Por Philippe Torres
Obviamente alguns dos filmes aqui
listados foram feitos antes do pensamento Foucaultiano. Contudo, em
nossa lista se encontrarão filmes em que é possível perceber sua
filosofia.
Foucault, filosofo muito influenciado
pelas obras de Nietzsche, nos fará pensar no homem quando se percebe
como louco, quando se olha como doente, quando reflete sobre si mesmo
como ser vivo, ser falante e ser trabalhador, quando se julga e se pune
quando criminoso, e quando se reconhece como ser do desejo. Apesar de
muito extensa e aparentemente desconexa, a obra do autor liga-se em
todos esses pontos.
Investigando a estrutura do pensar,
Foucault dizia-se um arqueólogo do saber. Dessa forma, a verdade para
este está relacionada ao seu tempo, mudando completamente a episteme
científica. Até mesmo sua afirmação está vinculada a uma verdade da
época, a teoria da relatividade acabara de ser explanada. Sendo assim, a
ideia de que a ciência é uma escada evolutiva cai, dando lugar aos
desvios.
A loucura não é um fato biológico,
esta é um fato cultural. Ao dizer isso, a partir da sua episteme
histórica, Foucault porá por terra a relação da loucura com a medicina.
Pensando históricamente seria possível perceber que esta é produto de
seu tempo, classificações, e apenas não consideramos a loucura de nosso
tempo como tal por essa ser nossa verdade.
“Toda a história dos inícios da
psiquiatria moderna se revela falseada por uma ilusão retroativa segundo
a qual a loucura já estava dada p ainda que de maneira imperceptível –
na natureza humana”
A loucura, então, não é algo da
natureza ou uma doença, mas um fato cultural. A história da loucura, em
suma, é a história da progressiva medicalização da loucura no pensamento
ocidental.
A partir daí, o pensador trará a história da loucura em quatro momentos:
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A História da loucura na Idade Média é
retratada em O Incrível Exército de Brancaleone |
No primeiro momento, temos a Idade Média. Nessa época, o louco era
tratado como um visionário. Até mesmo ao pensar a história de Jesus
Cristo (sabemos que não se trata da Idade Média), homem que diz ser
filho de deus, foi tratado como um profeta. Hoje, seria um louco,
produto do tempo. O mesmo acontece com o filme “O Incrível Exercito de
Brancaleone”, onde há um homem visionário, missionário que conclama os
homens a ir a terra santa e matar os muçulmanos. Hoje, este não seria um
visionário.
No segundo momento, o Renascimento.
Aqui, a loucura é tratada como um saber exotérico, ou seja, um saber
fechado que expõe a loucura da época. Não mais o louco é tratado como um
visionário, mas sim guiado por sua natureza íntima, pela paixão. Dom
Quixote é exemplo claro.
No terceiro momento, Idade Clássica.
Iniciada pela filosofia moderna de Descartes, aqui, a loucura é aquela
que nos levaria ao erro, uma desrazão. O louco agora é o portador da não
verdade, o homem sem a razão, como opostos. A filosofia para de escutar
o louco. O louco passa a ser internado institucionalmente. “Nesse
período, a loucura, antes sacralizada, é reduzida a um escândalo, um
crime. Eram considerados loucos os mendigos, desocupados, homossexuais,
vagabundos, devassos, bêbados e tudo que se desviava da “normalidade
clássica”. Os loucos, então, são banidos da vida pública. Encarcerados e
torturados em hospícios. Curiosamente, essas instituições serviam como
entretenimento. Milhares de pessoas visitavam os hospícios para
entreter-se com o louco, como um zoológico, o olhar ao diferente.
O quarto momento inicia-se no século
XVIII. Aqui o louco já não era visto como um criminoso. O confinamento
destes como uma barbárie, mas a loucura como uma doença individual.
