Existem certos autores que não perdem a capacidade de falar aos pósteros
de forma sempre atual, mesmo que se passem anos. Alguns textos de Machado de
Assis e Eça de Queirós, por exemplo, guardam frescor e atualidade, embora
tenham sido escritos há mais de um século.
Vejo outros
escritores portugueses, como Miguel Sousa Tavares, escreverem com mais
dependência a seu tempo do que Queirós ou José Saramago – outro que não deve
perder o vigor de seus escritos com o passar do tempo.
Mais inusitado
ainda é ler as cartas do filósofo romano Sêneca enviadas a seu amigo Lucílio
durante o século inicial da era cristã. São textos que tratam de temas variados
e devem ter sido redigidos entre 63 e 65 d.C. O título das cartas é “Aprendendo
a viver” em uma edição da L&PM.
Em seu manual sobre a vida, Sêneca nos dá grandes lições a respeito de
questões essenciais. A primeira delas refere-se ao tempo, tema que muito me
agrada. Para Sêneca, é lamentável perder tempo por negligência, já que o tempo
que já passou pertence à morte.
Em sendo um bem
escasso e que não é suficiente nem mesmo para as coisas necessárias, o tempo
não deve ser gasto com coisas supérfluas. Para Sêneca, isso é um absurdo. Ele
diz ainda que a velocidade do tempo é infinita, em especial quando olhamos para
trás.
Sempre ouvimos os
mais velhos falarem que as coisas acontecem rápido demais e que parece que foi
ontem que um filho adulto nasceu ou algo assim. Ao refletir sobre isso,
lembro-me que Chico Xavier afirmou que o maior arrependimento dos espíritos no
Além é pelo tempo perdido, gasto de forma não relevante.
Considerando Sêneca
e Chico Xavier, depreendo que o tempo gasto de forma consequente contribui para
uma vida melhor após a morte, e que o tempo gasto de forma inconsequente será
um peso mais adiante.
Enfim, Sêneca
considera que o único bem que o indivíduo tem é o seu tempo, que é fugaz e
escorregadio. Escorre pelas mãos, como disse Lulu Santos. A solução para lidar
com bem tão perecível é lançar-se ao presente e ser menos dependente do amanhã.
Penso que lançar-se
ao hoje com intensidade e energia é a melhor maneira de fugir da morte. Até
mesmo considerando o dia uma pequena vida que deve ser planejada, com seu
começo, meio e fim.
A questão posta por
Sêneca não deve ser considerada uma ode aos workaholics e sim um alerta sobre
como devemos usar nosso tempo, hoje. Nem que seja no ócio, ou em leituras, em
viagens, no trabalho e nos estudos.
Finalizando, com
Sêneca: vive quem é útil a si e ao próximo. Aqueles que se entorpecem, ainda
que vivos, vivem em casa como se estivessem em sepulturas.
Murillo de Aragão é cientista
político
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