chovesse ratos do céu!

- E, até agora, nada aconteceu! - disse outro. - Será que o Senhor não existe?

O céu permaneceu mudo. E os gatos perderam a fé.

O leão levantou-se, e seguiu seu caminho, pensando: "veja como são as coisas. Eu ia matar estes animais, mas Deus me impediu. Estavam tão preocupados com o que estava faltando, que nem repararam na proteção que receberam".

"Lamentar aquilo que não temos é desperdiçar aquilo que já possuímos"

Prof. Menegatti

sábado, 28 de maio de 2016

O velho do espelho

Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse
Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus, Meu Deus...Parece
Meu velho pai - que já morreu!
Como pude ficarmos assim?
Nosso olhar - duro - interroga:
"O que fizeste de mim?!"
Eu, Pai?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga...Que importa? Eu sou, ainda,
Aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra.
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!-
Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste...


Mário Quintana

Marketing


Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
                                                                     [ extático da aurora.


Vinícius de Moraes  



Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e   prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 259.

15 Filmes Sobre a Filosofia de Foucault que Você Precisa Conhecer

Por Philippe Torres

Obviamente alguns dos filmes aqui listados foram feitos antes do pensamento Foucaultiano. Contudo, em nossa lista se encontrarão filmes em que é possível perceber sua filosofia. 

Foucault, filosofo muito influenciado pelas obras de Nietzsche, nos fará pensar no homem quando se percebe como louco, quando se olha como doente, quando reflete sobre si mesmo como ser vivo, ser falante e ser trabalhador, quando se julga e se pune quando criminoso, e quando se reconhece como ser do desejo. Apesar de muito extensa e aparentemente desconexa, a  obra do autor liga-se em todos esses pontos.
 
Investigando a estrutura do pensar, Foucault dizia-se um arqueólogo do saber. Dessa forma, a verdade para este está relacionada ao seu tempo, mudando completamente a episteme científica. Até mesmo sua afirmação está vinculada a uma verdade da época, a teoria da relatividade acabara de ser explanada. Sendo assim, a ideia de que a ciência é uma escada evolutiva cai, dando lugar aos desvios.
 
A loucura não é um fato biológico, esta é um fato cultural. Ao dizer isso, a partir da sua episteme histórica, Foucault porá por terra a relação da loucura com a medicina. Pensando históricamente seria possível perceber que esta é produto de seu tempo, classificações, e apenas não consideramos a loucura de nosso tempo como tal por essa ser nossa verdade.
 
“Toda a história dos inícios da psiquiatria moderna se revela falseada por uma ilusão retroativa segundo a qual a loucura já estava dada p ainda que de maneira imperceptível – na natureza humana”
 
A loucura, então, não é algo da natureza ou uma doença, mas um fato cultural. A história da loucura, em suma, é a história da progressiva medicalização da loucura no pensamento ocidental.
 
A partir daí, o pensador trará a história da loucura em quatro momentos:
 
A História da loucura na Idade Média é
retratada em O Incrível Exército de Brancaleone
No primeiro momento, temos a Idade Média. Nessa época, o louco era tratado como um visionário. Até mesmo ao pensar a história de Jesus Cristo (sabemos que não se trata da Idade Média), homem que diz ser filho de deus, foi tratado como um profeta. Hoje, seria um louco, produto do tempo. O mesmo acontece com o filme “O Incrível Exercito de Brancaleone”, onde há um homem visionário, missionário que conclama os homens a ir a terra santa e matar os muçulmanos. Hoje, este não seria um visionário.

No segundo momento, o Renascimento. Aqui, a loucura é tratada como um saber exotérico, ou seja, um saber fechado que expõe a loucura da época. Não mais o louco é tratado como um visionário, mas sim guiado por sua natureza íntima, pela paixão. Dom Quixote é exemplo claro.
 
