“Tás louca”. O pseudo argumento de nove entre dez homens quando as
mulheres têm razão. (Karina Jucá, de Belém do Pará, no Facebook)
Quando acaba a decência e a razão machista encurta, só nos resta, acuados,
chamar a mulher de louca. Quantas vez não me peguei nesse jogo sujo, assumo.
Quando o menino desatina, a louca é sempre a menina.
Quando estamos à beira do hospício, amarrados com as cordas do agave do velho
Erasmo de Roterdam, rumo ao Santa Tereza do Crato, rumo a Itapira ou Barbacena,
só nos resta berrar: só pode estar louca essa peste!
Quando somos pegos com a boca na botija e nada justifica o vacilo, só nos
resta um indignado, indignadíssimo, você tá louca?
Quando ela realmente está louca de amor e não correspondemos, só nos resta
dizer “você confundiu as coisas”, você tá louca.
Quando ela dança com outro e diz que é sem compromisso, até o Chico alerta,
no seu belo lirismo: não faça papel de louca, para não haver bate-boca dentro do
salão…
Quando ela realmente fica pirada, de tanto ser chamada de maluca, só nos
resta, porcos chauvinistas, nos dizermos donos da razão histórica: “Bem que eu
falei que você é louca de pedra, bem que eu falei…”
Quando ela enche o saco e vai embora, só nos resta chorar as pitangas,
ouvindo um Waldick Soriano ou um Leonard Cohen na radiola. No que o garçom tenta
nos confortar, com drinque caubói e a conclusão de sempre: “Mulher é tudo louca,
amigo, não tem explicação, relaxa”.
Quando…
Quando ela enche, vai com outro e nos enfeita a fronte do artista, quem dera
tivéssemos feito ela cantar mais vezes “me deixas louca” -em vez de reclamar da
sua bela falta de juízo.
Xico Sá
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