segunda-feira, 7 de abril de 2014

Lugar ideal

Um homem resolve fugir da cidade grande em que vive e padece. Bota família e bagagem num carro e ruma para... Para onde? Ele não sabe. Vai para o interior do país. Depois para o interior do interior do país. A família se impacienta. Aonde ele quer chegar?
 
A cada cidadezinha que passam, a mulher pergunta “É aqui?” e o homem diz “Não”. A cada lugarejo que cruzam, as crianças, esperançosas, perguntam. “Aqui não serve?” e o homem diz “Não”. E continua a viagem, rumo ao interior do interior do interior do país. Até que entram numa cidade minúscula, uma cidade de um poste só. E o homem declara: “É aqui que nós vamos morar!”
 
A família não entende. O que aquela cidade tem de especial? Por que logo ali? E o homem responde:
 
— Vocês não notaram?
 
— O quê?
 
— Os cachorros correndo atrás do carro! Aqui cachorros ainda correm atrás de carros! É aqui que nós vamos ficar!
 
Em outra versão da mesma história, o homem à procura de um lugar perfeito para morar chega numa cidadezinha no interior do interior do interior do interior do país, entra no único bar da cidade e pede:
— Uma Coca-Cola, por favor.
 
E o dono do bar pergunta:
 
— Uma o quê?
 
— É AQUI! — grita o homem.
 
(Na verdade, como adepto da Coca diet, meu ideal não seria o mesmo do nosso hipotético buscador. Mas entendo a sua alegria.)
 
Numa lista recém-publicada de países ideais para se viver, o primeiro lugar foi para a Nova Zelândia, seguida da Suíça, da Islândia e da Holanda. Neozelandeses, suíços, islandeses e holandeses morariam nos melhores lugares do mundo, julgados, eu suponho, pelo parâmetro algo impreciso da “qualidade de vida”.
 
Imagino que não entre na cotação o grau de chateação cotidiana nesses paraísos, o que desclassificaria pelo menos três dos quatro. Só se salvaria a Holanda, onde a tolerância com o comportamento individual dos cidadãos em matéria de sexo e drogas é, no mínimo, uma garantia contra o tédio. Pois deveria contar pontos na avaliação dos lugares ideais para se viver o quesito “o que fazer nos sábados à noite”.
 
Luis Fernando Veríssimo é escritor.

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