No terceiro momento, Idade Clássica. Iniciada pela filosofia moderna de Descartes, aqui, a loucura é aquela que nos levaria ao erro, uma desrazão. O louco agora é o portador da não verdade, o homem sem a razão, como opostos. A filosofia para de escutar o louco. O louco passa a ser internado institucionalmente. “Nesse período, a loucura, antes sacralizada, é reduzida a um escândalo, um crime. Eram considerados loucos os mendigos, desocupados, homossexuais, vagabundos, devassos, bêbados e tudo que se desviava da “normalidade clássica”. Os loucos, então, são banidos da vida pública. Encarcerados e torturados em hospícios. Curiosamente, essas instituições serviam como entretenimento. Milhares de pessoas visitavam os hospícios para entreter-se com o louco, como um zoológico, o olhar ao diferente.
 
O quarto momento inicia-se no século XVIII. Aqui o louco já não era visto como um criminoso. O confinamento destes como uma barbárie, mas a loucura como uma doença individual. Cria-se o mito do “homem normal”, anterior à doença, estando o louco distante da normalidade. A partir desse momento, os loucos foram colocados sob cuidados médicos. Ao invés das controladoras correntes de ferro, remédios, tão opressivos quanto. Com a psicanalise o Louco agora pode falar, ao contrário do período anterior, mas é tratado como objeto de estudo, não como um ser coberto de razão. O louco continua a ser vigiado e confinado pela razão. Os médicos, serão a autoridade que atua sobre os loucos, ditam o Poder da razão em confinar a loucura. “a linguagem da psiquiatria, que é um monólogo da razão sobre a loucura, só pôde estabelecer-se sobre um tal silêncio.”. Apesar da falsa e proposital ideia de que o louco passa a falar ao psicanalista, o que vemos é a razão exercendo poder sobre a loucura, como se a tudo que o louco estivesse falando houvesse o julgamento da razão. Um julgamento moral. Superar a autoridade psiquiátrica seria superar a razão. Para Foucault, apenas alguns artistas conseguiram tal feito.
 
Outro pensamento do autor está ligado a normatização. Para ele, na sociedade moderna, o domínio que exerce o poder não é a lei, mas sim a norma, produzindo condutas, gestos e o próprio indivíduo. Pergunta-se: O quanto sente-se oprimido pela lei? Por outro lado, quanto sente-se oprimido pela norma? Por ser julgado por atos anormais? Sendo assim, o poder tem por alvo a regulação da vida dos indivíduos através do poder disciplinar e biopolítico.Trata-se do poder disciplinar aquele que busca aumentar o efeito útil do tempo/trabalho. Agindo sobre o humano, este poder exerce a arte da distribuição espacial afim de receber melhores resultados, já que distribuídos os homens mais fácil o controle dos mesmos. O controle sobre o desenvolvimento da ação, não apenas do resultado, fato que está intimamente ligado a distribuição espacial. Vigilância constante que permitam o melhor aproveitamento do tempo útil e garantir a disciplina. O registro contínuo, para que todas as informações cheguem ao cume da pirâmide, aos olhos que tudo veem.
Em O Clube dos Cinco é possível
ver o processo de normatização
e vigilânciana escola.
É mais comum pensar em tal normatização na vida trabalhista, mas ela está em todos os momentos do homem. Pense na distribuição espacial escolar, organizada como efeito de controle dos alunos: os corredores, o pátio, a sala de aula onde os alunos voltam-se enfileirados ao mestre de sala, hierarquicamente. Perceba que não apenas os resultados são controlados na escola, mas também o valor da ação, onde o melhor é premiado e o pior serve de chacota à normatização promovida pelos que não sentem ser também vítimas dela, os demais alunos. A vigilância é constante, promovida desde a sala de aula, pelo professor, ao topo da pirâmide, a direção, garantindo a disciplina. E o registro contínuo que garante todas as informações dos alunos. Foucault diria, então, que a escola funcionaria como o exército, hospitais e prisões, outros exemplos do pensador para explicar a temática. A esses poderes são chamados de “microfísica do poder”.

À normatização Foucault explicitará outro de seus temas, a história da punição. Dirá que antes do século XVIII o criminoso era punido em praça pública, aos olhos dos demais para que se obtivesse a disciplina. Após o século mencionado muda-se o modelo. O aprisionamento torna-se o método, o instrumento. Ao invés de esquartejar o corpo, este passa a ser objeto de controle da sociedade. O corpo passa a ser sujeito ao poder.

