(...) Ariano guarda surpresas desde sempre. A última ele deixou na Editora José Olympio, no Rio, no formato do livro: O jumento sedutor. Vem aí uma obra-prima, na avaliação, (suspeita, é bem verdade), do escritor Raimundo Carrero, autoproclamado filho intelectual de Ariano. Daí a suspeição. O jumento sedutor é o derradeiro escrito de Ariano, mexido e remexido ao longo de muitos anos, seguindo a lição das lavadeiras de antigamente, ensaboa a roupa, bate na pedra, molha outra vez, espreme, bota no quarador, lava de novo, bate na pedra, enxágua etc. etc., como ensinou Graciliano Ramos. Tanto é assim que duas vezes Ariano pediu de volta da Editora o calhamaço. E duas vezes, burilou o texto, cortou e aduziu palavras e desenhos. Isso mesmo, o livro está recheado de gravuras feitas pelo próprio Ariano. No capricho.
Afinal, o livro trata de quê?
Uma Revelação, diz Carrero, depois de ler os originais. “Não é uma novela, não é também um romance, por aquilo que supera em muitos pontos o que se diz numa obra de ficção, com os seus seres transtornados, felizes e as almas sacrificadas. É mesmo uma Revelação ao trazer o espírito vivo, mágico, grandioso do verdadeiro Brasil”. Construído numa mistura de técnicas narrativas, de símbolos, metáforas, com gente e jeito de circo e do romanceiro popular, tudo carregado de vida, amor e morte.
O imortal viajou com a Onça Caetana na garupa, ela disfarçada de uma fêmea,
entre delírios e prodígios a lhe exibir agressivamente os peitos. E ele,
fascinado, beija-os, e, ao mesmo tempo em que os morde, é picado pela
cobra-coral, enrolada feito um colar úmido no pescoço da Moça Caetana.
Então, ele é fulminado nos estremeços obsenos da morte. Assim se foi entre o
gozo e a morte, a estremecer todo, cerrando os dentes, abrindo e fechando a boca
no espasmo do Gavião.
Por Francisco Frassales Cartaxo
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