Dias atrás postei aqui um artigo onde comentava algumas
expressões que me pareciam totalmente campinenses ou paraibanas. Penso nelas
assim porque foi em Campina que as ouvi pela primeira vez, e muito pouco em
outros lugares. Muitos leitores, de outros Estados, demonstraram conhecê-las há
muito tempo, tê-las como típicas de sua região de origem. Serão brasileiras por
inteiro? Serão uma compreensível assimilação da fala nordestina, a região que
mais exporta falantes para o resto do Brasil? Não dá pra saber, mas aqui vão
outros exemplos do meu Dicionário da Fala Paraibana.
“Andar de urubu baleado”: Um andar oscilante, sestroso e
artificial, com as pernas meio arqueadas, usados por "playboys" de
subúrbio ou por malandros de zona. "De vez em quando a gente está por ali,
tomando uma cervejinha, aí de repente chega Fulano, com aquele andar de urubu
baleado, usando óculos escuros de noite e mastigando um palito." Variante: “Andar de urubu cangueiro”.
“Dar ponto”: Aprovar. “Ih, rapaz, dei ponto a essa sua
camisa! Muito bonita!” “Dei ponto à
atitude de Fulano, eu não esperava outra coisa dele”. Também se usa, no sentido passivo, “ganhar” e “perder
ponto”. “Fulano ganhou ponto comigo
depois daquele discurso que ele fez”.
“Tome cuidado, que toda vez que você faz uma besteira como essa você
está perdendo ponto com a família de sua noiva.” Equivalentes: “Dar valor”,
“Dar o maior valor”.
“Salvou-se uma alma!”: Exclamação irônica que se usa quando
acontece um fato inusitado, geralmente uma boa ação praticada pela pessoa menos
provável. “Minha gente... Salvou-se uma
alma! Olha Fulano pagando uma conta!” A
origem é a crença popular de que cada vez que alguém na Terra pratica uma ação
nobre, uma alma do Purgatório recebe anistia e sobe ao Paraíso.
“Todo penso é torto”: Usa-se para bloquear a argumentação de
alguém que começa dizendo "Eu pensei que..." ou "Eu penso
que..." “-- Eu pensei que era
melhor a gente marcar uma reunião pra discutir o assunto. -- Todo penso é torto! Daqui que a gente
faça a reunião, a coisa já está fora de controle.” "Penso" é uma contração irregular, equivalente a
"pendido", cambaio, coisa que está em desnível, pendendo para um
lado: "Essa mesa ficou pensa, o
sr. vai ter que diminuir um pouco os pés deste lado." O sentido imediato da frase é: "Aquilo
que é apenas pensado é imperfeito."
“Roer a corda”: O mesmo que “bater pino”, voltar
atrás, desistir ou “furar” na hora H.
“Já estava tudo pronto pra gente viajar, mas na última hora Fulano roeu
a corda e a gente ficou sem carro”. Tem
ligação com a imagem de um animal amarrado que rói a corda que o prende, e
foge.
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
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