As penas passam a ser supostamente proporcionais aos atos criminosos, tornando-se “ato administrativo do Estado”. O direito de punir desloca-se da vingança do soberano à uma também suposta defesa da sociedade. Normatizando a ideia de humanização das penas.

Para nosso pensador em questão não trata-se de humanização, e sim uma estratégia de remanejamento do poder de punir a fim de aumentar seus efeitos, diminuindo seus custos econômicos e político, principalmente. O sistema penal que se forma é consequência da sociedade reguladora e disciplinada que estava começando a surgir. Sendo assim diria ele:
 
Essa vigilância funcionaria como um panóptico, onde há a função de “induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em sua ação (…) o sucesso do poder disciplinar se deve sem dúvida ao uso de instrumentos simples: o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e sua combinação com o exame.”. Em outras palavras, há sempre a impressão de vigilância sobre o vigiado, mesmo que não esteja sendo feita regularmente mas que, através da punição e normatização das condutas, cria a impressão de um suposto olho que tudo vê. Como se dentro de nós houvesse o ser vigilante, controlando-nos.
Ufa, vamos a lista !

– Laranja Mecânica



Em uma desolada Inglaterra do futuro, a violência das gangues juvenis impera, provocando um clima de terror.
Alex (Malcolm McDowell) lidera uma das gangues e, após praticar vários crimes, é preso e submetido à reeducação pelo Estado, com base em uma técnica de reflexos condicionados.
Quando ele volta à sua vida em liberdade, é perseguido por aqueles que foram suas vítimas, Mr. Alexander (Patrick Magee) e sua esposa.

Direção: Stanley Kubrick
Ano: 1971
País: Reino Unido
 
– Um Estranho no Ninho


Randle Patrick McMurphy, um prisioneiro, simula estar insano para não trabalhar e vai para uma instituição para doentes mentais, onde estimula os internos a se revoltarem contra as rígidas normas impostas pela enfermeira-chefe Ratched, mas ele não tem ideia do preço que irá pagar por desafiar uma clínica “especializada”.

Direção: Milos Forman
Ano: 1976
País: E.U.A
 
– Os Incompreendidos


Os Incompreendidos (Les quatre cents coups) é um filme francês de 1959, do gênero drama, dirigido por François Truffaut. O filme narra a história do jovem parisiense Antoine Doinel, um garoto de 14 anos que se rebela contra o autoritarismo na escola e o desprezo dos pais Gilberte e Julien Doinel. Rejeitado, Doinel passa a faltar as aulas para freqüentar cinemas ou brincar com os amigos, principalmente René. Com o passar do tempo, as censuras o direcionarão, vivenciará descobertas e cometerá delitos em busca de atenção.

Direção: François Truffaut
Ano: 1959
País: França
 
– Eu Sou um Cyborg, Mas Tudo Bem …


Cha Young-goon (Lim Su-Jeong) é hospitalizada numa clínica psiquiátrica, por acreditar que é uma ciborgue. Ela recusa toda a comida que lhe oferecem, preferindo carregar as “baterias” através de um transistor. Cha usa a dentadura da avó e fala com todos os aparelhos eletrônicos. Mas seu caso não é o único: ela está rodeada de pacientes que têm interlocutores imaginários. Quando o belo e anti-social Park Il-Soon (Rain) é internado, tudo muda para ela. Não leva muito tempo para que eles se envolvam, mas a saúde da menina piora cada vez mais.

Direção: Chan Wook Park
Ano: 2006
País: Coréia do Sul
 
– O Gabinete do Dr. Caligari


Num pequeno vilarejo da fronteira holandesa, um misterioso hipnotizador, Dr. Caligari (Krauss), chega acompanhado do sonâmbulo Cesare (Veidit) que, supostamente, estaria adormecido por 23 anos. À noite, Cesare perambula pela cidade, concretizando as previsões funestas do seu mestre, o Dr. Caligari

Direção: Robert Wiene
Ano: 1920
País: Alemanha
 
– Uma Página de Loucura


O filme conta a história de um marinheiro que se emprega como faxineiro em um manicômio para libertar sua esposa, que fora internada após uma tentativa de suicídio depois de ter afogado seu filho. Sem o uso de intertítulos e através de um sequência impressionante de imagens, é apresentada uma visão do mundo pelos olhos dos doentes mentais. Dado como perdido por mais de 40 anos, o filme foi recuperado pelo diretor em 1971, por uma cópia encontrada escondida em um vaso no galpão de seu jardim.

