Era uma vez uma menina. Não era uma menina deste tamanhinho. Mas também
não era uma menina deste tamanhão. Era uma menina assim mais ou menos do
seu tamanho. E muitas vezes ela tinha vontade de saber que tamanho era
esse, afinal de contas. Porque tinha dias que a mãe dela dizia assim:
- Helena, você já está muito grande para fazer uma coisa dessas. Onde já
se viu uma menina do seu tamanho chegar em casa assim tão suja de ficar
brincando na lama? Venha logo se lavar.
Que já era bem grande.
Mas às vezes, também, o pai dizia assim:
- Helena, você é muito pequenina para fazer uma coisa dessas. Onde já se
viu uma menina do seu tamanho ficar brincando num galho de árvore tão
alto assim? Desça já daí. Se não, você pode cair
Ai Helena achava que era mesmo uma bebezinha que não podia fazer nada sozinha.
E era sempre assim. Na hora de ir ajudar no trabalho da roça, ela era
bem grande. Na hora de ir tomar banho no rio e nadar no lugar mais
fundo, ela ainda era muito pequena. Na hora que os grandes ficavam de
noite conversando no terreiro até tarde, ela era pequena e tinha que ir
dormir. Na hora em que espetava o pé com um espinho e queria ficar
chorando no colo de alguém, só com dengo e carinho, sempre dizia que já
estava muito grande para ficar fazendo manha. Se ela tivesse um espelho
mágico, que nem rainha madrasta da Branca de Neve, bem que podia
perguntar:
- Espelho meu, espelho meu, que tamanho tenho eu?
Ana Maria Machado
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