Cria-se o mito do “homem normal”, anterior à doença, estando o louco
distante da normalidade. A partir desse momento, os loucos foram
colocados sob cuidados médicos. Ao invés das controladoras correntes de
ferro, remédios, tão opressivos quanto. Com a psicanalise o Louco agora
pode falar, ao contrário do período anterior, mas é tratado como objeto
de estudo, não como um ser coberto de razão. O louco continua a ser
vigiado e confinado pela razão. Os médicos, serão a autoridade que atua
sobre os loucos, ditam o Poder da razão em confinar a loucura. “a
linguagem da psiquiatria, que é um monólogo da razão sobre a loucura, só
pôde estabelecer-se sobre um tal silêncio.”. Apesar da falsa e
proposital ideia de que o louco passa a falar ao psicanalista, o que
vemos é a razão exercendo poder sobre a loucura, como se a tudo que o
louco estivesse falando houvesse o julgamento da razão. Um julgamento
moral. Superar a autoridade psiquiátrica seria superar a razão. Para
Foucault, apenas alguns artistas conseguiram tal feito.
Outro pensamento do autor está ligado a
normatização. Para ele, na sociedade moderna, o domínio que exerce o
poder não é a lei, mas sim a norma, produzindo condutas, gestos e o
próprio indivíduo. Pergunta-se: O quanto sente-se oprimido pela lei? Por
outro lado, quanto sente-se oprimido pela norma? Por ser julgado por
atos anormais? Sendo assim, o poder tem por alvo a regulação da vida dos
indivíduos através do poder disciplinar e biopolítico.Trata-se do poder
disciplinar aquele que busca aumentar o efeito útil do tempo/trabalho.
Agindo sobre o humano, este poder exerce a arte da distribuição espacial
afim de receber melhores resultados, já que distribuídos os homens mais
fácil o controle dos mesmos. O controle sobre o desenvolvimento da
ação, não apenas do resultado, fato que está intimamente ligado a
distribuição espacial. Vigilância constante que permitam o melhor
aproveitamento do tempo útil e garantir a disciplina. O registro
contínuo, para que todas as informações cheguem ao cume da pirâmide, aos
olhos que tudo veem.
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Em O Clube dos Cinco é possível
ver o processo de normatização
e vigilânciana escola. |
É mais comum pensar em tal normatização na vida trabalhista, mas ela
está em todos os momentos do homem. Pense na distribuição espacial
escolar, organizada como efeito de controle dos alunos: os corredores, o
pátio, a sala de aula onde os alunos voltam-se enfileirados ao mestre
de sala, hierarquicamente. Perceba que não apenas os resultados são
controlados na escola, mas também o valor da ação, onde o melhor é
premiado e o pior serve de chacota à normatização promovida pelos que
não sentem ser também vítimas dela, os demais alunos. A vigilância é
constante, promovida desde a sala de aula, pelo professor, ao topo da
pirâmide, a direção, garantindo a disciplina. E o registro contínuo que
garante todas as informações dos alunos. Foucault diria, então, que a
escola funcionaria como o exército, hospitais e prisões, outros exemplos
do pensador para explicar a temática. A esses poderes são chamados de
“microfísica do poder”.
À normatização Foucault explicitará outro de seus temas, a história
da punição. Dirá que antes do século XVIII o criminoso era punido em
praça pública, aos olhos dos demais para que se obtivesse a disciplina.
Após o século mencionado muda-se o modelo. O aprisionamento torna-se o
método, o instrumento. Ao invés de esquartejar o corpo, este passa a ser
objeto de controle da sociedade. O corpo passa a ser sujeito ao poder.
As penas passam a ser supostamente proporcionais aos atos criminosos,
tornando-se “ato administrativo do Estado”. O direito de punir
desloca-se da vingança do soberano à uma também suposta defesa da
sociedade. Normatizando a ideia de humanização das penas.
Para nosso pensador em questão não trata-se de humanização, e sim uma
estratégia de remanejamento do poder de punir a fim de aumentar seus
efeitos, diminuindo seus custos econômicos e político, principalmente. O
sistema penal que se forma é consequência da sociedade reguladora e
disciplinada que estava começando a surgir. Sendo assim diria ele:
Essa vigilância funcionaria como um panóptico, onde há a função de
“induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade
que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer com que a
vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em
sua ação (…) o sucesso do poder disciplinar se deve sem dúvida ao uso de
instrumentos simples: o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e sua
combinação com o exame.”. Em outras palavras, há sempre a impressão de
vigilância sobre o vigiado, mesmo que não esteja sendo feita
regularmente mas que, através da punição e normatização das condutas,
cria a impressão de um suposto olho que tudo vê. Como se dentro de nós
houvesse o ser vigilante, controlando-nos.