Direção: Teinosuke Kinugasa
Ano: 1926
País: Japão
 
– O Incrível Exército de Brancaleone


No ano 1.000 D.C., um bravo cavaleiro parte da França para tomar posse de suas terras. No caminho, ele é assaltado e assassinado por um bando de foras-da-lei que, de posse da escritura, decidem pegar por si o terreno. Para isso, eles precisam de alguém que finja ser o cavaleiro e acabam encontrando a pessoa perfeita no atrapalhado Brancaleone de Nórcia. Começa aí uma longa jornada, onde Brancaleone e seus homens enfrentam os mais diversos perigos.

Direção: Mario Monicelli
Ano: 1966
País: Itália

– 1984



Winston Smith (John Hurt) é uma figura trágica que se atreveu a se apaixonar numa sociedade totalitária onde as emoções são ilegais.

Direção: Michael Radford
Ano: 1984
País: Reino Unido

– A Caça


Lucas acaba de dar entrada em seu divórcio. Ele tem um novo emprego na creche local, uma nova namorada e está ansioso pela visita de natal de seu filho, Marcus. Mas o espírito de natal desaparece quando Klara, uma aluna de cinco anos de idade, faz uma acusação de abuso sexual contra Lucas, o que desencadeia o ódio de toda a comunidade em que ele vive.

Direção: Thomas Vintterberg
Ano: 2012
País: Dinamarca

– Clube dos Cinco


Em virtude de terem cometido pequenos delitos, cinco adolescentes são confinados no colégio em um sábado, tendo de escrever uma redação de mil palavras sobre o que eles pensam de si mesmos. Apesar de serem pessoas bem diferentes, enquanto o dia transcorre passam a aceitar uns aos outros e várias confissões são feitas entre eles.

Direção: John Hughes
Ano: 1985
País: E.U.A

– Metropolis


O ano é 2026, a população mundial se divide em duas classes: a elite dominante e a classe operaria; esta condenada desde a infância a habitar os subsolos, escravos das monstruosas máquinas que controlam a metrópolis. Quando o filho do criador de Metrópolis se apaixona por Maria, a líder dos operários, tem inicio a mais simbólica luta de classe já registrada pelo cinema.


Direção: Fritz Lang
Ano: 1927
País: Alemanha


– As Pequenas Margaridas


Utilizando-se de avançados efeitos especiais para a época, Vera Chytilová dirigiu esta obra surrealista que conta a história de duas garotas chamadas Marie, que decidem se adequar ao mundo como ele está: sendo depravadas. Portanto, ambas partem para uma série de encontros forjados e travessuras, desconstruindo o mundo ao seu redor.

Direção: Vera Chytilová
Ano: 1966
País: Tchecoslováquia


– Ensaio de Orquestra


Numa capela romana, agora um oratório, músico, chegam para um ensaio, Eles são avisados que estão sendo gravados por uma rede de TV. Então o maestro alemão chega, impondo ordem aos gritos. Durante um breve intervalo o maestro concede uma entrevista aos jornalista. Quando volta , encontra sua orquestra em estado de revolta. Será o fim? 0 que os trará de volta à música? Ensaio de orquestra é a homenagem do mestre Federico Fellinni à arte da música, uma das paixões de sua vida. Fundamental tanto para músicos como para cinéfilos, o filme traz a última das muitas trilhas sonoras que o genial Nino Rota compôs para Fellini.

Direção: Federico Fellini
Ano: 1979
País: Itália


– KES


Um dos primeiros filmes da carreira do consagrado diretor Ken Loach, Kes conta a história de um menino que vive em bairro pobre da cidade que, violentado em casa e ridicularizado na escola, acha uma forma de abstrair de sua dura realidade treinando um falcão. Poética e singela obra de formação do cineasta que posteriormente realizou obras-primas como Terra e Liberdade e Pão e Rosas.

