A
palavra "golpe" voltou à moda. Também quero empregá-la. A dupla Teori
Zavascki-Rosa Weber e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
escreveram a seis mãos o mais improvável dos roteiros do golpe contra as
instituições. Entregue a Hollywood, seria devolvido por inconsistência
narrativa. Os nossos vizinhos portenhos, que conseguem fazer sequências
de até meia hora sem um único palavrão, se negariam a levar às telas a
chanchada fescenina –não que eles sejam muito melhores na hora do voto.
Não
foi falta de aviso, acho! Palmas para o jornalismo engajado de
esquerda, de direita e de encomenda! A Operação Lava Jato fatiou –foi
ela, não o Supremo– o petrolão sob o pretexto de que era preciso
enforcar na 13ª Vara o último empreiteiro com a tripa de outro
empreiteiro. Dos políticos, encarregar-se-ia o Supremo. É mesmo? Eis aí.
Poucos
se deram conta de que essa narrativa era essencialmente mentirosa
porque negava a evidência de que a ação criminosa tinha um eixo, um
propósito, uma centralidade, um comando. Ou por outra: o petrolão, a
exemplo do mensalão, é o braço operacional de um projeto político,
liderado pelo PT, de que Dilma é a expressão presente.
E
foi essa informação que a Lava Jato sonegou desde sempre dos
brasileiros. Nunca antes uma retórica jacobina foi tão servil à
manutenção do velho regime! Ah, os incendiários da reação!!!
Quantas
vezes estranhei aqui e em toda parte que Eduardo Cunha tivesse se
transformado na principal figura do petrolão? Ele pode ser culpado de
tudo e de um pouco mais. Mas personagem principal??? É bizarro!
Essa
farsa tem autoria: Janot, a quem parabenizo pelo golpe, e o Ministério
Público Federal. Desde o começo, eles têm demonstrado um rigor exemplar
com o presidente da Câmara, tanto quanto parecem ter relaxado, para ser
suave, a atenção com Renan Calheiros (PMDB-AL).
A
condução da investigação criou a farsa de que são dois os litigantes:
Dilma e Cunha. Ela na posição de vítima, e ele na de vilão; ela como a
virgem pálida de um romance de Alexandre Herculano, e ele como o
invasor, brandindo a espada sarracena, tentando assaltar o palácio. É de
dar nojo!
Faltava
a colaboração dos dois ministros do Supremo. As liminares concedidas
por Teori e Rosa contra parte do rito clarificado –e não inventado– por
Eduardo Cunha para a tramitação das denúncias (e não do impeachment)
contra Dilma entrarão para a história do direito como um dos maiores
exotismos já produzidos pela Justiça. Ninguém entendeu nada. Nem mesmo
está claro a que princípio constitucional atendem. É um vexame!
O
que a dupla fez foi cassar uma prerrogativa da oposição –além de
declarar sem efeito o Regimento Interno da Câmara–, conferindo a Cunha
superpoderes que fazem dele, agora sim, o supernegociador do mandato de
Dilma. Pode negociar, por que não?, também em causa própria se quiser.
Deram-lhe a chave do quarto da virgem pálida.
Rosa
e Teori juntaram petrolão e pedalada num abraço insano, contra o
Brasil. O roteiro do golpe, que preserva o mandato de Dilma, pune alguns
empreiteiros, transforma a Petrobras em vítima e mantém intocada a
estrutural estatal que convida à reiteração do crime, já está escrito.
A questão é saber se os brasileiros aceitarão, mais uma vez, o papel de bananas.
Reinaldo Azevedo
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