Ufa, vamos a lista !
– Laranja Mecânica
Em uma desolada Inglaterra do futuro, a violência das gangues juvenis impera, provocando um clima de terror.
Alex
(Malcolm McDowell) lidera uma das gangues e, após praticar vários
crimes, é preso e submetido à reeducação pelo Estado, com base em uma
técnica de reflexos condicionados.
Quando
ele volta à sua vida em liberdade, é perseguido por aqueles que foram
suas vítimas, Mr. Alexander (Patrick Magee) e sua esposa.
Direção: Stanley Kubrick
Ano: 1971
País: Reino Unido
– Um Estranho no Ninho
Randle Patrick McMurphy, um prisioneiro, simula estar insano para não
trabalhar e vai para uma instituição para doentes mentais, onde estimula
os internos a se revoltarem contra as rígidas normas impostas pela
enfermeira-chefe Ratched, mas ele não tem ideia do preço que irá pagar
por desafiar uma clínica “especializada”.
Direção: Milos Forman
Ano: 1976
País: E.U.A
– Os Incompreendidos
Os Incompreendidos (Les quatre cents coups) é um filme francês de 1959,
do gênero drama, dirigido por François Truffaut. O filme narra a
história do jovem parisiense Antoine Doinel, um garoto de 14 anos que se
rebela contra o autoritarismo na escola e o desprezo dos pais Gilberte e
Julien Doinel. Rejeitado, Doinel passa a faltar as aulas para
freqüentar cinemas ou brincar com os amigos, principalmente René. Com o
passar do tempo, as censuras o direcionarão, vivenciará descobertas e
cometerá delitos em busca de atenção.
Direção: François Truffaut
Ano: 1959
País: França
– Eu Sou um Cyborg, Mas Tudo Bem …
Cha Young-goon (Lim Su-Jeong) é hospitalizada numa clínica psiquiátrica,
por acreditar que é uma ciborgue. Ela recusa toda a comida que lhe
oferecem, preferindo carregar as “baterias” através de um transistor.
Cha usa a dentadura da avó e fala com todos os aparelhos eletrônicos.
Mas seu caso não é o único: ela está rodeada de pacientes que têm
interlocutores imaginários. Quando o belo e anti-social Park Il-Soon
(Rain) é internado, tudo muda para ela. Não leva muito tempo para que
eles se envolvam, mas a saúde da menina piora cada vez mais.
Direção: Chan Wook Park
Ano: 2006
País: Coréia do Sul
– O Gabinete do Dr. Caligari
Num pequeno vilarejo da fronteira holandesa, um misterioso hipnotizador,
Dr. Caligari (Krauss), chega acompanhado do sonâmbulo Cesare (Veidit)
que, supostamente, estaria adormecido por 23 anos. À noite, Cesare
perambula pela cidade, concretizando as previsões funestas do seu
mestre, o Dr. Caligari
Direção: Robert Wiene
Ano: 1920
País: Alemanha
– Uma Página de Loucura
O filme conta a história de um marinheiro que se emprega como faxineiro
em um manicômio para libertar sua esposa, que fora internada após uma
tentativa de suicídio depois de ter afogado seu filho. Sem o uso de
intertítulos e através de um sequência impressionante de imagens, é
apresentada uma visão do mundo pelos olhos dos doentes mentais. Dado
como perdido por mais de 40 anos, o filme foi recuperado pelo diretor em
1971, por uma cópia encontrada escondida em um vaso no galpão de seu
jardim.