Direção: Ken Loach
Ano: 1969
País: Reino Unido


– M, O Vampíro de Dusseldorf


Um misterioso infanticida leva o terror a Dusseldorf. A polícia local não consegue capturar o serial killer então um grupo de foras-da-lei se une para encontrar o assassino. Capturado pelos marginais, ele é julgado por um tribunal de criminosos e é acusado de ter quebrado a ética do submundo.


Direção: Fritz Lang
Ano: 1931
País: Alemanha

Fonte: aqui

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Último soneto

Que rosas fugitivas foste ali:
Requeriam-te os tapetes – e vieste...
– Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste –
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi...

Pensei que fosse o meu o teu cansaço –
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...

E fugiste... Que importa ? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste
Onde a minha saudade a Cor se trava?...


Mário de Sá Carneiro

A massa

Frases

Uma ex-mulher é para sempre. (João Fernando Camargo)

· A única coisa necessária é o supérfluo. (Oscar Wilde)

· Amor e tosse não dá para esconder. (Provérbio romano)

· Quem decide pode errar. Quem não decide já errou. (Herbert Von Karajan)

· Não compro bilhetes. Já ganhei na loteria quando nasci. (Roberto Irineu Marinho)

· Eu sei que quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.
  (Guimarães  Rosa)

· O sexo é a fonte da vida, mas que deixa a gente morto, deixa. (Sérgio Maldonado)

· A lesma é lenta. Ainda bem. Já pensou se esse bicho nojento corresse? (Sérgio Maldonado)

· A meleca é a melhor amiga do motorista solitário. (João Empolgação)

· O único homem que não pode viver sem mulheres é o ginecologista. (Arthur Schopenhauer)

· Eu vejo catástrofes. Pior: eu vejo advogados. (Woody Allen)

· Conheci várias mulheres melhores que um PC, mas nenhuma melhor que um Mac. (Guime Davidson)

· Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Ele pode responder. (Justine Espírito Santo)

· Não dá para acreditar num país que comprou o Acre. (Eugênio Mohallen)

· Só porque você vai para jantar com alguém, não quer dizer que tem que ser a sobremesa.
  (Dora Bria)

· Diplomata é um indivíduo cuja cor predileta é o arco-íris. (Millôr Fernandes)

· Não me lembro do que ele morreu. Só me lembro que não era nada sério. (Carlos Leonam)

· Quem gosta de pau duro é viado; mulher gosta é de cheque. (Neil Ferreira)

· Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. (Guimarães Rosa)

· A única coisa do planejamento é que as coisas nunca ocorrem como foram planejadas.
  (Lúcio Costa)

· A mentira é uma verdade que se esquece de acontecer. (Mário Quintana)

· Maior que o impulso sexual é o impulso de mexer no texto alheio. (Claudius Ceccon)

· A bicicleta ergométrica é uma viagem sem ida. (Casseta & Planeta)

· É impossível ser ridículo dentro de um Mercedes. (Nelson Rodrigues)

· A lei é como uma cerca — quando é forte a gente passa por baixo; quando é fraca a gente passa
  por cima. (Coronel Chico Heráclito)

· Brincar é condição fundamental para ser sério. (Arquimedes)

· A gente só diz sim ou não no casamento e, ainda assim, às vezes erra. (Itamar Franco)

· A bomba atômica é o Viagra dos energúmenos. (Alfredo Sirkis)

· Hippie é alguém que parece o Tarzan, caminha como a Jane e cheira como a Chita.
  (Ronald Reagan)

· Não interessa se o remédio é ou não farinha, o que cura é a bula. (Luis Fernando Veríssimo)

· Gostaria de criar home pages, mas não sei o que elas comem. (Anônimo da Internet)

· Se não fosse o Van Gogh, o que seria do amarelo? (Mário Quintana)

· Criar filho é como jogar videogame: a fase seguinte é sempre mais difícil. (Silvio A. D. da Silva)

· Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo. (José Saramago)

· Pessoalmente nada sei sobre sexo. Sempre fui uma mulher casada. (Zsa Zsa Gabor)

· Há pessoas tão chatas que nos fazem perder um dia em cinco minutos. (Jules Renard)

· Quem não se ocupa, se preocupa. (Otto Lara Resende)

· Salve as baleias, destrua um spa. (Gisela Rao)


Roberto Duailibi

Os detalhes da narrativa

Li há muitos anos um conto italiano ou francês, ambientado no tempo antigo, em que o protagonista pega um cabriolé para ir a tal lugar. Ele desce, pede ao cocheiro que fique esperando, há um contratempo, ele foge, é perseguido, viaja, passam-se semanas ou meses, não lembro mais. O conto é cheio de coisas que não lembro mais. Só lembro (olha as ironias da literatura!) o parágrafo final, onde ele diz algo como: “Tudo resolvido, voltei à minha cidade e fui até a estação. O homem do cabriolé continuava à espera. Perguntei quanto era, ele disse que eram 900 mil francos. Dei-lhe uma nota de um milhão e falei que ficasse com o troco.”

Não é um conto propriamente realista, é de algum autor como Papini ou Apollinaire. Mas o fato do autor lembrar do cocheiro que ficou à espera aquele tempo todo traz de volta uma questão crucial da narrativa. Até que ponto um autor deve amarrar todas as pontas soltas de uma história? E precisa mesmo, esse rigor todo?

Manuais de escrita nos dão o tempo todo conselhos nessa praia. “Se o personagem pedir alguma coisa no bar, lembre-se de fazer com que o garçon acabe trazendo.” Sim, são dicas úteis. Cada vez que você faz isso a narrativa ganha maior espessura. Dois caras pedem sanduíches e começam a conversar. Se o diálogo é interessante (e afinal de contas é para mostrar esse diálogo que a cena foi concebida e escrita, ou filmada) ninguém lembra mais dos sanduíches. Mas quando eles são trazidos, fumegantes e apetitosos, isto dá ao espectador uma sensação maior de realidade. Ele percebe fugazmente que, durante a conversa, algo (a preparação dos sanduíches) estava acontecendo na cozinha. Ou seja, há coisas acontecendo de verdade em torno daquele diálogo, o mundo não pára, o mundo é de verdade e está funcionando em volta daqueles dois personagens.  Perceber isso dá mais solidez à cena e à história.

O manual diz: “Deixou o táxi esperando, volte e pague. Ou guarde o motorista para aparecer, impaciente e furioso, como elemento resolvedor irrompendo em outra situação qualquer.” Sim, sempre é bom deixar acontecimentos pendurados. No famoso conto de Fernando Sabino “O Homem Nu” o protagonista, de manhã cedinho, avisa a esposa que se baterem na porta não atenda, é o cobrador das prestações da TV. Ele sai, nu, para pegar o jornal que estava no corredor do prédio, e a porta do apartamento bate. Ele chama. A mulher pensa que é o cobrador da TV e não abre. Depois de ser surpreendido e passar por mil peripécias, perseguido pelos vizinhos, ele consegue voltar para o apartamento, arrasado. Quando está explicando tudo à mulher, batem na porta. “É a polícia!” diz ele, e vai abrir. “Não era. Era o cobrador de televisão.”  Li isso com 11 anos e lembro até hoje.

Vem daí talvez o velho conselho de Raymond Chandler para a narrativa de pulp fiction: “Quando não souber o que fazer com a cena, faça alguém entrar na sala de arma em punho.” Em histórias de crime há sempre alguém perseguindo alguém, alguém querendo silenciar uma testemunha, querendo recuperar um objeto roubado, querendo se vingar de uma chantagem, etc.  A narrativa policial hardboiled é sempre uma história de ação em que as ações dos personagens tendem mais a ser interrompidas do que a chegar ao fim sem sobressaltos.

Essa “amarração de pontas” precisa ser feita se o autor acha que o leitor vai lembrar do taxista que ficou esperando, ou do fone deixado fora do gancho, ou da chaleira com água posta a ferver, ou de Fulano que foi ao banheiro e não voltou a participar da reunião. Às vezes o autor indica cada um desses pequenos fatos com tanta ênfase que o leitor, inconscientemente, anota: “Ôpa, tem coisa aí.”  Quando depois o autor passa em branco, ele se sente meio desacorçoado. A melhor solução talvez seja dizer esses detalhes (se não são significativos) meio “en passant”, sem lhes dar muita importância.