Direção: Teinosuke Kinugasa
Ano: 1926
País: Japão
– O Incrível Exército de Brancaleone
No ano 1.000 D.C., um bravo cavaleiro parte da França para tomar posse
de suas terras. No caminho, ele é assaltado e assassinado por um bando
de foras-da-lei que, de posse da escritura, decidem pegar por si o
terreno. Para isso, eles precisam de alguém que finja ser o cavaleiro e
acabam encontrando a pessoa perfeita no atrapalhado Brancaleone de
Nórcia. Começa aí uma longa jornada, onde Brancaleone e seus homens
enfrentam os mais diversos perigos.
Direção: Mario Monicelli
Ano: 1966
País: Itália
– 1984
Winston Smith (John Hurt) é uma figura trágica que se atreveu a se
apaixonar numa sociedade totalitária onde as emoções são ilegais.
Direção: Michael Radford
Ano: 1984
País: Reino Unido
– A Caça
Lucas acaba de dar entrada em seu divórcio. Ele tem um novo emprego na
creche local, uma nova namorada e está ansioso pela visita de natal de
seu filho, Marcus. Mas o espírito de natal desaparece quando Klara, uma
aluna de cinco anos de idade, faz uma acusação de abuso sexual contra
Lucas, o que desencadeia o ódio de toda a comunidade em que ele vive.
Direção: Thomas Vintterberg
Ano: 2012
País: Dinamarca
– Clube dos Cinco
Em virtude de terem cometido pequenos delitos, cinco adolescentes são
confinados no colégio em um sábado, tendo de escrever uma redação de mil
palavras sobre o que eles pensam de si mesmos. Apesar de serem pessoas
bem diferentes, enquanto o dia transcorre passam a aceitar uns aos
outros e várias confissões são feitas entre eles.
Direção: John Hughes
Ano: 1985
País: E.U.A
– Metropolis
O ano é 2026, a população mundial se divide em duas classes: a elite
dominante e a classe operaria; esta condenada desde a infância a habitar
os subsolos, escravos das monstruosas máquinas que controlam a
metrópolis. Quando o filho do criador de Metrópolis se apaixona por
Maria, a líder dos operários, tem inicio a mais simbólica luta de classe
já registrada pelo cinema.
Direção: Fritz Lang
Ano: 1927
País: Alemanha
– As Pequenas Margaridas
Utilizando-se de avançados efeitos especiais para a época, Vera
Chytilová dirigiu esta obra surrealista que conta a história de duas
garotas chamadas Marie, que decidem se adequar ao mundo como ele está:
sendo depravadas. Portanto, ambas partem para uma série de encontros
forjados e travessuras, desconstruindo o mundo ao seu redor.
Direção: Vera Chytilová
Ano: 1966
País: Tchecoslováquia
– Ensaio de Orquestra
Numa capela romana, agora um oratório, músico, chegam para um ensaio,
Eles são avisados que estão sendo gravados por uma rede de TV. Então o
maestro alemão chega, impondo ordem aos gritos. Durante um breve
intervalo o maestro concede uma entrevista aos jornalista. Quando volta ,
encontra sua orquestra em estado de revolta. Será o fim? 0 que os trará
de volta à música? Ensaio de orquestra é a homenagem do mestre Federico
Fellinni à arte da música, uma das paixões de sua vida. Fundamental
tanto para músicos como para cinéfilos, o filme traz a última das muitas
trilhas sonoras que o genial Nino Rota compôs para Fellini.
Direção: Federico Fellini
Ano: 1979
País: Itália
– KES
Um dos primeiros filmes da carreira do consagrado diretor Ken Loach, Kes
conta a história de um menino que vive em bairro pobre da cidade que,
violentado em casa e ridicularizado na escola, acha uma forma de
abstrair de sua dura realidade treinando um falcão. Poética e singela
obra de formação do cineasta que posteriormente realizou obras-primas
como Terra e Liberdade e Pão e Rosas.
Direção: Ken Loach
Ano: 1969
País: Reino Unido
– M, O Vampíro de Dusseldorf
Um misterioso infanticida leva o terror a Dusseldorf. A polícia local
não consegue capturar o serial killer então um grupo de foras-da-lei se
une para encontrar o assassino. Capturado pelos marginais, ele é julgado
por um tribunal de criminosos e é acusado de ter quebrado a ética do
submundo.
Direção: Fritz Lang
Ano: 1931
País: Alemanha