Veja-se este exemplo:

“Quando acordei, desci para tomar o café da manhã na lanchonete. Sentei numa mesa, pedi café e sanduíche e comecei a ler o jornal. Nenhuma novidade, mas na página policial havia uma notícia sobre um carro igual ao meu encontrado pela polícia. Paguei e saí às pressas, fui direto para a delegacia.”

No trecho acima, o autor não diz que o café chegou, não diz que chegou a comer alguma coisa. Mas quando ele diz “paguei”, vemos que tudo isso aconteceu, e que esse minúsculo episódio foi encerrado. Se ele dissesse apenas “Saí às pressas...” daria a impressão de que o café não foi trazido, ou foi consumido mas não foi pago. Escrever, mesmo sem pretender grandes voos literários, é escolher o tempo todo o que precisa ser dito e o que não precisa.

Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo 
Viver é estar sempre preparado para dizer adeus, 
diz um amigo meu, no aeroporto. 
Caminhamos de um lado para o outro, 
enquanto aguardo a hora do meu vôo.
Entretanto continua meu amigo,
 a Natureza é sábia.  
Cura a alma da mesma maneira com que cura o corpo.
Passamos por três estágios da doença  do adeus. 
 O primeiro é a negação: 
isto não é verdade!.
Depois vem o desespero, a revolta: 
era verdade!
Tal coisa nunca podia acontecer comigo!
Finalmente, 
vem a aceitação: 
Bem, era verdade, aconteceu, 
agora é preciso seguir adiante!
Se vivermos cada uma destas etapas,
sem vergonha, sem tentar cortar caminho 
a Natureza se encarregará de fechar a ferida. 
Mas ela precisa do mesmo ingrediente 
que é necessário para curar os males do corpo: 
tempo.
 
Paulo Coelho 

quinta-feira, 26 de maio de 2016


"O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. 
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. 
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar". 

Carlos Drummond de Andrade
Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.

Hermann Hesse

Sancionada lei que obriga farol baixo durante o dia em rodovias


 Medida entra em vigor daqui a 45 dias

O presidente em exercício, Michel Temer, sancionou a lei que torna obrigatório o uso de farol baixo durante o dia nas rodovias. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira. A medida entra em vigor daqui a 45 dias.

A lei 13.290, de 23 de maio de 2016, determina que o "condutor manterá acesos os faróis do veículo, utilizando luz baixa, durante a noite e durante o dia nos túneis providos de iluminação pública e nas rodovias".

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, neste intervalo de 45 dias até vigorar a medida, a corporação vai orientar os motoristas durante as abordagens e "em ações educativas". A partir de julho, os veículos flagrados com o farol desligado durante o dia serão multados.

Por: Jocimar Farina
Zero Hora 


O pensamento artístico de Einstein

Circulou por estes dias nas redes sociais um documento “fake” que fingia reproduzir uma carta endereçada a Albert Einstein, em 1907, pela Universidade de Berna, negando sua candidatura a um Doutorado. Desconfiei um pouco porque a carta (em suposto fac-símile) estava em inglês, quando o mais natural era que estivesse em alemão, mas o que me interessou mesmo foi o que ela dizia no último parágrafo:
“Mesmo tendo em conta que o senhor propõe uma interessante teoria no seu artigo publicado nos Annalen der Physik, achamos que as suas conclusões sobre a natureza da luz e a conexão fundamental entre o espaço e o tempo são um tanto radicais. De um modo geral, consideramos que suas suposições são mais de ordem artística do que de uma Física verdadeira."
O debate Ciências x Artes é uma hidra de mil cabeças.  Sempre que ela espicha uma dessas cabeças no meio da discussão eu me lembro do artigo clássico de C. P. Snow, “As Duas Culturas” (1959), no qual ele lamenta a distância entre o que hoje em dia a gente chama “a galera de Exatas e a galera de Humanas”. Snow lamenta que cada uma dessas turmas entenda tão pouco do que faz a outra, e livra um pouco a cara dos cientistas; segundo ele é mais fácil um cientista conhecer música, pintura e literatura do que um artista conhecer ciências. (Aqui: http://www.newstatesman.com/cultural-capital/2013/01/c-p-snow-two-cultures)
Pra mim, a melhor formulação desse impasse é a de Arthur C. Clarke: 

“Uma pessoa que conheça tudo sobre as comédias de Aristófanes e nada sobre a Segunda Lei da Termodinâmica é tão inculta quanto aquela que dominou a teoria quântica mas pensa que Van Gogh pintou a Capela Sistina”. 
Nas regiões mais elevadas do pensamento criativo, ali onde ocorrem as grandes idéias que revolucionam todo o pensamento de uma época, não há muita distinção entre o pensamento criador artístico e o pensamento criador científico.
O insight criativo, a associação inesperada de idéias, a ruptura conceitual, o momento do Eureka!, tudo isso são resultados de um longo e cansativo processo. É uma concentração mental alimentada por tensão emocional e por um grande número de informações sendo manipuladas incessantemente de todas as formas pelo raciocínio e pela memória associativa, até que se dá o “clique”.
Isso é particularmente visível no caso de Einstein, que como cientista era uma figura um tanto heterodoxa. Num depoimento a Jacques Hadamard (citado em A Experiência Matemática, David & Hersh, Ed. Francisco Alves, 1985, trad. João Bosco Pitombeira), o cientista falou:
“As palavras ou a linguagem, como são escritas ou faladas, não parecem desempenhar qualquer papel em meus mecanismos de pensamento... as entidades físicas que parecem servir como elementos no pensamento são certos sinais e imagens mais ou menos claras que podem ser ‘voluntariamente’ reproduzidos e combinados... Os elementos mencionados acima são, em meu caso, visuais e alguns do tipo muscular. Palavras convencionais ou outros sinais devem ser procurados laboriosamente somente em um estágio secundário.” (Davis & Hersh, p. 347)
As intuições visuais e musculares de Einstein explicam suas analogias através de imagens, capazes de deflagrar um curto-circuito conceitual nas idéias aceites.
Ele sugeria: Se um indivíduo pudesse viajar pelo espaço montado num raio de luz, e segurando diante de si um espelho, ele se veria refletido nesse espelho? Einstein usa um detalhe ínfimo (o ir-e-vir da luz no espaço de 1 metro, num contexto-limite) para questionar todo o fundamento de uma “lei” abstrata e mostrar que ela não tem um valor absoluto.
Por outro lado, o princípio relativístico de que à medida que a velocidade aumenta os corpos materiais “se achatam” na direção para onde se deslocam é uma intuição muscular que, no caso de Einstein (talvez pensando na sensação de achatamento-por-aceleração que sofremos horizontalmente num trem ou verticalmente num elevador), acabou fornecendo uma indicação utilizável. (Link: https://en.wikipedia.org/wiki/Length_contraction). (Mas é bom lembrar que são incontáveis os exemplos de analogias aparentemente corretas mas que não levam a nada.)
O que os apócrifos burocratas de Berna chamam de “suposições de ordem artística” é justamente um dos caminhos mais trilhados pelos cientistas para atingirem, de um salto, verdades universais a que seria talvez impossível chegar através do método pedestre (embora também legítimo) de cálculos miúdos, onde são grandes as chances de andar em círculos, voltar ao ponto de partida, pegar mil veredas que só levam a becos sem saída.  
Matemáticos e cientistas em geral costumam louvar certas formulações por sua “beleza estética” ou “elegância”, critérios que têm muito pouco a ver com os volúveis conceitos de beleza e elegância no dia-a-dia, mas indicam o quanto uma síntese é compacta, simples, coerente, e ao mesmo tempo capaz de ser constantemente testada e funcionar.
Nem tudo que Einstein supôs era a melhor resposta para as questões que ele abordava; muito da sua obra foi superado (até agora) pela Física Quântica, cujo espírito probabilístico lhe desagradava. Mas as suas intuições “artísticas” continuam valendo. Thomas S. Kuhn, no seu essencial A Estrutura das Revoluções Científicas (1962; Ed. Perspectiva, 1982) lembra:
“Se um novo candidato a paradigma tivesse que ser julgado desde o início por pessoas práticas, que examinassem tão-somente sua habilidade relativa para resolver problemas, as ciências experimentariam muito poucas revoluções de importância. (...) Mesmo hoje a teoria geral de Einstein atrai adeptos principalmente por razões estéticas, atração essa que poucas pessoas estranhas à Matemática foram capazes de sentir.” (p. 198-199)
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo